terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O NASCIMENTO DO AMOR


 
art by J. Kirk Richards

No budismo aprendemos que a compreensão é a verdadeira base do amor.
Sem compreensão, independentemente de quanto você se esforce, não poderá amar Se disser: "Tenho que tentar amá-lo", estará cometendo uma tolice.
É preciso compreendê-lo e, ao fazer isso, irá amá-lo.
Uma das coisas que aprendi dos ensinamentos de Buda é que sem a compreensão o amor não é possível.
Se o marido e a esposa não se compreendem, não podem se amar.
Se um pai e um filho não se compreendem, causarão sofrimento um ao outro.
Então a compreensão é a chave que abre a porta do amor.
Compreensão é o processo de observar atentamente.
Meditar significa observar atentamente as coisas, tocá-las com extrema atenção.
Uma onda precisa entender que existem outras ondas à sua volta.
Cada uma tem o seu próprio sofrimento.
Você não é a única pessoa que sofre.
Suas irmãs e seus irmãos também sofrem.
No momento em que você for capaz de ver o sofrimento deles, irá parar de censurá-los e também parar com o seu próprio sofrimento.
Se você está sofrendo e acredita que isto é criado pelas pessoas ao seu redor, é conveniente olhar outra vez.
A maior parte do seu sofrimento vem da falta de compreensão de si mesmo e dos outros.
No budismo, não creio que a compaixão e a bondade amorosa sejam praticadas visando à salvação individual.
A verdade ensinada pelo Buda é que o sofrimento existe.
Com a atenta observação do sofrimento em você mesmo e na outra pessoa, advirá o entendimento.
Quando isso acontecer, o amor e a aceitação também surgirão, o que levará ao término do sofrimento.
Você talvez imagine que o seu sofrimento é maior do que o de qualquer outra pessoa ou que é o único a sofrer Não é verdade.
Quando você reconhecer o sofrimento à sua volta, ajudará a si mesmo a sofrer menos.
Saia de dentro de você e observe.
A época do Natal é uma excelente oportunidade para isso, O sofrimento está em mim, é evidente, mas também está em você.
Está no mundo.
Houve uma pessoa que nasceu há quase dois mil anos.
Tinha consciência de que o sofrimento estava nela e na sua sociedade, e não se escondeu do sofrimento.
Em vez disso, pôs-se a investigar atentamente a natureza do sofrimento, as suas causas.
Como teve a coragem de se manifestar, tornou-se o mestre de muitas gerações.
Talvez a melhor maneira de celebrar o Natal seja habituar-se a andar com atenção, a sentar com atenção e observar tudo atentamente para descobrir que o sofrimento ainda continua ali em todos nós e no mundo.
Reconhecendo o sofrimento, aliviamos nossos corações daquilo que nos vem afligindo durante tantos dias e meses.
Segundo os ensinamentos budistas, quando se presta bastante atenção ao sofrimento, compreende-se a sua natureza; então, o caminho para a felicidade se revelará.
No budismo, o nirvana é descrito como paz, estabilidade e liberdade.
O processo é entender que paz, estabilidade e liberdade estão à nossa disposição aqui e agora, durante vinte e quatro horas por dia.
Só precisamos saber como alcançá-las e termos a vontade, a determinação para consegui-lo.
É como a água, sempre disponível para a onda.
Nada mais é do que a onda tocando a água e compreendendo que ela está lá.
 
Thich Nhat Hanh, in
Jesus e Buda, Irmãos

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