Uma das maneiras mais freqüentes de Deus Se revelar aos Seus profetas é através de sonhos e visões (ver Números 12:6).
Enquanto os “sonhos” ocorrem apenas quando o profeta está dormindo (I Reis 3:5 e 15; Daniel 9:13; etc), as “visões” podem ser concedidas estando ele dormindo (Jó 33:15-18; Daniel 7:1 e 2; etc.) ou mesmo envolvido em suas atividades diárias (Números 24:3 e 4; Daniel 10:4-10; etc.).
Alguns alegam, com base em Joel 2:28, que os sonhos são apenas para os “velhos” e que as visões se restringem aos “jovens”.
Mas essa alegação é insustentável, porque na Bíblia encontramos alusões a jovens que tiveram sonhos (ver, por exemplo, Gênesis 37:2-7) e a velhos que receberam visões (ver, por exemplo, Gênesis 44:20; 46: 2-4).
Embora a forma de revelação usada nos sonhos e nas visões seja muito semelhante uma da outra, parece evidente que durante as visões os vários sentidos do profeta se encontram mais notoriamente envolvidos (Daniel 10:7-11; 14-19) do que nos sonhos proféticos tradicionais.
É interessante notarmos também que “visões” podem ocorrer mesmo durante um “sonho” profético (Daniel 4:9). Cientes do fato de que existem sonhos falsos (Jeremias 23:32; Zacarias 10:2) e visões falsas (Lamentações 2:14; Ezequiel 13:6-9, 16 e 23; 21:29; 22:28), devemos exercer o devido discernimento para não sermos enganados por tais falsificações (Mateus 24:24; ver também Mateus 7: 21-23).
Como discernir os sonhos
Como é possível saber se um sonho é de Deus ou não?
Determinar a natureza específica de cada sonho de uma pessoa é um assunto muito complexo e subjetivo.
Além dos “sonhos mentirosos” e não autênticos (Jeremias 23:32; 29:8 e 9), existem dois grandes grupos de sonhos reais.
O primeiro e mais comum deles é o formado pelos sonhos naturais, que fazem parte do processo normal de descanso durante o sono, e cujo conteúdo pode apresentar-se de forma organizada ou desorganizada.
Uma vez que “dos muitos trabalhos vêm os sonhos” (Eclesiastes 5:3), é provável que pessoas envolvidas em assuntos religiosos acabem sonhando com eles, sem que tais sonhos sejam de origem sobrenatural.
Já o segundo grupo básico de sonhos é formado pelos sonhos sobrenaturais, que podem ser de origem divina ou satânica.
Os sonhos de origem divina têm normalmente um propósito salvífico bem definido, e podem ser concedidos tanto os profetas verdadeiros (Números 12:6), como aos membros comuns do povo de Deus (Joel 2:28), e mesmo às pessoas que não pertencem ao povo de Deus (Gênesis 41; Daniel 2).
Por sua vez, os sonhos de origem satânica são quase sempre fascinantes, e podem conter verdades, para confundir a pessoa.
Suas predições podem até se cumprir, mas eles tendem a afastar, eventualmente e de alguma forma, a pessoa de Deus e de Sua vontade (ver Jeremias 29:8; Mateus 24:24; I Pedro 5:8).
Torna-se evidente, portanto, que tanto os sonhos naturais como os sobrenaturais (quer divinos ou satânicos) podem ter um conteúdo religioso.
Além disso, o simples fato de Deus conceder um sonho sobrenatural a alguém não transforma essa pessoa automaticamente num profeta, como pode se inferir das experiências de Faraó (Gênesis 41) e de Nabucodonosor (Daniel 2).
Embora todo profeta receba sonhos de origem divina (Números 12:6), nem todos os que recebem tais sonhos podem ser considerados profetas.
O chamado para o ministério profético é algo diferente e bem mais abrangente.
A atitude de atribuir a Deus a origem de todos os sonhos de cunho religioso, e de buscar sempre um significado especial para o seu conteúdo, é altamente perigosa.
Aqueles que assim agem são tentados a se considerar mais privilegiados por Deus do que os demais, tornando-se presas fáceis das artimanhas do maligno.
Somos advertidos pelo próprio Deus de que todos os sonhos (até mesmo os dos profetas) devem permanecer subordinados à autoridade normativa das Escrituras.
“O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a Minha palavra, fale a Minha palavra como verdade.
Que tem a palha com o trigo? – diz o Senhor (Jeremias 23:28). “À lei e ao testemunho!
Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20; ver também Mateus 7:21-23; Gálatas 1: 8 e 9, I S. João 2:4; 4:1).
Sonhos jamais são usados por Deus como um fim em si mesmos, mas apenas como um meio de nos aproximar mais dEle e de Sua Palavra (ver João 20:29).
Ademais, não podemos permitir que nossa fé dependa de tais meios, possíveis de serem usados também por Satanás.
Portanto, se você tiver um sonho que julga ser de procedência divina, mas não tem plena certeza disso, o mais prudente é tentar extrair dele uma lição positiva para a vida, até que a sua origem e o seu propósito fiquem melhor esclarecidos.
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