segunda-feira, 19 de setembro de 2011
A HISTORA DA FLOR DE LOTUS
Certo dia, à margem de um tranqüilo lago solitário, a cuja margem se erguiam frondosas árvores com perfumosas flores de mil cores, e coalhadas de ninhos onde aves canoras chilreavam, encontraram-se quatro elementos irmãos: o fogo, o ar, a água e a terra.
Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva - disse o fogo cheio de entusiasmo, como é de sua natureza.
É verdade - disse o ar.
É um destino bem curioso o nosso.
À custa de tanto nos prestarmos para construir formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos nossa liberdade.
Não te queixes - disse a água -, pois estamos obedecendo à Lei, e é um Divino Prazer servir à Criação.
Por outro lado, não perdemos nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade; o irmão fogo, entra e sai por toda parte servindo a vida e a morte.
Eu faço o mesmo.
Em todo o caso, sou eu quem deveria me queixar - disse a terra - pois estou sempre imóvel, e mesmo sem minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar no mesmo espaço.
Não entristeçais minha felicidade ao ver-nos - tornou a dizer o fogo - com discussões supérfluas.
É melhor festejarmos estes momentos em que nos encontrarmos fora da forma.
Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união.
Todos o aplaudiram e se entregaram ao mais feliz companheirismo.
Cada um contou o que havia feito durante sua longa ausência, as maravilhas que tinham construído e destruído.
Cada um se orgulhou de se haver prestado para que a Vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas.
E mais se regozijaram, pensando na multidão de vezes que se uniram fragmentariamente para o seu trabalho.
Em meio de tão grande alegria, existia uma nuvem: o homem.
Ah! como ele era ingrato.
Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais, e o homem abusava deles, perdendo-os.
Tiveram desejo de retirar sua cooperação e privá-lo de realizar suas experiências no plano físico.
Porém a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos.
Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro.
Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem.
Houve muitos projetos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes.
Por fim, refletindo-se no lago, os quatro disseram:
E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela?
A idéia pareceu digna de experiência.
Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes.
Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste.
Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta.
Eu porei todo o meu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores.
Dito e feito.
Os quatro irmãos começaram a sua obra.
Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores.
O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha.
Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana.
Consultaram-se os astros, e foi fixada a data de 8 de maio - quando a Terra está sob a influência da Constelação de Taurus, símbolo do Poder Criador - para a comemoração que desde épocas remotas se tem perpetuado através das idades.
Foi espalhada esta comemoração por todos os países do Ocidente, e, em 1948, o dia 8 de Maio se tomou também o "Dia da Paz".
A flor-de-lótus (Nelumbo nucifera), também conhecida como lótus-egípcio, lótus-sagrado e lótus-da-índia, é uma planta da família das ninfáceas (mesma família da vitória-régia) nativa do sudeste da Ásia (Japão, Filipinas e Índia, principalmente).
Olhada com respeito e veneração pelos povos orientais, ela é freqüentemente associada a Buda, por representar a pureza emergindo imaculada de águas lodosas.
No Japão, por exemplo, esta flor é tão admirada que, quando chega a primavera, o povo costuma ir aos lagos para ver o botão se transformando em flor.
Lótus é o símbolo da expansão espiritual, do sagrado, do puro.
A lenda budista nos relata que quando Siddhartha, que mais tarde se tornaria o Buda, tocou o solo e fez seus primeiros sete passos, sete flores de lótus cresceram.
Assim, cada passo do Bodhisattva é um ato de expansão espiritual.
Os Budas em meditação são representados sentados sobre flores de lótus, e a expansão da visão espiritual na meditação (dhyana) está simbolizada pelas flores de lótus completamente abertas, cujos centros e pétalas suportam imagens, atributos ou mantras de vários Budas e Boddhisattvas, de acordo com sua posição relativa e relação mútua.
Do mesmo modo, os centros da consciência no corpo humano (chacras) estão representados como flores de lótus, cujas cores correspondem ao seu caráter individual, enquanto o número de suas pétalas corresponde às suas funções.
O significado original deste simbolismo pode ser visto pela semelhança seguinte:
Tal como a flor do lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície da água, abrindo suas flores somente após ter-se erguido além da superfície, ficando imaculada de ambos, terra e água, que a nutriram - do mesmo modo a mente, nascida no corpo humano, expande suas verdadeiras qualidades (pétalas) após ter-se erguido dos fluidos turvos da paixão e da ignorância, e transforma o poder tenebroso da profundidade no puro néctar radiante da consciência Iluminada (bidhicitta), a incomparável jóia (mani) na flor de lótus (padma).
Assim, o arahant (santo) cresce além deste mundo e o ultrapassa.
Apesar de suas raízes estarem na profundidade sombria deste mundo, sua cabeça está erguida na totalidade da luz.
Ele é a síntese viva do mais profundo e do mais elevado, da escuridão e da luz, do material e do imaterial, das limitações da individualidade e da universalidade ilimitada, do formado e do sem forma, do Samsara e do Nirvana.
Se o impulso para a luz não estivesse adormecido na semente profundamente escondida na escuridão da terra, o lótus não poderia se voltar em direção à luz.
Se o impulso para uma maior consciência e conhecimento não estivesse adormecido mesmo no estado da mais profunda ignorância, nem mesmo num estado de completa inconsciência um Iluminado nunca poderia se erguer da escuridão do Samsara.
A semente da Iluminação está sempre presente no mundo, e do mesmo modo como os Budas surgiram nos ciclos passados do mundo, também os Iluminados surgem no presente ciclo e poderão surgir em futuros ciclos, enquanto houver condições adequadas para vida orgânica e consciente.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário :
Postar um comentário