Ogum Xoroquê nos Cultos de Nação
Na tradição oral presente nas religiões de matriz africana e com mais afinco nos Cultos de Nação, Ogum é mencionado nos mitos como irmão de Exu e a proximidade desses dois Orixás nessas culturas é tão grande que por vezes as suas representações confundem-se.
Para o doutor em sociologia e especialista em estudos de religiões afro-brasileiras Reginaldo Prandi, Ogum é o Deus do ferro, da guerra e da tecnologia, no seu livro Os Candomblés do Brasil Prandi descreve as qualidades do Orixá como Ogunjá, Mejê, Onirê, Alacorô, Aiacá, Oromina e ainda Xoroquê que segundo o autor é um Ogum que é metade Exu.
A Dr. Patricia Globo que também é Ekedi do Ilê Axé Iemojá Orukoré Ogum nos explica isso dizendo que no Candomblé é comum a pessoa dizer “eu sou de Ogum Xoroquê” e isso não quer dizer que ele seja filho de outro Orixá que não seja Ogum, mas sim que Xoroquê é uma qualidade, um caminho ou uma especificidade diferente desse Orixá.
Ogum Xoroquê é aquele que é muito próximo de Exu é o Ogum que se aproxima mais de Exu.
Patricia Globo em estudo Tradição do Candomblé – Umbanda EAD
Ela explica também que no transe (dança) ele é muito parecido com os outros Oguns e algo que o diferencia é a possível presença do Ogó, instrumento em formato fálico elemento símbolo do Orixá Exu Africano e característico da manifestação do Xoroquê.
Ogó ExuNo angola: Incôssi, Incossimucumbi e Roximucumbi; no Jeje: Gun.Sincretizado com Santo Antônio e São Jorge, é saudado com o grito Ogunhê Patacori!
No Candomblé a questão do Orixá que rege sua cabeça é algo extremamente importante, é de acordo com a filiação de cada filho de santo que os outros membros do Ilê irão se relacionar com ele, por isso a informação sobre as particularidades de cada Orixá são imensamente relevantes para o povo de santo.
Ela vai dizer que é de Oxum Apará, então você vai saber que é a Oxum que tem uma história com Iansã, que vai usar rosa, não vai usar tanto o amarelo que é a cor principal de Oxum, mas vai usar rosa, pode usar metais vermelhos ao invés de dourados.
Patricia também esclarece que Ogum Xoroquê é muito querido nos Candomblés e que ele seria um Ogum “mais bravo” ou intempestivo.
A origem na África
A dualidade de Ogum Xoroquê surge anterior ao Candomblé, onde no continente africano existia a crença em dois tipos de deuses os Irun Imole e os Igbá Imole, sendo o primeiro Deuses do céu e o segundo Deuses da terra. Segundo a crença Olodumarê teria escolhido Ogum para fazer a guarda e a comunicação entre essas classes de Deuses.
Ogum que era considerado um Omodê Okunrin ou Descendente Masculino dos Orixás Dudu (Orixás negros), contou com a criação de uma terceira categoria de Orixá, os Imole Exú, à eles ficaria a função de protetores de cidades como Lalu, Akessan, Alaketu, Baralakossô e ainda seriam eles os guardiões e servidores dos Orixás Omodê Okunrin e Obirin.
A partir disso o culto à Ogum (Omodê Okunrin) estaria ligado ao dos Guardiões Imole Exú, sendo o Imole Exu Sorokê um guardião de Ogum, se mesclando de tal forma que passou a ser entendido como um Orixá Meji ou Duplo, metade Ogum e metade Exu Xoroquê.
Mito Ogum Xoroquê
O culto de Ogum Xoroquê está ligado também ao fogo, ao trovão e a forças ligadas à Xangô, sendo que uma de suas lendas contam sobre o dia em que Ogum ao voltar de uma caçada e não encontrar vinho de palma, ficou extremamente irritado o que o fez decidir subir no alto de uma montanha e se cortar cruelmente, gritando e cobrindo-se de sangue e fogo.
As lendas podem e devem se contradizer porque não são fatos históricos, existem para revelar arquétipos, perfil psicológicos, histórias de vida dentre outros aspectos.
Pai Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada
Vestindo-se de mariwo esse Ogum, agora chamado de Ogum Xoroquê saiu em jornada, guerreando, lutando, invadindo e conquistando.
Na Umbanda quem é Ogum Xoroquê?
Quando Pai Rubens Saraceni coloca na introdução do seu livro Orixás Ancestrais a seguinte mensagem “que todos aprendam com seus ensinamentos, mas que ninguém negue a eles os créditos devidos pois, tenho certeza, eles abriram para o plano material as chaves da compreensão de alguns dos mistérios de Deus.
Ele deixa claro à quem devemos nos lembrar quando assuntos como este, tratado a seguir, foram abertos e explicados aos irmãos de Umbanda.
Ogum Xoroquê no simbolismo popular da Umbanda
Essas divindades são hierarquizadas e além disso, ainda temos a compreensão que os seres, vivem cada um em um estágio da vida na escala evolutiva.
Entrecruzamento
Os padrões vibratórios das naturezas dos seres sempre estarão ligados aos Orixás Maiores (individualizações de Deus ou regentes de Tronos) e é a partir da imantação dessas divindades que também se formam as hierarquias divinas dos Seres Naturais.
Da mesma forma que nós temos ancestralidade nos Orixás, da mesma maneira que as falanges de entidades humanas se agrupam sob a imantação de um Orixá, isso ocorre entre os Seres Encantados e com os Seres Naturais, porém na dimensão em que vivem se relacionam apenas com uma regência.
Pai Rodrigo Queiroz em Entidades de Umbanda
Entretanto há o entrecruzamento de magnetismos, cada um dos seres serão atraídos (verticalmente) por um Orixá/Trono que lhe atribuirá a qualidade original, por exemplo um ser que é atraído pelo Trono de Ogum, terá como qualidade original o fator ordenador.
Dentro de uma mesma natureza encontraremos Seres Naturais atuando em campos diversos, nos quais identificamos uma Oxum da Fé, outra do Conhecimento, da Justiça, da Lei… algumas tem nomes conhecidos como é o caso de Oxum Apará, no entanto não há uma tradição na Umbanda com relação a diversidade de nomes qualificativos dos Orixás.
Pai Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada
O Sacerdote continua explicando que esses seres cujos nomes já dão uma pista do seus qualitativos como Ogum Beira-Mar, Ogum Megê, Oxum Apará, Iansã do Bale, Ogum Xoroquê.. apresentam-se na maioria das vezes nessa forma mais “humanizada” pois com isso, se fazem entender mais facilmente por nós e ainda apresentam simbolismos presentes no mistério pelo qual atuam.
O estudo destas combinações é chamado de Ciência Divina e é ele que mostra o entrecruzamento de forças que dá origem a tantas formas e nomes.
Pai Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada
E para entender a diferença entre os Caboclos de Ogum, Caboclos de Ogum Xoroquê, Oguns Xoroquês, Exus Xoroquês e etc manifestado no terreiro para um Orixá Natural Ogum Xoroquê, Cumino pontua “simples, Caboclos incorporam e dão consultas, Orixás incorporam e executam toda uma ritualística sem pronunciar nenhuma palavra e quando muito dizem, falam apenas o seu nome“.
Por isso, um médium pode incorporar Ogum Xoroquê e depois descobrir que este é um espírito humano Caboclo de Ogum Xoroquê e por isso ele se manifesta com as mesmas características de uma entidade, que como colocado por Cumino se difere da manifestação do Orixá/Ser Natural.
Portanto de uma forma interpretativa na Umbanda – que aceita a Ciência Divina e dá suporte para a compreensão desse acontecimento na religião – Ogum Xoroquê é um ser natural de Ogum e sendo assim tem como natureza o Trono Ordenador da Lei, mas que atua na força e no mistério do Orixá Exu.
Não entendemos que esse seja um ser que é metade Exu e metade Ogum, mas sim, que ele tenha em sua essência essas duas composições energéticas, sendo a primeira sua natureza e a segunda sua atuação.
Manifestação de Ogum Xoroquê
Aos médiuns que trabalham com a manifestação de Ogum Xoroquê é comum o relato de uma manifestação intensa, vibrante, com dança e giro frenéticos e também de energia mais densa, característica da influência energética do mistério de Exu.
É também comum a manifestação de Xoroquê nos dias de trabalhos mais pesados, em que os atendimentos irão demandar mais fortemente do corte de magias e do encaminhamento de energias negativas acumuladas e cultivadas pelo próprio consulente.
Ogum Xoroquê já esteve na África, vive no Candomblé, na Quimbanda e é presença forte nos terreiros de Umbanda.
Salve Nossos Guardiões da Lei! Salve Ogum Xoroquê! Exu Xoroquê! Caboclos Xoroquê!!
Texto:
Júlia Pereira
Entrevista:
Dr. Prof. e Ekedi da Casa das Águas, Patricia Globo
Consultoria:
Pai Rodrigo Queiroz
Fontes de Pesquisa:
Teologia de Umbanda – Jornada, com Alexandre Cumino
Gênese Divina de Umbanda Sagrada, Rubens Saraceni, Ed. Madras.
Deus, Deuses e Divindades, Alexandre Cumino, Ed. Madras
Estudo Tradição do Candomblé – Umbanda EAD
Os Candomblés do Brasil, Reginaldo Prandi
Os Africanos no Brasil, Nina Rodrigues
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