segunda-feira, 19 de setembro de 2011
EQM AINDA É UM ENIGMA PARA A CIÊNCIA
Médicos dão teorias para explicar Experiências de Quase Morte A Experiência de Quase Morte (EQM) é um enigma para a psiquiatria, filosofia e a neurologia.
Mas os cientistas se dividem.
O túnel colorido e misterioso.
A luz vibrante e magnética.
A sensação de surpreendente bem estar e a viagem que todos tentam entender.
A Experiência de Quase Morte (EQM) é um enigma para a psiquiatria, filosofia e a neurologia.
Mas os cientistas se dividem.
“Eu, como médico fisiologista, entendo o problema sobre a base fisiológica.
Em pessoas que têm algum tipo de evento em que a função cerebral é bloqueada, essas pessoas podem ter anormalidades perceptivas que fogem à realidade”, diz o neurologista Manoel Jacobsen Teixeira.
“Existem teorias mostrando que existe um último lampejo de explosão de atividade cerebral nos minutos próximos da morte.
Então esses relatos possam estar vinculados no momento da perda da consciência, mas ainda com um mínimo de atividade cerebral ainda em curso.
Talvez desorganizada, talvez atrapalhada, talvez não de uma forma condizente com a atividade cerebral normal”, opina o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio.
Seria a Experiência de Quase Morte uma manifestação da mente ou do cérebro?
Se estes pesquisadores conseguirem alguma resposta, darão uma contribuição importante para ajudar a esclarecer uma polêmica que há mais de dois mil anos vem atormentando cientistas do mundo inteiro.
Mente e cérebro são a mesma coisa?
“Há várias possíveis explicações para as EQMs: uma delas pode ser o cérebro com a falta de oxigênio, e a pessoa pode ter uma alucinação, uma visão falsa.
Pode ser que em um período próximo à morte, a pessoa fantasie, crie imagens como mecanismo de defesa.
Pode ser, também, uma das possibilidades, que a própria consciência, a própria mente, efetivamente, possa ser independente do cérebro e está realmente presenciando e vivenciando aquelas situações descritas na EQM”, explica o professor de psiquiatria Alexander de Almeida, da UFJF.
A partir do Portal Globo.
SE TIVÉSSEMOS ESCOLHA, RECUSARÍAMOS A MORTE
O ônibus de excursão levava 47 pessoas de Linha Salto para disputar um campeonato de bolão no Paraná, mas a viagem acabou no meio do caminho.
Se tivéssemos escolha, certamente recusaríamos o momento da morte. Ninguém quer se despedir da vida, nem dos amigos, quanto mais da família.
O que dizer quando a morte chega para 29 pessoas ao mesmo tempo, todos amigos e parentes? Foi a tragédia que, em março de 2011, marcou para sempre uma pequena comunidade de 300 habitantes, no interior do Rio Grande do Sul.
O ônibus de excursão levava 47 pessoas de Linha Salto para disputar um campeonato de bolão no Paraná, mas a viagem acabou no meio do caminho, em Santa Catarina, com um acidente violento. Um caminhão de madeira capotou, esparramando a carga nas duas pistas. O ônibus não teve como desviar.
“Eu quebrei o braço, foi tirado o baço e cinco costelas.
O meu pulmão afetou bastante também. Perdi meu pai, irmão, cunhada e mais três tios", lamenta o funcionário público Michael Jose Schmidt.
Entre os mortos estava um dos irmãos da naturopata Dirhce Maria, o Moacir.
Ela ainda não sabia do acidente quando acordou de madrugada, mas viu e ouviu dentro do quarto o que nunca mais vai esquecer.
“Eu estava ali na cama bem pensativa e de repente quando vejo, abro os olhos, ele está parado na minha frente. Como se fosse de carne e osso.
Normal.
Ele aqui e o nosso amigo aqui, e ele dizia: ‘essa é a pessoa que eu trouxe para nos ajudar’”, afirma Dirhce.
Dirhce nem teve tempo de reagir.
Moacir deu o recado e desapareceu.
"Ele dizia: ‘tudo o que você precisa, você pergunta para ele.
Esse cara é o cara que eu confio, e é o cara certo para nos ajudar, para nos assistir, para ficar com a gente’.
E eu não entendi nada.”
Dirhce dormiu mais um pouco e quando acordou às 6h para estudar, mal teve tempo de escovar os dentes.
No telefone, a cunhada começava a dar a triste notícia.
"Ela disse: ‘o ônibus virou, estou te ligando para avisar, tem muita gente muito mal, muitos feridos, inclusive muitas mortes’.
Eu disse: ‘meu Deus!
E a minha mãe?’.
Quando eram 6h30 eu fui então para buscar a minha mãe.
Quando eu abri a porta para sair, tocou o telefone, o meu celular.
Eu olhei e era o Alceu, o cara que ele me apresentou no sonho."
O contador Alceu Riffel, um amigo de infância, não estava na excursão porque acompanhava a mulher em outro compromisso.
Foi ele mesmo o comandante do mutirão que organizou o funeral coletivo.
Transportou os mortos, transferiu de hospital os feridos e consolou as famílias nas primeiras 48 horas.
Justamente o Alceu, que vivia há um ano de luto pela morte de um filho e da nora, e que naquele dia perderia mais sete parentes.
“Eu só rezava e pedia ajuda para não desmoronar, não precisar chorar na frente das pessoas. Mas tentamos e conseguimos fazer o que nós poderíamos ter feito para colocar todos esses seres, esses amigos, na sua última morada", diz Alceu.
A funcionária pública Aline Hammes, que estava no ônibus e sobreviveu à tragédia, também sonhou com Moacir.
Mas desta vez ele não falou nada.
"No meu sonho, a gente tinha sofrido o acidente, só que ele estava ileso.
Estávamos eu e o Fernando, meu marido, em um lugar que eu não conheço, não sei onde é, a gente estava parado.
Lá adiante chegou o Moacir.
Ileso.
Intacto. Como se nada tivesse acontecido.
Quando eu acordei eu comentei: ‘por que o meu sonho não pode ser realidade?’
Porque ele era uma pessoa fantástica", diz Aline.
Moacir nasceu em Linha Salto e dedicou grande parte da vida ao trabalho social com a comunidade.
Um dos últimos sonhos dele foi inaugurar a ampliação do clube recreativo.
Ele insistiu nessa inauguração duas semanas antes do acidente.
“Ele tinha uma vontade muito grande de fazer uma pré-inauguração.
Ele insistiu em inaugurar só a pista de bolão”, lembra Adelmo Kraemer, presidente do Clube Recreativo de Linha Salto.
Essa é realmente uma daquelas histórias com muitas coincidências, que na verdade começa cinco dias antes, com um pesadelo.
"Eu vi esse sonho, esse pesadelo, o ônibus todo arrebentado, vários corpos estraçalhados, e uma carreta virada”, assegura o pedreiro Aristeo Jacobs.
“Vi isso no sonho.
Eu não tive coragem de falar para ninguém.”
Teria o nosso cérebro capacidade de prever o futuro?
Ainda não dá para saber se o que aconteceu com Aristeo foi apenas sonho ou uma forte premonição.
Hoje, a saudade dos mortos em Linha Salto é aliviada com a esperança de que a vida continua em algum lugar.
A partir do Portal Globo.
EQM: MUDANÇA DE VIDA É CONSEQUENCIA COMUM
Posted: 17 Sep 2011 11:05 AM PDT
O caso era grave. Os médicos ficaram três horas lutando para não perder o paciente. Enquanto isso, ele teve uma longa EQM.
O professor de matemática e estatística Sérgio Cabrini vai sempre muito além dos números. Experiência ele tem: mestre em Ciências Exatas, trabalhou como alto executivo em grandes empresas.
Hoje, prefere apenas ensinar.
E não só matemática.
"É muito importante a gente se encher hoje de amor, aprender o que é o amor, amar o que eu faço, amar minha família, amar meus colegas”, ensina Sérgio.
Os alunos nem piscam: adoram ouvir a história deste professor que venceu na vida, de "virada".
Essa é uma história que começa 15 anos atrás, com uma parada cardíaca.
Naquela época, o professor trabalhava das 5h da manhã à 0h, todos os dias.
Sérgio ainda era um jovem de 39 anos, mas o coração não aguentou.
“Eu consegui descer do carro e caminhar até onde está o pronto-socorro, e as duas enfermeiras me atenderam.
Aí apareceu o médico da UTI e me levou para lá”, lembra.
O caso era grave. Os médicos ficaram três horas lutando para não perder o paciente. Enquanto isso, ele teve uma longa Experiência de Quase Morte (EQM).
"Eu vi o médico correndo para cima da cama, mas, de repente, o que eu observei era o meu corpo, como se eu estivesse debaixo da cama observando o meu corpo.
Como se eu estivesse observando o meu corpo deitado na cama.
Mas nesse mesmo instante se abriu um buraco bastante negro debaixo da cama e aquele túnel me succionou, e no caminho começaram a passar telas de toda a minha vida.
Em cada tela passava um período ou uma fase da minha vida, e do meu lado havia uma figura muito alta e fina, que dizia: ‘olha a tela’.
Cada momento que passava, ele dizia: ‘olha, acidente de carro, e eu te salvei’”, lembra o professor.
“E esse acidente aconteceu mesmo conosco”, continua Sérgio.
“Fomos atropelados por um pneu de caminhão.
Quando eu tinha em torno de 8 anos, caí dentro de um rio e estava morrendo afogado.
Na quarta vez que eu afundei eu apareci do lado do rio deitado, e o filme me dizia: ‘eu te tirei de lá’.
Aí, de repente, o túnel era algo como se fizesse uma curva bem aberta.
Quase chegando no fim do túnel, onde tinha uma luz muito avermelhada e amarelada, nós paramos.
E ele disse: ‘você apelou pelos seus dois filhos, e é devido a seus dois filhos que você vai retornar.
Realmente eles precisam de você’.
A partir daquele momento, tudo se reverteu. Comecei a voltar.
Vi meu corpo debaixo da cama novamente, e a impressão é que saí de uma piscina com muito tempo de fôlego.
Senti meu corpo todo estremecer e, por coincidência, estava passando a enfermeira ali na cama e eu ouvi ela gritar pelo médico.
Ele gritava: ‘vencemos a morte, vencemos a morte!’.
É a última cena que eu lembro dele.
Ele saindo da UTI, que devia ter acabado o plantão dele.
Ele indo embora cantando”, detalha Sérgio.
Depois, o médico avisou que, naquele ritmo, Sérgio não teria uma segunda chance. Os gêmeos ainda eram bebês.
O casal tinha a vida inteira pela frente.
Ele só precisava de coragem para encarar a mudança.
"Pare mesmo!
A gente também trabalha.
Vamos unir as nossa forças, e o que nós queremos é você conosco, a sua saúde", avisa a professora Célia Cabrini, mulher de Sérgio.
Sérgio encerrou a carreira como executivo de uma grande empresa e começou praticamente do zero na vida acadêmica, sem garantia de sucesso.
Hoje é chamado para dar aula em várias cidades brasileiras e até no exterior.
Não perde nenhuma oportunidade para falar do que aprendeu para a vida depois de quase morrer.
"A primeira pergunta: curtiu a família?
E a minha resposta tinha sido não.
Curtiu os filhos?
Não, trabalhava o dia inteiro.
Curtiu a vida?
Não.
Então, a coisa mais tenebrosa é respondermos não para essas três perguntas", avalia Sérgio.
Os jovens reconhecem o entusiasmo do mestre e aprendem a lição facilmente, como se fosse um carinho de pai para filho.
“Você para de ficar tão mecânico e começa a ver realmente a vida com um olhar diferente. Você passa a tomar algumas decisões mais voltadas para o que você está sentindo, e não para o que a carreira manda, por exemplo.
Eu acho que é isso que realmente mexe com a gente", resume o estudante de administração Luan Pereira.
“Eu vejo aqueles alunos não como simples pagadores, mas como pessoas que vão ser formadas um pouquinho pela minha presença.
Se não fosse a EQM, provavelmente eu não teria a visão que eu teria hoje.
Eu teria até tentando dobrar o meu período de trabalho, procurando ganhar mais, procurando agradar homens em termos de cargo e de funcionário, e não teria esse sentido da vida, nessa plenitude de poder ver o crescimento dos filhos, poder dizer que, poxa vida, eles cresceram e eu vi eles crescerem”, conclui Sérgio.
A partir do Portal Globo.
EQM: ESTUDOS TENTAM COMPROVAR EXPERIÊNCIAS
O que hoje parece uma história de pura ficção poderá ser reconhecida pela ciência como verdade? As EQMs começaram a ser estudadas há 150 anos.
Da neurociência à física-quântica, a cada pesquisa os cientistas encontram uma resposta e centenas de novas perguntas.
As Experiências de Quase Morte (EQMs), por exemplo, começaram a ser estudadas há 150 anos, mas nunca como nas últimas décadas se investigou tanto, e tão profundamente, o assunto.
Há 28 anos, o médico pediatra Melvin Morse conseguiu salvar a vida de uma menina que quase se afogou.
A experiência mudou tudo o que ele aprendeu na escola de medicina sobre o fim da vida.
A criança que se acidentou em uma piscina comunitária ficou 18 minutos sem batimentos cardíacos.
Todo o processo de salvamento durou quatro horas.
Um mês depois, médico e paciente se reencontraram. Ela imediatamente o reconheceu.
O médico relata: “’Eu não gosto dele’, disse a menina.
‘Ele colocou um tubo no meu nariz!
Eu vi o senhor indo até o telefone para chamar alguém e o senhor perguntou: o que eu devo fazer agora?
O senhor me colocou em uma grande máquina que parecia um círculo’, em uma clara referência ao tomógrafo - e ela disse também com muita segurança: ‘eu não estava morta, eu estava viva.’"
A partir deste episódio, o médico pesquisou experiências de quase morte ao longo de 15 anos.
Aprendeu, por exemplo, que nem todas as pessoas socorridas em uma emergência passam pela mesma experiência.
"As EQMs são relatadas principalmente pelos pacientes que tinham uma chance mínima de sobrevivência, e talvez isso tenha a ver com a possibilidade de uma vida em um nível superior.
De qualquer forma, essa consciência fora do corpo físico é um evento totalmente subjetivo, algo que a ciência não pode explicar", diz o Dr. Morse, voltando ao exemplo da menina ressuscitada.
O desenho que ela fez para ilustrar o que aconteceu tem o céu representado por um campo florido, onde alguém que ela imaginou ser Jesus disse a ela para voltar porque sua família precisava de ajuda.
A menina também explicou ao médico que viu a mãe segurando um bebê no colo - era o seu irmãozinho, que foi desenhado com um enorme coração e que depois, coincidência ou não, nasceu com um problema cardíaco congênito.
O que acontece com a mente no estágio da morte?
O que é possível estudar sobre isso?
O médico intensivista americano Sam Parnia também se especializou em EQMs.
Ele trabalha como pesquisador e professor no centro médico Stone Brook, em Nova York. Usando tecnologia de ponta, os médicos conseguem medir até a oxigenação do cérebro quando ele para de funcionar.
Mas é um detalhe de criatividade o que chama a atenção: "Nós colocamos acima dos leitos da UTI imagens que só podem se identificadas do alto.
São objetos que não combinam com esse ambiente.
Não botamos um desfibrilador, que seria óbvio aqui, mas algo como a gravura de um cachorro cor de rosa, por exemplo", explica Sam.
“Depois, se um paciente acordar contando que saiu do corpo e viu a gravura lá em cima, esse é o tipo de relato que obriga os médicos a no mínimo parar para pensar.”
Este é o objetivo do estudo que ele iniciou e está em andamento em 30 centros de pesquisa, em sete países.
O Brasil já participa deste estudo, o mais amplo até agora sobre Experiências de Quase Morte. Os trabalhos se concentram na Zona da Mata Mineira, onde professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) aplicam a pesquisa em pacientes que conseguem vencer a luta contra a morte.
A meta é estudar todos os pacientes que passarem pela emergência de cinco hospitais, nos próximos dois anos.
“Se há funcionamento mental na ausência de funcionamento cerebral, então essas teorias que afirmam que o cérebro produz a mente, que a mente ou a consciência é apenas um produto do cérebro, essas teorias não se sustentam", avalia o filósofo Saulo Araújo, da UFJF.
O coordenador da pesquisa sobre EQMs, o cirurgião cardiovascular Leonardo Miana, concordou em montar um exemplo do tipo de gravura que ficará nas bandeijinhas.
São imagens que podem ser reconhecidas facilmente por qualquer pessoa, não importando sexo, a idade ou classe social.
"Se um paciente relatar que viu uma, duas ou mais figuras que estão colocadas no teto, isso não é uma produção pré-formada no cérebro dele. são imagens aleatórias, então provavelmente esse paciente terá tido uma experiência fora do corpo”, explica Leonardo.
"Nós vamos tentar investigar se realmente o cérebro não estava funcionando, nós vamos ter dados para investigar se o coração não estava funcionando, e a partir disso identificar se durante esse período que o cérebro não funcionava a pessoa foi capaz de ter percepções verídicas, que a gente pode comprovar que aquilo realmente aconteceu", reforça o professor de Psiquiatria da UFJF, Alexander de Almeida.
Na Santa Casa de Juiz de Fora, os leitos da UTI já estão preparados.
Todos os sobreviventes de paradas cardiorrespiratórias serão entrevistados. Os relatos serão avaliados com base nas respostas de um questionário-padrão.
"Não se conhece quase nada sobre a mente, mas também se conhece muito pouco do cérebro. Essa pesquisa, de certa maneira, vai ajudar inclusive a evoluir o conhecimento sobre o próprio cérebro", aponta o fisiologista Carlos Alberto Mourão Jr., da UFJF.
A pesquisa também vai servir para não desperdiçar histórias como a da psiquiatra aposentada Sandra do Nascimento.
Diabética, cardíaca e com problemas renais, ela esteve à beira da morte mais de uma vez.
Quando teve uma EQM, viu toda a correria dos médicos para salvá-la.
Foi o que ela contou para sua cardiologista, insistentemente.
"Via os movimentos, descreveu até a movimentação da enfermagem, a movimentação do próprio Dr. Leonardo e do outro plantonista que estava junto.
O que nós achamos interessante é que vários dias depois ela ficou falando, falando, falando, e sempre descrevendo tudo direitinho.
Ela reconheceu o Dr. Leonardo sem nunca ter visto ele antes”, destaca a cardiologista Fernanda Lanzoni.
“Três dias depois, eu fui ver como a Sandra estava e ela me reconheceu de pronto.
E falou: ‘eu lembro que você inclusive me abriu’”, relata o Dr. Leonardo.
Seis meses depois, a Dra. Sandra esqueceu quase tudo.
Permanece apenas a forte presença de uma luz, que dá a ela até hoje uma enorme sensação de paz e bem estar, apesar das limitações do corpo muito doente.
“Essa luz era amarela.
Amarelo intenso, muito intenso e luminoso. Ela aproximava e afastava, aproximava e afastava, e na medida em que ela ia e vinha, ela diminuía”, descreve Sandra.
“É uma coisa que eu tenho como que inexplicável.
Eu atribuo a uma coisa do alto, uma coisa de Deus. Só pode.”
A partir do Portal Globo.
EQM: ATOR OUVIU CHAMADO PARA VOLTAR
Posted: 17 Sep 2011 10:49 AM PDT
Uma liberdade completa. Foi assim que a morte apareceu para o músico e ator Fernando Alves Pinto durante os dez dias de coma profundo.
A experiência de prazer intenso começou a partir de um grave acidente de bicicleta.
"Eu estava descendo aqui, devia estar em uma velocidade já elevada.
Só que a minha roda é mais fina do que a roda da moto, e a roda travou em um buraco que devia estar cheio de água.
Aí eu voei e caí com a cabeça na quina de um carro", conta Fernando.
O tombo foi tão violento que Fernando teve uma convulsão.
No hospital, foi operado duas vezes para a retirada de coágulos no cérebro.
“Os prognósticos eram que eu talvez não ia andar, talvez não falar."
“O médico até tinha falado para mim: ‘olha, não tenha muitas esperanças’.
Eu não segui o conselho dele.
Tive muitas esperanças.
Acabou dando certo”, diz Cecília Withaker, mãe de Fernando.
Deu certo, mas ninguém diria que enquanto ele estava inconsciente deste lado, em algum outro lugar andava flertando seriamente com a morte.
"Pular, nesse precipício, seria me dissolver no todo, seria fazer parte de tudo.
Era essa a sensação que eu tinha”, define Fernando.
“Eu me dissolver, me libertar.”
"Ele tinha feito um filme com o Walter Salles, o ‘Terra estrangeira’.
Eu então resolvi me pegar nisso, eu falava para ele:
‘Fernando, acorda, você tem que sarar porque o Waltinho está esperando você para fazer outro filme’", diz Cecília.
"Eu resolvi voltar, porque é engraçado, eu tinha também a sensação de estarem me chamando para voltar”, diz Fernando.
Quinze anos depois, o estudante de clarineta virou músico profissional.
É que logo depois do acidente, era mais fácil para o cérebro do ator ler partituras do que decorar longos roteiros.
Até a recuperação total foram dois anos de muito esforço.
Mas ele não desperdiçou a chance e permitiu o nascimento de um novo Fernando.
"Eu não sou essa carne.
Eu sou fora disso, eu sou além disso aqui.
O cérebro é hipervalorizado.
O cérebro é legal, é uma ferramenta ótima, mas o corpo inteiro é uma ferramenta ótima.
A gente, a nossa consciência, é além.
Isso aqui é só uma ferramenta.
A nossa consciência é muito mais, não cabe aqui só", reflete Fernando.
A partir do Portal Globo.
EQM: O QUE DIZEM OS QUE VOLTARAM DA MORTE
Uma experiência extrema, de quase morte, muda a vida das pessoas para sempre e contagia até quem nunca passou por isso.
É quase impossível ficar indiferente depois de ouvir o relato de quem visitou a fronteira entre a vida e a morte.
O coração parado, o cérebro sem oxigênio.
Na hora da morte, o corpo é como uma máquina desligada.
Pelo menos é o que estamos acostumados a ver do lado de fora.
O tempo passou, mas não apagou nenhum detalhe da Experiência de Quase Morte (EQM) da professora Rita Isabel Rohr.
O que ela passou durante o parto da filha ainda é muito vivo.
Foi 32 anos atrás, como se fosse ontem.
"Eu me ergui e fui puxada por essa luz”, descreve a professora.
“Tinha um túnel, bem longe, e aquela luz me puxava.
Era uma luz tipo um sol, não era uma luz qualquer, era uma luz muito forte, que soltava raios para tudo que era lado, e tinha muita força aquela luz.
Eu cheguei no fim do túnel, e atrás da luz tinha um espaço muito grande, com uma luminosidade tão estranha, tão bonita, que não dá para explicar.
Eu não consigo comparar com uma coisa bonita que tem aqui na Terra hoje para dizer como era bonito lá."
"Não tinha ninguém infeliz.
Estava todo mundo andando, conversando, aparentemente conversando”, acrescenta Rita.
“Eu não ouvia nada, mas era como se fosse um lugar, como é que eu vou explicar?
Não vou dizer Paraíso porque eu não sei, mas uma coisa assim, porque o paraíso para a gente é aquele lugar lindo que você quer ficar para sempre.
E atrás daquela luz, então, é que saiu aquela voz que disse que era para eu voltar, que não era hora de eu ir, porque eu tinha filhos para criar.
Ao mesmo tempo, quando essa voz parou de falar, esse ímã que me puxou me empurrou de volta.
Do jeito que eu saí daquele corpo, da massa-corpo que ficou, eu voltei para dentro."
Foi um parto de muito risco. Rita caiu da escada no oitavo mês de gravidez. O bebê precisava ser retirado com fórceps, mas a mãe não queria.
A hemorragia se agravou tanto que ela chegou a morrer, como contou depois a enfermeira que fazia parte da equipe médica.
"Ela começou a contar isso para mim.
Que eu tinha morrido, que eles achavam que eu tinha morrido, que eu fiquei sem pulso e que eles começaram a trabalhar em mim para ver se eu voltava de novo.
Aí eu comecei a viver, a ter vida de novo, a reagir, e aí que eu comecei a pensar: ‘então eu fui, eu realmente morri’, quer dizer, semimorri”, destaca a professora.
“Fui até lá.
Fui até lá.
É muito bom morrer, se é assim, é muito bom.
Se for assim, tranquilo”, ri.
Até hoje esse era um segredo, revelado agora não só para a família e os amigos de Santa Rosa, a cidade onde Rita mora no interior do Rio Grande do Sul.
Mas aos 63 anos ela acha que não precisa mais se preocupar com o que os outros vão pensar.
"Os detalhes eu não conhecia. Os detalhes eu não tinha conhecimento até hoje”, ri o professor José Albino Rohr.
“Agora estou sabendo detalhadamente."
“E por que você vai contar?
O que as pessoas iam pensar?”, indaga Rita.
“Ninguém ia acreditar em mim.
Ou iam achar que eu estava delirando, viajando na maionese ou tendo alucinações. Porque há 30 anos não se contava essas coisas, mesmo porque as mães ensinavam a gente que esse tipo de coisa não se contava.
Nem para mãe eu não contei."
Hoje, Rita fica emocionada quando conta a história. “Finalmente alguém me ouviu. Finalmente eu consegui contar.
Porque se realmente existe isso, que eu acredito firmemente que existe uma vida após a morte, depois do que eu vi...
Não sei como é, mas deve ser muito bonito.
Isso eu consegui ver lá."
A balconista Cristina de Paula, da padaria em Areal, Região Serrana do Rio, também acredita que a vida não termina quando morremos.
A certeza veio depois de três Experiências de Quase Morte.
Portadora de arritmia maligna, uma doença congênita no coração, ela passou dez anos enfrentando, quase todos os dias, uma parada cardiorrespiratória.
“O coração disparava muito, até parar.
Aí eu não via mais nada.
Meu marido ia me socorrer, aí dizia para mim que quando colocava o ouvido no meu peito ele não sentia o meu coração, só sentia o ruído.
Logo após ele voltava a bater com tanta força que me dava até dor de cabeça", relata Cristina.
A filha Jasmin nasceu com o mesmo problema, mas toma remédios desde pequena e tem a doença sob controle.
“O médico só proibiu ela de exercício físico.
De jeito nenhum.
Nada no colégio ela pode fazer", explica Cristina.
Cristina, ao contrário, foi atormentada pelo risco de morte súbita dos 25 aos 35 anos, até colocar no peito um desfibrilador.
"Nem é bom lembrar”, se emociona.
“Eu tinha muito medo de morrer.
Só Deus sabe o meu medo.
Acho que quanto mais eu tinha medo, mais piorava a situação."
Não é para menos.
A arritmia tirou a vida de 11 parentes, incluindo uma irmã, que teve morte súbita aos 3 anos.
“Eu já tinha perdido uma e não queria perder a outra”, diz emocionada a aposentada Maria da Conceição Rúbio, mãe de Cristina.
“Eu chorei muito."
Em dois momentos diferentes durante as crises, Cristina diz que esteve em um lugar nada agradável.
Uma EQM diferente do relato da maioria das pessoas que passam por isso.
"Eu vi sombras, vultos, pessoas, em um lugar sujo, como se fosse um filme de pesadelo.
Foi uma experiência ruim, muito ruim mesmo.
Uma sensação de morte.
Não gosto de lembrar."
Mas a vida mudou da noite para o dia quando Cristina chegou aos 30 anos.
Na cirurgia para colocar o desfribilador, ela viu e sentiu a presença de alguém muito especial.
"Um homem de branco, de túnica, cabelos compridos.
Ele passou por detrás dos médicos.
Ele não me disse nada, só sorriu.
Não deu aquele sorriso todo, só o olhar dele me disse assim: ‘não se preocupe que eu estou aqui contigo’.
Para mim ele é Jesus, com certeza.
Foi uma paz muito grande que eu senti quando eu vi, muito grande mesmo, não dá nem para descrever. Eu sabia que, naquele momento, acontecesse o que fosse acontecer comigo, ele estaria ali comigo."
Encontros emocionantes fazem parte das Experiências de Quase Morte, mas não aparecem em todos os relatos.
O que está presente na grande maioria das histórias é a sensação de absoluto bem estar.
Ela é a mesma para todos os que vão até a fronteira entre a vida e a morte e voltam para contar a história.
Para o arquiteto Edval Paletta, a lembrança da conversa que teve com a mãe sempre acaba em choro.
Ela estava morta havia três anos e ele, inconsciente, intoxicado com o gás do chuveiro.
"Eu entrei em um túnel maravilhoso.
O piso era como se tivesse uma plantação de trigo, verde, e um odor daquela planta, a dama da noite”, detalha Edval.
“Eu fui caminhando em direção a uma névoa azul nesse túnel.
Do lado esquerdo parecia que tinha um grupo de pessoas que você não conseguia reconhecer.
Minha mãe saiu desse grupo de pessoas.
Veio ao meu encontro e começou a falar: ‘você tem que ir embora que aqui não é o seu lugar’.
E eu: ‘mãe, isso aqui é maravilhoso.
Eu vou ficar por aqui, eu não quero voltar’.
Ela insistiu algumas vezes: ‘calma’.
Até que uma hora - ela é tipo aquelas italianas brabas – disse: ‘você volta que você tem um filho para criar, não é o seu lugar aqui, você volta imediatamente!’"
“Eu estava relutante em obedecer, mas ela foi tão incisiva que eu falei: ‘bom, se eu não voltar eu apanho aqui.
Vai ficar ruim o negócio’”, se diverte o arquiteto. Enquanto isso, a mulher e os vizinhos tentavam de tudo para reanimar o corpo de Edval.
"Eles precisaram arrombar a porta para me tirar de dentro, e tudo isso que aconteceu, eu via como se estivesse de cima, como se não existissem paredes aqui.
Eu vi a hora que o pessoal me tirou de dentro do box e me levou para a cama.
Eu vi meu corpo.
Eles estavam tentando a reanimação em cima da cama."
Depois de 28 anos, com o prazer de ter criado dois filhos, Edval agradece todos os dias por ter voltado - porque se dependesse só do bem estar que sentiu no túnel...
"Se morrer for aquilo, é muito bom.
Você vai passar para um lugar muito legal.
A sensação de paz que se tinha era maravilhosa.
Não é essa loucura que tem aqui", define.
Essa "loucura" era a rotina do delegado Fernando Gomes Pires até o ano 2000, quando foi substituir um colega no plantão e acabou virando notícia.
"Era o último dia das minhas férias quando aconteceu os fatos", diz o delegado Nelson Caneloi.
Houve um tiroteio e o delegado substituto foi atingido pelas costas. "Nesse instante eu percebi que comecei a me ver por cima, lançado paro alto”, diz Fernando.
“Como se tivesse um foco de luz atrás de mim, como se fosse uma luz de teatro em volta do meu corpo.
E eu me vendo lá, parado, do alto, imóvel.
Não mexia nada.
Eu fiquei ali me observando.
A luz era forte, branca.
Passava por trás de mim e eu achei interessante, porque ela só projetava o meu corpo lá no chão.
Como eu não conseguia me mexer, eu fiquei olhando para aquilo.
Eu pensei: ‘eu acho que eu vou morrer.’"
A bala que perfurou um pulmão e uma costela marcou definitivamente a vida do delegado. "Para começar, eu fumava quatro maços de cigarro por dia.
Parei de fumar. Eu ligo menos para os problemas da vida.
Problemas da vida hoje em dia já não me atingem tanto.
Eu acho que tudo passa”, sorri o delegado. “Hoje em dia eu acredito na recuperação do ser humano.
Muitas vezes eu não acreditava antes, achava que aquela pessoa que fez isso não tinha recuperação.
Hoje em dia, não.
Eu acho que tem, sim.
Todo mundo tem que ter chance, todo mundo tem recuperação.
Essa EQM foi uma coisa boa que aconteceu na minha vida.
Eu sinto essa luz, ela me acompanha até hoje.
Não que ela brilhe, mas eu sinto uma segurança.
Quando às vezes eu estou em algum momento, eu penso nela e peço um auxílio, e acabo vindo.
Sempre acaba vindo um auxílio, uma saída.
Eu me sinto protegido."
A partir do Portal Globo.
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