quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Tempero da Vida",
Capa do DVD
Este filme é inesperadamente lindo, delicado nos mínimos detalhes, cheio de símbolos ligando a própria vida aos planetas, às estrelas, à comida bem preparada, aos temperos, aos aromas, à canela, às almôndegas e todo o enredo da sua temática está também regada por uma trilha musical de bom gosto ao fundo.
É uma história aparentemente simples:
Um menino cresce na cidade de Istambul conduzido pelas mãos de uma linda relação com seu avô, um filósofo carismático, sensível e ótimo cozinheiro, que transmite ao neto várias mensagens aplicáveis à vida e cultiva nele o gosto para a arte de cozinhar.
Cena do filme, quando o avô vai compartilhando seu amor pela cozinha para o neto.
O avô diz ao garoto que assim como uma boa comida precisa do sal e dos exatos condimentos, a vida reclama também por temperos e bons cuidados.
No filme, por causa da guerra, a família do garoto é deportada da Grécia e vai para a Turquia.
Assim, o garoto Fanis cresce longe de suas origens, guardando toda a memória carinhosa e mágica do avô, das lembranças de sua casa e da garotinha que amou durante toda a infância e com a qual, durante anos, continuou escrevendo cartões, perfumados com os condimentos da culinária.
Os anos se passam e Fanis Iakovidis agora é um conhecido professor de astrofísica na Grécia.
Com 40 anos de idade ele chega a um momento decisivo de sua vida e resolve voltar à Turquia.
Vai ver o avô morrendo, numa linda cena no hospital em que o velho já quase sem consciência apenas move os dedos para mostrar-lhe de novo como se temperava delicadamente a comida e a vida.
Ele ainda visita a sua casa da infância, o sótão onde foi criado com o avô e reencontra-se com seu grande e maior amor.
É um filme com todos os ingredientes e temperos.
Fala de todos os gostos da vida, doce ou ardente, da pimenta picante, do sal e, enfim, de idas e partidas.
Temos de tudo neste filme, tão cheio de símbolos: rupturas, promessas, separação, perda, reconfiguração familiar, lugares e comidas, presenças e ausências, família e amor.
O Tempero da Vida traz ainda alguns informes sobre a cultura turca e relaciona assim todos os temperos com o nosso dia-a-dia.
Há, acima de tudo, o conflito de identidade da família Iakovidis, no meio do caminho entre a cultura grega (na qual nasceram) e a cultura turca (que adotaram).
O choque - e uma possível coexistência de valores - aparece inclusive em termos religiosos: o pai de Fanis, a certa altura, tem a chance de permanecer na Turquia, desde que abandone a Igreja Ortodoxa e se converta ao Islamismo.
A direção de Tassos Boulmetis é perfeita, de extremo bom gosto na composição de todos os detalhes do filme. Fora da lista de filmes renomados, o filme é imperdível para quem gosta do bom cinema.
De alguma forma, o filme, em suas paisagens de mesas recobertas de pratos de comidas de dar água na boca, lembra-nos “A Festa de Babete”, com um íntimo jantar com sofisticados pratos preparados com prazer e saboreados como um brinde à amizade ou então à fábula “Chocolate”, onde a forasteira Juliette Binoche acrescenta condimentos afrodisíacos aos bombons de chocolate, estimulando a liberação do comportamento das pessoas.
Há também “Como Água para Chocolate”, onde emoções fortes e profundas emergem como erupções do coração.
Mesmo assim, o filme parece carregado de originalidade por estar num contexto de reflexões ainda mais aprofundadas sobre a própria vida.
Preste atenção desde o início ainda na delicada beleza da cena de abertura do filme.
http://www.paulocannizzaro.com.br/
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