terça-feira, 22 de maio de 2012

‘Os humanos serão responsáveis por sua própria extinção’, entrevista com Nick Bostrom, professor da Universidade de Oxford

 


Segundo o professor de filosofia da Universidade de Oxford, Nick Bostrom, não são desastres naturais que vão acabar com a espécie
por Redação Galileu

Editora Globo
O professor Nick Bostrom acredita que, ainda neste século, precisamos encontrar ‘equilíbrio tecnológico’ // Crédito: Divulgação

A causa da extinção da humanidade?
Os próprios humanos.
Pelo menos é nisso que acredita o filósofo Nick Bostrom, professor em Oxford e diretor do Instituto do Futuro da Humanidade.
Ele argumenta que, por termos um longo histórico de sobrevivência em relação a desastres naturais, o perigo no momento (e no futuro) para a nossa espécie é apenas antropogênico, ou seja, é gerado por nós mesmos – para Bostron, na forma de nossas novas tecnologias.
Agora, em um momento de mudanças climáticas, essa ideia faz muito sentido.

Galileu conversou com Bostrom para entender de que forma estamos nos colocando em perigo com o desenvolvimento da humanidade que é, ao mesmo tempo, necessário para a continuidade da espécie. Confira:

Galileu: Em seus estudos você fala sobre o risco antropogênico de extinção da humanidade. Como isso poderia acontecer?

Bostrom: Acredito que os maiores riscos estão ligados aos avanços tecnológicos, principalmente os que dão aos humanos maiores poderes na hora de alterar o funcionamento natural do mundo, a biologia, por exemplo.
Quanto mais poderes temos, maiores as conseqüências.

Em relação às tecnologias atuais, quais poderiam causar essas graves conseqüências?

As mudanças climáticas são o exemplo mais atual.
Mas também acredito que há grande risco nas formas mais avançadas de biologia sintética, em armas que usam nanotecnologia e, sim, na superinteligência de máquinas que ainda serão desenvolvidas neste século.
Modificar o nosso próprio corpo, nossa capacidade, também é perigoso.
E, claro, também existe a categoria de perigos que ainda não foram descobertos, tecnologias e mudanças que nem sonhamos, por enquanto, que possam existir.

Então, com as mudanças climáticas, já estamos correndo um grande risco de extinção?

Não acredito que no momento o perigo seja tão grande.
Penso que as maiores ameaças virão no fim do século.
Mas é de extrema importância que comecemos a pensar em medidas preventivas ou, então, em como contornar os possíveis desastres depois que eles aconteçam desde já. Para isso, o momento é agora.

E o que nós podemos fazer para impedir essa progressão de eventos que pode levar a riscos que nós podemos nem conhecer? Como fazer essa prevenção?

Podemos fazer muito, tanto como indivíduos ou como sociedade.
Mas, como esses riscos são subestimados, ainda há poucos estudos que nos apontem um caminho certo. Uma coisa que já poderia estar sendo feita é a construção de um grande bunker, para que um contingente de humanos pudesse sobreviver a catástrofes nucleares, colapsos de nossa produção alimentar ou de riscos desconhecidos, com suprimentos para agüentar uma década.
Mesmo assim, acho que a maneira mais efetiva de reduzir esses riscos é pesquisá-los mais.

Por que subestimamos o risco de extinção antropogênica? Por que quando falamos em extinção sempre pensamos em um asteróide colidindo com a Terra, por exemplo?

Não sei, na verdade.
A história é cheia de prognósticos falsos de um apocalipse iminente.
E até hoje esses profetas nunca apontaram a humanidade como a causa direta do fim do mundo.
Ok, estamos falando de superstição e ciência, coisas distintas.
Mas essas profecias fazem com que os riscos de extinção de agora acabem parecendo bobos e distantes, deixando as pessoas indiferentes a eles.
A solução é separar a ciência da superstição, mas isso não é tão simples.
Nem a ciência consegue dizer ao certo o que pode acontecer com a gente, entende?
A ciência não pode fazer previsões mas, ao mesmo tempo, seria errado ignorar o que pode, ou não, acontecer conosco.

Mas enquanto as novas tecnologias podem ser a causa da nossa extinção elas são, ao mesmo tempo, a esperança da nossa sociedade para um modo de vida mais sustentável.
Como encontrar o equilíbrio entre o que é perigoso e o que é necessário?

Muitos dos riscos existentes para os humanos estão ligados à tecnologia, mas ao mesmo tempo não dá para ser contra o desenvolvimento tecnológico, com certeza.
Afinal, novas tecnologias vão ajudar a reduzir essas ameaças.
E, afinal, se pararmos de desenvolver a nossa sociedade, isso, por si só, será a causa de nossa extinção. Não podemos parar “no tempo”. Sim, encontrar esse equilíbrio é complicado.
Mas, ao mesmo tempo, existem tecnologias que, obviamente, só serão perigosas para nós, como armas biológicas.
É só usar a razão para ver que esse tipo de pesquisa deve ser impedido ou, no mínimo, atrasado.

Saiba mais sobre a pesquisa de Bostrom nos sites

Entrevista originalmente publicada na Revista Galileu .

EcoDebate, 18/05/2012

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