sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ANULANDO QUEIXAS E RESSENTIMENTOS



Queixar-se é uma das estratégias prediletas do ego para se fortalecer. 
Cada reclamação é uma pequena história que a mente cria e na qual acreditamos inteiramente. 
Não importa se ela é feita em voz alta ou apenas em pensamento. 
Alguns egos que talvez não tenham muito mais com o que se identificar sobrevivem apenas com queixas.

Quando estamos presos a um ego assim, reclamar, sobretudo de alguém, é algo habitual e, é claro, inconsciente, o que mostra que não sabemos o que estamos fazendo.

Uma atitude típica desse padrão é aplicar rótulos mentais negativos às pessoas, seja na frente delas ou, como é mais comum, falando sobre elas com alguém, ou até mesmo apenas pensando nelas.

Xingar é o modo mais rude de atribuir esses rótulos e de mostrar a necessidade que o ego tem de estar certo e triunfar sobre os outros: "idiota", "desgraçado", "prostituta", “etc..”, todas essas afirmações definitivas contra as quais não se pode argumentar.

No nível seguinte, descendo pela escala da inconsciência, estão os gritos. 
Não muito abaixo disso se encontra a violência física.

O ressentimento é a emoção que acompanha a queixa e a rotulagem mental dos outros. 
Ele acrescenta ainda mais energia ao ego. 
Ressentir-se significa ficar magoado, melindrado ou ofendido. 
Costumamos nos sentir assim em relação à cobiça das pessoas, à sua desonestidade, à sua falta de integridade, ao que estão fazendo no presente, ao que fizeram no passado, ao que disseram, ao que deixaram de dizer, à atitude que deviam, ou não, ter tomado. 
O ego adora isso.

Em vez de detectarmos a inconsciência nos outros, nós a transformamos em sua identidade. 
Quem é o responsável por isso? 
Nossa própria inconsciência, o ego em nós. 
Algumas vezes, a "falta" que apontamos em alguém, nem mesmo existe. 
Ela pode ser um erro total de interpretação, uma projeção feita por uma mente condicionada a ver inimigos, e a se
considerar sempre certa, ou superior.

Em outras ocasiões, a falta pode ter ocorrido; contudo, se nos concentrarmos nela, às vezes excluindo todo o resto, nós a tornamos maior do que ela realmente é. E dessa maneira fortalecemos em nós mesmos aquilo a que reagimos no outro, o ego.

Não reagir ao ego das pessoas é uma das maneiras mais eficazes de não só superarmos nosso próprio ego como também de dissolver o ego humano coletivo.

No entanto, só conseguimos nos abster de reagir quando somos capazes de reconhecer o comportamento de alguém como originário do ego, como uma expressão do distúrbio coletivo da espécie humana insana. 
Quando compreendemos que não se trata de nada pessoal, a compulsão para reagir desaparece.

Não reagindo ao ego, muitas vezes podemos fazer aflorar a sanidade nos outros, que é a consciência não condicionada em oposição à consciência condicionada.

Em determinadas ocasiões, talvez precisemos tomar providências práticas para nos proteger de pessoas profundamente inconscientes. 
Isso é algo que temos condições de fazer sem torná-las nossas inimigas.

Nossa maior defesa, contudo, é sermos conscientes aqui e agora. 
Alguém passa a ser um inimigo quando personalizamos a inconsciência dele, que é o ego. A não-reação não é fraqueza, mas força.

Outra palavra para não-reação, é perdão. 
Perdoar é ver além, ou melhor, é enxergar através de algo. 
E ver, através do ego, a sanidade que há em cada ser humano como sua essência.

O ego adora reclamar e se ressente não só de pessoas como de situações. 
O que podemos fazer com alguém também conseguimos fazer com uma circunstância: transformá-la num inimigo. 
Os pontos implícitos são sempre os mesmos: “isso não deveria estar acontecendo”, “não quero estar aqui”, “estou agindo contra minha vontade”, “o tratamento que estou recebendo é injusto”, “etc..”.

E, é claro, o maior inimigo do ego, acima de tudo isso, é o momento presente, ou seja, a vida em si, o agora.

Não confunda a queixa com a atitude de informar alguém de uma falha ou de uma deficiência para que elas possam ser sanadas. 
Além disso, abster-se de reclamar não corresponde necessariamente a tolerar algo de má qualidade nem um mau comportamento.

Não há interferência do ego quando dizemos ao garçom que a comida está fria e precisa ser aquecida - desde que nos atenhamos aos fatos, que são sempre neutros. 
"Como você se atreve a me servir uma sopa fria?" 
Isso é se queixar, isso é ego.

Nessa situação, existe um "eu" que adora se sentir pessoalmente ofendido pela comida fria e ele aproveitará esse fato ao máximo, um "eu" que aprecia apontar o erro de alguém.

A reclamação a que me refiro está a serviço do ego, e não da mudança. 
Algumas vezes fica óbvio que o ego não deseja que algo se modifique para que possa continuar se queixando e continuar existindo.

Veja se você consegue capturar, ou melhor, perceber, a voz na sua cabeça - talvez no exato instante em que ela esteja reclamando de algo, e reconhecê-la pelo que ela é: a voz do ego, não mais do que um padrão mental condicionado, um pensamento. Sempre que a observar, compreenderá que você não é ela, e sim aquele que tem consciência dela.

Na verdade, você é a consciência que está consciente da voz. 
Atrás, em segundo plano, está a consciência. 
À frente, se situa a voz, aquele que pensa, o ego. 
Dessa maneira você estará se libertando do ego, livrando-se da mente não observada. 
No momento em que você se tornar consciente do ego, a rigor ele não será mais o ego, e sim um velho padrão mental condicionado.

O ego implica inconsciência. 
Ele e a consciência não conseguem coexistir. 
O velho padrão mental, ou hábito mental, pode sobreviver e se manifestar por mais um tempo porque tem o impulso de milhares de anos de inconsciência humana coletiva atrás de si. 
No entanto, toda vez que é reconhecido, ele se enfraquece.

Só a prática da auto-observação consciente leva ao despertar da consciência e consequentemente com a eliminação do ego.

DO LIVRO: “O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA”
DE ECKHART TOLLE

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