quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um grande amor

Stella estava sentada na sala.
Era inverno.
Mas o maior frio que ela sentia vinha de dentro.
Da alma.
Jamais ela sentira tanto medo da tempestade, dos ventos gelados e da chuva.
É que agora estava sozinha.
Seu querido David havia morrido há 3 meses.
Ela jamais poderia imaginar que sentiria tanto a sua falta.
Desde que o diagnóstico de câncer terminal chegara, ela se preparara para a morte dele.
Ele também.
Homem organizado, deixara toda a papelada em ordem.
Dinheiro não lhe faltaria para as necessidades.
Ele pensara em tudo.
Mas a ausência dele era terrível.
Ao terceiro toque da campainha, ela se levantou para atender a porta.
Antes, olhou pela janela, um pouco desconfiada.
Afinal, havia tantos assaltos.
Era um rapaz com uma caixa grande.
Viu o carro de entregas estacionado em frente ao portão.
Abriu a porta e o ar gélido entrou, tomando conta da sala inteira.
É a senhora Araújo? -perguntou o funcionário.
Ao sinal afirmativo de Stella, ele pediu licença para entrar e colocou a caixa no meio da sala.
Antes que pudesse indagar qualquer coisa, o entregador, jovial, foi explicando:
A senhora nos desculpe.
Era para entregar somente na véspera do Natal.
Porém, hoje é o último dia de expediente no canil.
Espero que a senhora não se importe.
Entregou-lhe um envelope, abriu a encomenda e retirou o presente: um filhote de cão Labrador.
A carta explica tudo, continuou o rapaz.
O cão foi comprado em julho, quando a mãe dele estava prenhe.
Ele tem seis semanas de idade e é um cão doméstico.
A senhora espere um pouco que vou buscar o restante da encomenda.
Largou o cãozinho e ele foi se sentar aos pés de Stella, fungando feliz e olhando para ela.
O restante da encomenda era uma caixa enorme de alimentos para cães, uma correia e um livro Como cuidar de seu cão Labrador.
Stella continuava parada, estática.
Acabara de reconhecer no envelope a letra de David.
Quando o entregador se foi, ela andou de volta até a sua poltrona.
Tremia inteira.
O cãozinho ficou ali, olhando-a ainda com seus olhos castanhos, à espera de um afago.
A carta não era longa mas repassada de carinho.
David a escrevera antes de morrer e a deixara com o proprietário do canil.
Era seu último presente de Natal.
Ele havia comprado o animal para lhe fazer companhia.
A carta era cheia de amor e lhe dava ainda conselhos e incentivo para que fosse forte, até o dia em que voltariam a ficar juntos, na espiritualidade.
Ela olhou para o cãozinho e estendeu a mão para o apanhar.
Segurou-o nos braços.
Pensou que fosse pesado, mas tinha o peso e tamanho da almofada do sofá.
O animalzinho de pelos castanhos lhe lambeu o queixo e se aninhou em seu pescoço.
Ela chorou de saudade.
Ele ficou ali, quietinho.
Então, criaturinha, aqui estamos você e eu.
O cachorrinho fungou, concordando, pondo sua língua rosada para fora.
Stella sorriu.
Então, vamos para a cozinha fazer uma sopa?
Vou lhe dar ração e depois leremos um bom livro, juntos.
Que acha?
O cãozinho latiu e abanou a cauda, como se tivesse entendido exatamente o sentido de cada uma das palavras.
E acompanhou Stella até a cozinha.

* * *
Na sua imensa sabedoria, Deus criou os animais para auxiliar o homem em suas tarefas, tanto quanto para lhe prover algumas necessidades.
Também para servir de amparo aos que andam sós, aos famintos de afeto.
Tornam-se muitas dessas criaturas, em sua missão de servirem ao homem, excelentes zeladores de vidas humanas.
Ao homem cabe amparar-lhes as vidas e retribuir-lhes com cuidados a atenção e devotamento.
São também eles a manifestação do amor de Deus na Terra.

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