sábado, 24 de julho de 2010

NOVELA ENSINA A PENSAR NA MORTE, DIZ A AUTORA

Escrito nas Estrelas: Abertura




Num amplo apartamento no Leblon, Zona Sul do Rio, com brinquedos da neta Maya, de 1 ano e 3 meses, espalhados pelo chão e uma imagem de Nossa Senhora de Fátima na estante, Elizabeth Jhin - o sobrenome é do ex-marido, chinês - fala da experiência de escrever sua segunda novela solo, "Escrito nas estrelas".

Aos 60 anos, a autora mineira diz que não sabe se é mística, mas que gosta do tema.
Para ela, novela tem que fazer o público "sonhar, fantasiar".
Beth - que começou na emissora em 1991 como colaboradora de "Salomé", de Sérgio Marques, e escreveu "Eterna magia", em 2007 - acredita que um dos trunfos do folhetim é o fato de o texto desvincular espiritualidade de religião.
Leia a seguir os principais trechos da conversa na qual a novelista fala sobre religiosidade, morte e outros assuntos sobrenaturais.



Quando você está escrevendo uma novela, como é a sua rotina?

Não trabalho em casa.
Fico num apart hotel próximo ao meu apartamento, no Leblon.
Vou para lá na segunda-feira, tipo 8h, e só volto no sábado à noite.
Tenho que fazer isso porque preciso de silêncio absoluto na hora de escrever.
E em casa tem empregada, minha filha (a designer de joias Renata, de 34 anos) costuma passar aqui com minha netinha, Maya, meu filho (o advogado Rafael, de 30) mora comigo...
Ou seja, a casa fica muito movimentada e, para me concentrar, tenho que ficar completamente isolada.
Acordo cedo e às 6h30m já estou no computador.
Prefiro trabalhar de manhã.
Fico até 22h30m, 23h escrevendo e, depois, vou me deitar.
E pego no sono facilmente.
Mesmo em casa, aos domingos, depois de almoçar com a família, volto logo para escrever a novela.


Você participou de um grupo de discussão de telespectadores sobre "Escrito nas estrelas". Qual foi o resultado?

O Ricardo (personagem de Humberto Martins) é uma paixão absoluta.
As pessoas também adoram a Viviane (Nathália Dill), a madame Gilda (Jandira Martini), a Sofia (Zezé Polessa), o Jair (André Gonçalves), a Antônia (Susana Faini)...
E o mais importante: o público compreendeu que a parte espiritual mostrada na novela não é ligada à religião nenhuma, não estou retratando a doutrina espírita.
Pudemos perceber que as pessoas de qualquer religião assistem à novela porque a história não agride à religião delas.
E anjos e espíritos têm em todas as religiões.
Elas gostaram também do fato de a espiritualidade ser positiva, de não ter nada que assuste, de sombrio, o que foi uma preocupação minha por causa do horário.
Esse lado do céu é bem idealizado, até porque tem crianças que veem a novela.


Você tem medo de morte?

Não tenho medo, tenho curiosidade.
As pessoas também estão gostando da novela porque ninguém pensa em morte.
É um tabu.
E eu falo disso na novela.
E é estranho porque todo mundo se prepara para tudo: estuda para entrar numa faculdade, faz curso de noivos para se casar, quando vai ter filhos, lê um monte de livros sobre bebês, até para preparar um bolo, você precisa estudar uma receita.
E, para a morte, que é a única coisa certa na vida de todo mundo, ninguém se prepara.
Talvez o público esteja pensando, refletindo mais sobre isso...


Você é mística?
Como começou seu interesse por esses assuntos?

Não sei se sou mística.
Mas falar sobre esses assuntos é algo que me encanta.
Estudei em colégio de freiras, e sou católica de formação, mas fui me desiludindo com a religião, aliás, com qualquer religião sistematizada.
Passei por um período na minha vida, nos anos 80, de muitas perdas familiares.
Eram tantas que houve uma fase em que, quando eu abria o olho de manhã e via que estava tudo bem, me sentia grata por não ter acontecido nada naquele dia.
Acho que isso influenciou na minha procura por esses assuntos.
"Eterna magia" (exibida em 2007) também seguiu essa linha mística...
Quero sempre seguir essa linha.
Acho que estamos muito cansados da realidade. Às vezes, ela até nos joga no chão.
A novela é para o público sonhar, fantasiar...


Você frequentou algum grupo espírita para escrever a novela?

Sempre tive simpatia pelo espiritismo.
Mas nunca havia estudado o assunto.
Quando procurei me informar, conheci uma pessoa iluminada, o Luiz Queiroz, que é diretor da Casa do Padre Pio, de estudos espíritas.
Comecei a assistir a suas palestras e fiquei encantada.
Conversei muito com ele e com o Wagner de Assis, diretor do filme "Nosso lar".
Eles me deram livros que me fizeram tão bem que eu comecei a ler mais.
Pode ser pretensão, mas hoje, mais do que nunca, as pessoas têm vontade de ouvir coisas boas, que possam ajudá-las a evoluir.


Vai haver uma passagem de tempo?

Sim, de dois anos.
Aí mostraremos a Viviane grávida e o nascimento da criança.
Ela vai ser mesmo a mãe do filho de Daniel (Jayme Matarazzo).
E o bebê será um menino.
Mas tem muita gente achando, e as pessoas perguntaram isso no grupo de discussão, que o filho dela vai ser o Daniel reencarnado.
Não vai ser.
Inclusive, o Daniel passará por uma fase de muita revolta.
Ele ficará inconformado com o fato de o pai se apaixonar pela Viviane.
E haverá cenas fortes.
Quando for dar à luz, Viviane ficará entre a vida e a morte.
E o Daniel vai tentar puxá-la para a morte.
Mas o Ricardo ficará pedindo para ela ficar viva.
Vai ser uma luta emocionante, linda.


Você tem vontade de escrever um dia uma novela das oito?

Não, acho que é muita pressão e estresse para a minha idade.
Não é covardia, é apenas vontade de ter mais qualidade de vida.
Fazendo a novela das 18h, eu só consigo ver a minha neta uma vez por semana, não vou nem ao cabeleireiro, imagina fazendo uma novela das oito?


A partir de O Globo.

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