quarta-feira, 1 de maio de 2013

Solidariedade muda




O coração tinha porta, tinha campainha, mas costumava ficar sem tranca.
A entrada era fácil, porém não era franca.
A campainha tinha que ser acionada, a porta então se abria com facilidade e os convidados podiam visitá-lo com algumas regalias.

Se ganhariam passe livre?
O tempo diria.

O preço para a permanência não era alto, era apenas justo.
Bastava demonstrar que gostavam dele e respeitariam os momentos exclusivos que qualquer coração que se preze gosta de ter.

Corações adoram privacidade.

Percebeu, no entanto, a grande confusão que se faz com esta história de peito aberto.
Ter peito aberto é ter que compartilhar de sentimentos individuais e intransferíveis?

Aos pouquinhos resolveu colocar uma chave básica .
A porta andava sendo aberta com muita freqüência, sem sequer tocarem a campainha e era pego nu!

Coração pelado é privilégio só de quem nem precisa bater na porta, já mora nele!

A principio colocou uma fechadura bem vagabundinha. .
Acreditava que assim, os invasores se “tocassem” que tinham que tocar “a tal campainha”.

Adiantou muito pouco.

Percebeu a insistência, aliás, a incoerência de acharem que alguns “olas” dados ao acaso, autorizavam a entrada livre.

Ontem comprou uma “chave de segurança (papaiz)” com quatro voltas.
Trancou bem para ter certeza que poderia ficar pelado, descabelado, melancólico, maluco se quisesse.

Naquele momento quem gostava dele realmente, saberia que ele queria apenas o silêncio do amor, a mudez da solidariedade, nunca a invasão dos “ois” ao vivo e a cores, dos “obas – obas”
que não provam nada ao sofredor, mas faz muito bem ao ego do invasor, que passa a se sentir um amor de pessoa, companheiro fiel da dor.

A cópia do “papaiz ” seria dada a partir dali, a quem soubesse respeitar a vontade dele.
Vontade de chorar sozinho e baixinho.


Certas dores não foram feitas para terem acompanhantes.
São exclusividades do dono.


Rosa Pena

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