FORTIFICANDO A CASA
sábado, 29 de maio de 2010
Dia de Faxinar,Dia de Aprimorar!
“E aí, meu filho, como é que vão as moda?”, me pergunta a sorridente Francisquinha, minha faxineira-anjo da guarda, que já chega bendizendo a casa:
FORTIFICANDO A CASA
“Pai Nosso pequenininho te guie por um bom caminho, sete anjos te acompanhem, sete luzes te iluminem. Nosso Senhor é seu padrinho!”
Amém, nós todos!
Quando chega dona Francisca, até a tristeza pula de alegria!
Isso porque, enquanto ela capricha na faxina, também vai esparramando “sugerências” benfazejas: um raminho de margarida ou arruda, por trás da orelha, para espantar os “tristumes” e as mágoas; umas folhinhas de alecrim na água fervente para deixar a cozinha sem cheiros ruins; um chá de folhas de alface borrifado na roupa de cama para melhorar o sono; raminhos de mil-folhas debaixo do travesseiro para atrair sonhos inspiradores.
No dia de hoje, eu lhe pedi um “ramalhete de acolhimento” para todos se sentirem bem dentro da casa. “Só se for agora!”, Francisca me diz.
E reúne ramos de camomila (um calmante), melissa (que combate mal-estar) e mirra (que desperta o dom e libera mágoas antigas).
Para dona Francisca, “o que vale para o corpo vale para a alma!”.
Por isso, se a planta é um bom cicatrizante do corpo (como a calêndula), ela também cumpre a função de curar as feridas da alma, irradiando poder através de um belo ramalhete.
Se uma erva, como a hortelã, libera os intestinos, para dona Francisca ela também abre os caminhos da vida e, para isso, pode ser usada na água da faxina.
Se um chá (por exemplo, de arruda) é inseticida, ele dará um jeito não só nos insetos ruins mas, melhor ainda, nos maus pensamentos, quando esparramado pela casa com pano de chão.
Simples assim…
FORTIFICANDO A CASA
Primeiro a obrigação, depois a devoção?
Com dona Francisquinha, obrigação e devoção caminham juntas!
No dia da faxina, com os dedos calosos e a palma de mão curtida e engrossada pelo cabo da enxada, ela ainda arranja tempo de preparar um óleo para proteger a casa do caos da vida moderna: reúne ramos de alecrim e cipreste (fortificam a alma), pétalas de rosa (elevam), folhas de malva (laxativas, abrem caminhos) em partes iguais, em um recipiente de vidro.
Cobre tudo com óleo de amêndoa, deixa sob a luz do Sol e da Lua, sem tampar, por sete dias.
Depois, é só coar e pincelar a soleira e o marco das portas, a cabeceira das camas, o peitoril das janelas, a sola dos pés, atrás dos joelhos, os pulsos, o coração e a testa, orando assim:
“Espírito do Bem, desça sobre mim vossas bênçãos.
Fazei com que meu coração serene, minha visão clareie, meu espírito desanuvie, minha alma se alegre”.
Dona Francisca sabe o que diz!
Nunca freqüentou aulas de catedráticos, sempre labutou na roça, mas não foi por acaso que herdou das avós as sabedorias do cuidado.
“O acaso é a Providência Divina!”, ela me assegura.
E conta que descobriu por si que a canela, por alegrar e elevar os sentidos, traz proteção e paz, anulando o negativo.
Depois da faxina, ela borrifa um chá de canela pela casa.
MELHORANDO O CANSAÇO
Para encerrar o dia com chave de ouro, a comadre cisma de me ensinar uma garrafada antiestresse.
Eu, superocupado, sem querer querendo, aceitei o convite.
E lá fui macerar as ervas (sálvia e alecrim, 20 g de cada uma) para levar em banho-maria em um copo de vinho tinto.
Antes de ferver, retiro a mistura, côo em pano de algodão e depois reúno ao resto do vinho.
Toma-se um cálice por dia ou borrifa-se a casa (o vinho quase sem cor, diluído na água mineral), mantendo a mentalidade serena.
Ufa!
Enfim, mas não por fim, chegou a hora da comadre pôr o pé na estrada:
“Vou ali, volto já.
Vou apanhar maracujá.
Desculpe alguma coisa, meu filho”.
Ah, dona Francisquinha, eu pensei, o rio São Francisco corre de noite e de dia, só o tempo é que não corre sem a sua companhia…
Por Carlos Solano Arquiteto e escritor, autor de livros de Arquitetura e de Feng shui.
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