sexta-feira, 17 de maio de 2013

Mina de vinho na Moldávia

Petit Chef




Ora cá estamos de novo numa visita guiada a mais um dos sítios que desconhecíamos.
Mina de vinho?

Não pensem que dá vinho por uma bica durante todo o ano (risos).

Bem, mas vocês já vão perceber o que quer dizer esta Mina de Vinho.

Visto ser um texto grande, relaxem e deixem-se levar por esta viagem.

Num subterrâneo, a uns 80 metros debaixo de Cricóvia, que é um subúrbio de Chisinau, a capital da Moldávia, há um labirinto de túneis de 120 quilómetros, feitos pelo homem.

Antigamente, retirava-se calcário destas escuras cavernas.

Mas, nos últimos 50 anos, estas frias galerias subterrâneas tornaram-se um lugar ideal para guardar os melhores vinhos da Europa.

Uma fileira após outra de barricas e garrafas ocupam mais de 60 quilómetros de túneis nesta antiga mina.
Com capacidade para armazenar 350 milhões de litros de vinho, é considerada a maior adega de vinho no sudeste da Europa.

A Moldávia é um país cheio de tradições, e o cultivo de vinha não é excepção.
Situa-se no mesmo paralelo da famosa província vinícola de Borgonha, na França, e tem um clima temperado que aquece o solo bem fértil.

A produção de vinho na Moldávia vem já do ano 300 a.C., quando os comerciantes gregos levaram videiras para esta terra.

Nos séculos que se seguiram, continuou a tradição de produzir vinho, mesmo quando o país foi conquistado por godos, hunos e diversos senhores feudais.



O Império Otomano dominou o país entre os séculos 16 e 18 e, por motivos religiosos, desestimulou a produção de vinho.

Mas, no século 19, os czares da Rússia reivindicaram a posse do país e estimularam ativamente a indústria do vinho.

Importaram variedades de castas da França e as mesmas sobreviveram.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o novo governo absoluto da Moldávia, a União Soviética, modernizou sistematicamente a indústria do vinho.

Na verdade, fez da Moldávia a capital da produção de vinho e de uvas da inteira União Soviética.

Os soviéticos foram os primeiros a constatar que estes túneis eram o lugar perfeito para armazenar vinho.

Venham com o blog do Nariz à Boca numa visita imaginária mas de matéria verídica a esta adega excepcional para descobrir alguns dos seus segredos.

Ao entrarmos de carro na adega, vemos um prédio que faz parte duma construção esculpida no calcário. Parece um chalé francês do interior.

Essa estrutura, porém, não dá a mínima ideia da vasta construção debaixo dos nossos ricos pés.

A uma curta distância da entrada principal, deparamo-nos com a grande abertura do túnel (para perceberem, passam dois camiões lado a lado).

Descemos de carro neste labirinto subterrâneo e, depois de o percorrermos por alguns minutos, surge-nos uma guia que se junta a nós durante esta viagem.

Começamos a descer, a descer e pensamos logo que sem a guia estaríamos tramados (desculpem a expressão).

Eu pergunto: O que é que aconteceu com o monte de calcário que antigamente era escavado aqui?

Foi usado em construções em Chisinau, respondeu-nos a guia.

O calcário serve como óptimo material de construção, visto ter boas propriedades de isolamento e de redução de ruídos.



Continuando a nossa viagem
Ao descermos 70 metros abaixo da superfície do solo, a claridade no túnel diminui, criando uma atmosfera medrosa, de meia-luz.

Paramos num cruzamento, onde vários caminhos, orlados em ambos os lados de longas fileiras de enormes barricas de vinho, levam-nos a diversas direcções.

Notamos que os túneis são chamadas por tipos de vinho.

Pinot, Feteasca e Cabernet são apenas alguns dos nomes que estimulam a nossa imaginação.

A nossa guia diz-nos que as barricas de carvalho são usadas principalmente na produção de vinhos Tintos e Brancos.

Vemos pouquinhos trabalhadores, o que nos faz perguntar sobre o tamanho da força de trabalho.

Ela responde: Temos cerca de 300 pessoas contratadas que trabalham aqui na mina.
Usam roupa quente o ano inteiro, por causa da temperatura baixa.

Os nossos trabalhadores acham que esta temperatura não só é boa para o vinho, mas também para conservar os jovens, de modo que não se importam realmente com o frio.
 (quem é jovem e percebe de vinho, sabe que isto é verdade.)

O próximo ponto alto da nossa visita é a produção do vinho espumante.

Vemos centenas de garrafas inclinadas de cabeça para baixo num ângulo de 30 graus.

Somos informados que:
Quando as garrafas são inclinadas neste ângulo, o resíduo junta-se na rolha.
Depois disso, a rolha é congelada rapidamente.
Depois pode ser retirada com facilidade, levando assim os resíduos, e pode-se colocar a rolha final.



Chegamos ao lugar de armazenamento das garrafas de vinho de qualidade superior desta mesma colheita.

A nossa guia, mostrando-as, diz:  Mais de um milhão de garrafas de vinho de qualidade superior, de uma mesma colheita, estão armazenadas aqui.

Quase todos os países europeus que produzem vinho armazenam alguns dos seus melhores vinhos nas nossas adegas subterrâneas.

O vinho mais velho é da colheita de 1902  é uma garrafa de vinho de Jerusalém, da Páscoa judaica.

Uns anitos atrás deram-nos quase 100.000 euros por esta garrafa.

Mas a oferta foi recusada.

A garrafa foi evidentemente considerada de valor inestimável.

Fomos também informados de que as garrafas de vinho nesta área são normalmente armazenadas na total escuridão, excepto durante os poucos minutos em que os grupos de visitantes param aqui.

Ao olharmos rapidamente, as etiquetas das garrafas cheiinhas de pó, percebemos que a maior parte dos vinhos é bem mais velho do que nós!

A visita termina nas salas de degustação.

A maior delas é o Salão de Banquete Presidencial.

É mobilada com uma grande mesa de madeira maciça de carvalho e as cadeiras a combinar, e há lugares para 65 pessoas.

Durante a era soviética, era usada para banquetes das autoridades do Estado.

Hoje este salão bem iluminado e de cores alegres ainda é um lugar adequado para uso das autoridades do Estado.



Na sala Casa Mare (a Sala de Visitas) há lugares para 15 pessoas e está mobilada em estilo moldávo tradicional, ao passo que no Salão de Banquetes do Fundo do Mar Sarmático há lugares para 10 pessoas degustarem e comerem há volta de uma mesa circular.

O aspecto mais interessante desta sala é seu teto.

Originalmente, esta câmara era uma gruta debaixo dágua, e podem ser vistos claramente moluscos e outros restos de vida aquática petrificados.

A nossa guia lembra-nos que antigamente toda a Moldávia actual situava-se, no fundo do mar Sarmático.

Carvalhos (não são os autores deste blog) da região, foram a fonte de madeira dos móveis de todas estas salas, inclusive a do Salão de Banquetes Yuri Gagarin.

Este famoso cosmonauta visitou a Cricóvia em Outubro de 1966.

Ele escreveu uma carta de agradecimentos, declarando que aqui até mesmo o mais crítico provador encontrará um vinho do seu gosto (que frase célebre).

A nossa guia faz a observação:
Já tivemos visitantes vindos de mais de cem países nos 50 anos de existência destas adegas.
Na época dos soviéticos, os nossos vinhos espumantes eram conhecidos como champanhe soviético. Poucas pessoas sabiam que eram procedentes da Moldávia.
Hoje, vendemos os nossos vinhos espumantes sob o nome comercial Cricova, e temos variedades destes vinhos tintos e brancos.



Esta foi uma visita imaginária (mas com matéria verídica que demorou muito tempo a construir e a pesquisar) com o objectivo dos nossos leitores viajarem pelo mundo sem saírem da frente do monitor e que temos a certeza que aumentou um pouco mais a vossa cultura (e a nossa também!!!).

Texto: do Nariz à Boca

http://pt.petitchef.com

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