sábado, 14 de setembro de 2013

Lúpus: exército combatendo a si mesmo




Minha maior tristeza é não estar em condições de sair de casa, nem fazer a maioria dos afazeres domésticos” (Roseana Campos, 30 anos, a cada três meses vai ao ambulatório fazer o
 tratamento junto com o marido, Marcos Campos)
A doença é marcada por inflamações em órgãos, como pele, rins e articulações.
Mesmo sem cura, fique atento, é possível conviver com ela se houver diagnóstico precoce

Dentre as funções do exército a nobre defesa da pátria se destaca como essencial.

Comparando o organismo humano com a nação, a atuação de um grupo de células em ordem de batalha contra o próprio corpo é exercida por uma divisão de soldados chamados anticorpos.

Com a falta de ordens claras, a tropa fica desorientada e começa a promover ataques ao próprio organismo.
A autodefesa é estratégia irregular de preservar o país de si próprio, da mesma forma o corpo
humano pode sofrer esses combates, surgindo as doenças autoimunes.

A principal dessas patologias é o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), popularmente
conhecido como lúpus.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que no Brasil são aproximadamente
65 mil pessoas convivendo com o problema.
Uma em cada 1,7 mil mulheres é acometida pela doença.

Por ser patologia crônica como diabetes, hipertensão, alergias, o LES necessita de

acompanhamento médico ao longo da vida.
O tratamento à base de corticoides (cortisona), pode trazer efeitos colaterais indesejados como a púrpura e equimose, que são hemorragias em baixo da pele e deixam manchas avermelhadas.

A doença apresenta fases com maior ou menor quantidade de sintomas, portanto, algumas
medidas são essenciais para prevenção de seu agravamento, entre elas, repouso adequado, alimentação balanceada, evitar condições que provoquem estresse, exposição solar ou claridade excessiva (uso de sombrinhas, chapéus e protetores solares), rigorosa medida de higiene
para evitar infecções, alimentos gordurosos, álcool e tabagismo.




O médico reumatologista Luiz Sérgio Guedes Barbosa pontua que os sintomas geralmente estão associados ao cansaço, desânimo, à febre baixa, perda de apetite e manchas roxas na pele
 (similares a hematomas)

Catalogado pela primeira vez na literatura médica no século 15, quando descrições de inflamações com semelhança a mordida de lobos foram encontradas em pacientes na Europa, o lúpus (lobo em latim) só foi descrito como doença no começo do século 20 pelo cientista canadense William Osler.


De acordo com o médico reumatologista Luiz Sérgio Guedes Barbosa, o principal desafio da comunidade médica atualmente é fazer o diagnóstico precoce, já que a doença pode se apresentar
de diversas formas, das quais a principal é a constante inflamação.

Apenas o Fator ou Anticorpo Antinuclear (FAN) não faz o diagnóstico, é preciso estar associado a outros sintomas, como cansaço, desânimo, febre baixa, perda de apetite, manchas roxas na pele (similares a hematomas), inflamação nas membranas que recobrem o pulmão (pleura) e coração (pericárdio).

Outra característica da doença é a maior incidência em mulheres mais jovens, entre 20 e 45 anos.

A principal hipótese é a ação de hormônios femininos e a instabilidade no sistema imunológico associadas a fatores genéticos.

Foi o caso da ex-secretária doméstica Roseana Carlos de Castro Campos, 30 anos, que há quatro
anos convive com o LES.
Em outubro de 2009 o inchaço nas articulações da mão começou a preocupá-la.

As dores, acompanhadas pela constante queda de cabelo, foram suficientes para obter o
diagnóstico naquela época, no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM).

O desespero, associado à falta de informação, foi a primeira reação da paciente, que felizmente contou com o apoio do marido, Marcos Anunciação de Campos, 30 anos.

A cada três meses eles vão ao ambulatório do hospital para continuar o tratamento.
Em junho deste ano, ela precisou aumentar a frequência ao reumatologista pelo excesso de crises, manchas na pele começaram a surgir e cuidados dermatológicos foram necessários para tratar
lesões nos membros superiores.

O problema tem afetado sua aparência.
Ficar em casa, sem sair para se divertir, é a rotina da qual se lamenta.
Também, os afazeres domésticos estão limitados a lavar vasilhas quando não está em fases críticas.








Ajuda mútua

No HUJM existe a Associação dos Portadores de Doenças Reumáticas Autoimunes MT

 (Apdra-MT). A organização foi criada para oferecer informações aos pacientes de LES,
auxiliando principalmente com orientações fármacos, cadastro de pacientes em farmácias de
alto custo para recebimento de medicamentos gratuitamente, encaminhamento para a Defensoria Pública nos casos em que há necessidade, palestras e atendimento com diversos especialistas.

De acordo com a assistente social da instituição, Nair da Costa Barbosa, os 900 pacientes
cadastrados no Apdra são acompanhados por psicólogos, nutricionistas, dermatologistas e
demais especialistas solicitados quando necessário.

Pelo menos 400 pacientes participam com assiduidade dos eventos promovidos três vezes ao ano, grande parte deles vem do interior do Estado, de Rondônia e do Acre, permanecem em abrigos na capital ou em cidades que têm casas de acolhimento para pessoas em tratamento médico.

Escrito por Vinícius Bruno


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