sábado, 18 de janeiro de 2014
Os muitos poderes do inhame
SONIA HIRSCH
Santo de casa não faz milagre, mas não custa tentar.
O santo: inhame, aquela batatinha que por fora é marrom, cabeludinha e, por dentro, branca e viscosa.
A casa: qualquer uma neste Brasil imenso, pois o inhame é nativo e dá em qualquer grotão, qualquer barranco úmido.
Em primeiro lugar, serve para comer e é gostoso.
Compete com a batata, que não existia aqui na época do Descobrimento e foi trazida pelos europeus.
Tudo o que ela faz, ele faz também.
Sopa, purê, rodelas fritas, camadas que se alternam com berinjela para gratinar no forno, e mais: o inhame é tão feculento que substitui a farinha no preparo de empadões, empadinhas e massas de torta em geral.
Basta cozinhar, amassar, temperar com sal e ajustar na fôrma untada.
Ou ralar, cru, temperar e misturar com um pouquinho de farinha de milho para fazer bolinhos, muffins e outras guloseimas.
Junto com esse primeiro lugar, que é comer, vem uma vantagem enorme sobre qualquer outro tubérculo (batatas em geral, mandiocas, inhames do Norte, cará).
É que o inhame limpa o sangue, fortalece o sistema imunológico e protege de infecções transmitidas por mosquitos, como dengue, malária e febre amarela.
Não evita a picada, mas impede que os micróbios infectantes se instalem e proliferem.
As picadas não coçam nem inflamam.
Isso já foi comprovado cientificamente, e empiricamente nem se fala, tanto que o inhame sempre foi utilizado pela farmacopéia brasileira até mesmo como coadjuvante nos tratamentos de infecções poderosas, como a sífilis.
Bem.
Em segundo lugar, o inhame tem uma propriedade única: aplicado externamente, puxa para fora o que incomoda o corpo.
Pode ser uma farpa ou um cisto, gaze esquecida na cirurgia, inflamação nos tendões, furúnculo, hemorróida, artrite e reumatismo, eczemas de qualquer tipo.
Baixa a febre, trata queimaduras, desinflama cicatrizes, elimina o sangue pisado das contusões e o pus de abcessos e tumores...
Mas como ninguém sabe disso?, interrompe aquela senhora, perplexa.
Elementar, querida: não vende em farmácia, não aparece na TV.
Faz parte de um acervo cultural que a humanidade vai perdendo enquanto se acostuma a ter tudo em caixinha e com bula. No entanto, sua eficácia pode ser comprovada com a maior facilidade, basta comprar na feira e usar - está na época.
Para fazer o emplastro que puxa tudo, descasque o inhame, rale na parte mais fina do ralador, misture com 10% de gengibre, também ralado, e um pouquinho de qualquer farinha ou amido para dar liga. Aplique no local afetado uma camada bem grossinha, de um dedo, cobrindo com uma gaze e deixando agir enquanto estiver úmido.
Vá trocando o emplastro duas ou três vezes por dia até obter o resultado, que em geral é rápido.
Como, minha senhora?
Unha encravada?
Taí um milagre que esse santo faz brincando.
O emplastro desencrava qualquer unha em 24 horas, no máximo 48, eliminando totalmente a inflamação e deixando-a normalzinha de novo.
Para cistos no seio, e mesmo tumores que serão retirados, a aplicação do emplastro durante duas semanas é extremamente útil: se não fizer desaparecer o problema, junta toda a matéria semelhante num só local e evita escarafunchações cirúrgicas desnecessárias.
Mas não acredite em nada disso.
Experimente, veja, sinta.
Aí, se achar justo, prestigie o santo: tenha sempre inhame em casa, coma e ame!
Por Sonia Hirsch,
jornalista e pesquisadora, autora de livros sobre culinária natural, alimentação e saúde.
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