sexta-feira, 18 de outubro de 2013


A TIRANIA DO EGO

Publicado por adi
Há ainda muita confusão sobre o processo de “individuação” de Jung, talvez porque a palavra “individuação” nos faz pensar em indivíduo, e indivíduo significa pessoa, sujeito, que também pode ser uma individualidade , ou seja, aquilo que constitui o indivíduo, o caráter ou personalidade.  Talvez porque esse processo seja também equivalente ao processo de desenvolvimento espiritual, e os teósofos sempre se referiram ao Espírito ou Centelha como “eu superior”,  termo esse inadequado pra designar o Espírito, o atemporal.  Fato é que,  por causa dessa confusão, muitos igualam/equiparam o “ego” com a consciência, algumas vezes Jung escreveu de forma ambígua a esse respeito, por isso, interpretam esse processo de individuação como uma “identificação” do ego  com a Centelha/Espírito.
Tem sido muito difundido ultimamente por modalidades diferentes de psicoterapia e psicanálise que o processo de individuação ou realização espiritual se refere como uma “espiritualização do ego”,  da conexão do ego com o divino,  da identificação do ego  com o Espírito, da ligação do ego com a Essência/Centelha, fonte última de força, de onde o ego conectado expressa essa força (poder)  e retira dela (força)  resultados concretos, como “sacudir as fundações do mundo” ou “grandes reformas sociais”, e que o “ego é uma gloriosa manifestação do Espírito”. Isto posto, fica claro que o objetivo dessa postura/interpretação é colocar os poderes do plano espiritual  subordinados  ao “grande ego” que expandiu seus limites ao ponto de abarcar essas forças. Essa postura que vem sendo muito difundida, confundindo em muito a mente das pessoas, também pode ser descrita como “fortalecimento do ego”,  e que, esse processo, visa a plena adaptação à vida tal qual ela é, ou seja, a adaptação ao que aprendemos a chamar de “realidade”. Essa adaptação, é exatamente o que contribui para manter as pessoas acorrentadas ao sistema de dominação, ou sístase.
Em total oposição a essa interpretação, sempre se mostraram as religiões e filosofias, especialmente as orientais, que sempre enfatizaram a “transcendência do ego”,  pois o ego é o principal obstáculo à realização espiritual. Alguns místicos também se referem a essa mesma transcendência do ego, de forma “simbólica e metafórica”, como sendo a morte do ego, ou seu aniquilamento.
E aqui surge um novo problema, porque segundo essas modalidades de psicoterapia, a transcendência do ego implica em “incluir” o próprio, e a ausência do ego acarretaria em psicose, ou seja, delírios e alucinações, além de perda cognitiva – escolhas, julgamentos e decisões – e não em “iluminação”.
Obviamente, em portadores dessa patologia tal coisa é assim, e os hospitais psiquiátricos podem comprovar, mas isso não significa que tais pessoas possuem tal patologia em consequência de suas buscas espirituais, muito menos podemos comparar um Krishnamurti, um Ramana Maharshi , ambos grandes sábios iluminados de nosso tempo, com os portadores de psicose. Essa interpretação não parece satisfatória.
A realidade: Os neurocientistas descobriram que todos os nossos cinco sentidos são percebidos no cérebro como sinais elétricos, desta forma, o cérebro durante nossa vida, jamais se confronta com a fonte original do objeto existente fora de nós, mas apenas com uma cópia elétrica do mesmo, formada dentro de nosso cérebro. Além disso, esse mecanismo do cérebro que transforma os sinais elétricos em percepções/sensações, cria uma memória de todas as experiências que temos como reação a um dado estímulo. Quando um estímulo semelhante é reapresentado, o registro clássico do cérebro reproduz  a velha memória. Toda reação previamente experimentada, aprendida, reforça a probabilidade de que volte a ocorrer a mesma resposta. Essas memórias são os condicionamentos.
Segundo o físico Amit Goswani, em seu livro “O Universo Autoconsciente”, com o aprendizado, as respostas condicionadas começam a ganhar mais peso sobre as outras, pois uma vez aprendida uma tarefa, em todas as situações que a envolvam, há quase 100% de probabilidade de que uma memória correspondente desencadeie uma resposta condicionada. Esses numerosos programas são aprendidos no desenvolvimento do indivíduo, conforme a família, cultura, sociedade no qual ele está inserido, e se acumulam dominando o comportamento do cérebro-mente. Ainda, segundo Goswani, esses condicionamentos são nada mais, nada menos, que o ego.
Portanto o eu não é uma coisa, mas uma relação entre experiência consciente e ambiente físico imediato. Na experiência consciente, o mundo parece dividir-se entre sujeito e objeto. Ao ser refletida no espelho da memória, essa divisão produz a experiência dominante do ego. Na teoria quântica da autoconsciência, o colapso da superposição coerente dos estados quânticos do cérebro-mente, cria a divisão sujeito-objeto no mundo. A “consciência identifica-se”  com o processador aparente das respostas aprendidas (condicionamentos), isto é, o ego.
Verificamos que é a consciência que alienada de sua verdadeira natureza se identifica com o ego, não o contrário. Percebemos que consciência e ego são coisas completamente distintas, portanto não podem ser equiparadas.
Essa proposta que a física quântica apresenta, vêm bem de encontro ao que as religiões ocidentais e orientais também apresentam, ou seja, sendo o ego equivalente aos condicionamentos que distorcem a percepção do real, nada mais coerente, quando na chegada do tempo, ou amadurecimento da consciência, esta como a Borboleta, irrompa o casulo e voe para a liberdade, se desvinculando/desconstruindo (que seja aniquilando/matando, somente palavras que indicam transcender) totalmente (d)os condicionamentos (ego).
Consciência/Inconsciência: “Não podemos escapar ao fato de que o mundo que conhecemos é construído a fim de ver a si mesmo”  G. Spencer Brown

Na física quântica, a realidade é criada pela nossa consciência, pois é a observação que provoca o colapso da função de onda, escolhe uma das possibilidades contidas na superposição coerente e a transforma na realidade concreta percebida pelo observador.
Mas o que é exatamente a consciência e o inconsciente?
Pesquisas recentes na ciência cognitiva, indicam que pensamentos e sentimentos (mas não a escolha) surgem como reação à percepção inconsciente de estímulos, como por exemplo testes de mensagens subliminares. Segundo esses dados, aparentemente não exercemos escolha, a menos que estejamos agindo conscientemente, – com percepção como sujeitos. Esse fato levanta a questão do que significa agir sem percepção  ( o conceito do inconsciente). O que  em nós é inconsciente? Para Goswani, o inconsciente é aquilo para o qual há consciência, mas não percepção. Há um paradoxo, porque a consciência é o fundamento do ser. A consciência é onipresente, mesmo quando nos encontramos em estado inconsciente. É a nossa parte consciente que permanece inconsciente de algumas coisas durante a maior parte do tempo, inclusive no sono sem sonhos, ou sob anestesia geral. Em contraste, o inconsciente parece permanecer consciente de tudo, durante todo o tempo. Ele jamais dorme. É o nosso eu consciente que está inconsciente de nosso inconsciente, e o inconsciente é o que permanece consciente – e temos os dois termos ao avesso.
Ele diz que quando se  fala de percepção inconsciente, significa que os eventos são percebidos, mas não são reconhecidos pelo consciente. Apesar disso, há distinção entre percepção e consciência.
Devido a essa distinção, cabe perguntar:  a opção/escolha ocorre também na percepção inconsciente?  – se não escolhemos, não confessamos reconhecer nossas percepções. Em testes, um homem cego , nega ter visto alguma coisa quando evita obstáculos.
Escolho, logo existo”, mas o sujeito que escolhe é um sujeito único, universal (Centelha), e não o ego pessoal, o “eu”.
Portanto a consciência é anterior às experiências, é anterior à separação de opostos. Ela não têm objeto nem sujeito, sendo anterior ela é incondicionada. Ela é tudo que há, nada mais existe, senão a Deus.
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Fontes e ref.: Amit Goswani , “O Universo Autoconsciente”;  O Franco Atirador , “Consciência e ego”; Saindo da Matrix;
M.C.Escher – Autoretrato e foto de Hugo Tzauyang

 Respostas para “A TIRANIA DO EGO”

o que nada sabe disse

Olá Adi
Eu tenho os dois pés atrás com a psicologia integral do Wilber exatamente por esse motivo. Posso ta entendendo errado, mas colocar como condição para uma experiência mística a “presença” do ego me parece no mínimo estranho.
Abraços

adi disse

Oi O Que Nada Sabe,
“Eu tenho os dois pés atrás com a psicologia integral do Wilber exatamente por esse motivo”
Eu também, pode ser que hoje em dia o Wilber tenha mudado de postura (vai saber?), mas a idéia que ele passa é exatamente essa: que o processo de individuação consiste em se tornar “uma individualidade única”, um ser “pessoal” com as qualidades e poderes espirituais, como a própria divinização do ego. Essa me parece a mesma postura utilizada pela Teosofia, eu estudei muito a Teosofia, e é essa mesma idéia passada. Inclusive que as hierarquias de anjos bons foram criadas pra nos ajudar em nossa evolução, e assim também nos parece que estão aqui pra nos prestar serviços, etc. E tudo isso faz exatamente com que o homem continue pensando que é o “centro do universo”, o ser todo especial, que vai se iluminar e continuar sendo ele mesmo, só que iluminado, somente tendo o bem dentro dele, se tornando uma pessoa pura e poderosa.
E continua na mesma ilusão, e mantendo a mesma ilusão de que é o ego que incorpora em si-mesmo os poderes. Talvez por isso Wilber, após fundar a psicologia “transpessoal”, fundou a psicologia “integral”, passando a idéia que é o ego que integra as forças.
Não, não é. Quem se individualiza é a consciência, ou Sophia/Kundalini, e Jung sempre disse que quem “integra” a sombra, e o animus/anima é a “consciência” não o ego, e que justamente esse integrar vai quebrando as amarras do ego, ou seja, a consciência vai se libertando dos condicionamentos, e do ego.
Jung diz:
“cada vez mais noto que o processo de individuação é confundido com o advento do ego à consciência e que o ego é, em conseqüência, identificado com o self, o que naturalmente produz um distúrbio incorrigível. A individuação fica sendo então apenas egocentrismo e auto-erotismo..”
E se o intuito é justamente sair da matrix e do mundo das ilusões; oras, se “adaptar” a ela (matrix) é justamente o que o ego quer… :)!

adi disse

“indiquei este post na “comunidade Budismo” do Orkut…”
Lex, obrigado pela indicação, viu.
“mas esqueci de te pedir… (ejaculação precoce mental)… Desculpe!”
e precisa pedir?? claro que não, é um prazer!! não tem nada que se desculpar não. ;)

Sem disse

Adi, amigos,
O grande barato é então a “consciência”… não o ego – falsa noção de um “eu” isolado dos demais, isto é, sem relação com o cosmos… tampouco é o self – q é a falsa noção de separatividade do cosmos em relação a nós…
A realidade é que tudo está conectado… então, repito, o grande barato é a “consciência”… que não é o ego, nem o self, nem a racionalidade ou a irracionalidade, mas a conexão entre os agentes numa relação viva, atual, presente, possível, entre todos os envolvidos no exercício de suas ações.
A estrutura passa das verticalidades hierarquizadoras – das relações de poder – para as horizontalidades em redes, permeáveis e não mais isolacionistas – isto é, como nas organizações colaborativas.
Ser isolado é mesmo uma grande ilusão…..
Seria então o eixo ego-self (de Jung) atuando? melhor, esquecendo o conceito, pois que “eixo ego-self” é apenas um postulado de teoria, seria a alma do mundo atuando: anima mundi? e Internet uma das formas estruturantes possíveis disso?
Eu aqui estudando “redes sociais” (tudo a ver com o post), pesquisando hoje me deparei com esse vídeo muito bom do prof. Augusto de Franco, estudioso e ativista desse assunto, em que ele resume e dá imagens (literalmente) dessa estrutura em rede a que estou me referindo… Ele diz ali no meio de sua palestra uma coisa em que acredito muito, que as relações entre as pessoas já são determinadas a partir da estrutura dada numa relação, não importando tanto como os agente se “sentem”, eles se comportam em princípio a partir da estrutura… penso que essa estrutura é de ordem arquetípica… Por fim, penso que para mudar as relações, seja eu comigo mesmo ou eu com o mundo – é tudo uma coisa só, é preciso pensar formas e conteúdos atuando em conjunto…
O vídeo demorou um tanto a carregar aqui, mas não é longo, uns 15 minutos só:

adi disse

Oi Sem,
Ainda ontem assisti ao vídeo, muito interessante, bem bacana!! E vemos o quanto o homem, talvez à partir de 1800, evoluiu muito. Os físicos do século passado trouxeram tantas descobertas, e agora nos últimos anos uma nova revolução de conhecimentos cerebrais, e quânticos, e dessa nova física que mede partículas, surgiu até, quem diria, a internet (rsrsrs). Eu lembro que um cientista do LHC contou como surgiu a “rede”, e que afinal, foi um bem mundial. Sim, parece sim a materilização de uma estrutura arquetípica – bem interessante sua questão.
“O grande barato é então a “consciência”… não o ego – falsa noção de um “eu” isolado dos demais, isto é, sem relação com o cosmos… tampouco é o self – q é a falsa noção de separatividade do cosmos em relação a nós…”
É o que tudo indica, o grande barato é a “consciência” – que neste momento de nossa humanidade, está identificada, voltada sua atenção, doando sua força, a essa falsa noção de um “eu”, que têm por função exatamente essa, de isolar dos demais, separar mesmo, pra que a consciência não regrida pro inconsciente de onde surgiu, e o ego tem sua função até que a consciência se estruture, amadureça, chegue ao ponto onde pode se voltar pra o “inconsciente” ou self, e se tornar consciente do plano arquetípico e potencial, agora com “discriminação”, unir conscientemente o cosmos e a terra. Isso é equivalente a travessia do abismo de Daath, o hierosgamos, a coniunctio, etc.
” A realidade é que tudo está conectado… então, repito, o grande barato é a “consciência”… que não é o ego, nem o self, nem a racionalidade ou a irracionalidade, mas a conexão entre os agentes numa relação viva, atual, presente, possível, entre todos os envolvidos no exercício de suas ações.”
Tudo leva a crer que neste momento, “aqui/agora” tudo está conectado, o tempo todo; mas há um erro de percepção, que impede que percebamos que seja assim, e é na consciência que tudo isso se une, ou melhor, que quando todas essas criações perceptivas, memórias (condicionamentos/ilusões) são retiradas, se têm a percepção do real; e por paradoxo que pareça a terra e o céu se tornam um só; matéria é espírito e espírito é matéria; o nirvana é o samsara e o samsara é o nirvana.
Mas o único ponto que é difícil de entender, motivo deste post, e que muitos psicólogos se equivocam, porque não conseguem diferenciar consciência e ego; é que nessa visão de mundo “unificado”, onde não há opostos, não existe tal coisa como o “eu”, nem “você”, nem meu, nem seu – simplesmente porque é a consciência que retornou ao estado de “superposição coerente”, que é equivalente ao pleroma, e se une àquela “consciência” que nunca dorme, que conhecemos como inconsciente/pleroma/arquétipos/céu/atemporal/ o eterno.
Uma boa analogia, seria aquela estrutura que o prof. Franco citou, da rede. Supondo que a rede como é mostrada é a “Anima Mundi” dividida em seus vários pontos em separado ao mesmo tempo todo conectado, cada um desses pontos é um ser humano, auto-consciente somente de sua parte material, como parte material, ela a consciência se percebe como um único ponto “eu” separado dos outros pontos “eles”, mas quando recupera sua plenitude, a consciência se percebe como em “rede”, apesar de ser um ponto (estar num corpo físico). Com relação a isso Paulo apóstolo disse: “Já não sou eu quem vivo, mas o Cristo vive em mim”.
O “eu” é somente um estado de percepção, mas não é a realidade única. :)

adi disse

Sem,
Só pra não parecer que sou totalmente radical com relação ao “ego”, porque não sou, e afinal, eu ainda sou a adi ;)– o que tenho o pé atrás, é quando dizem que na “realização espiritual”, na iluminação, é “impossível” viver sem ego, insinuam que o ego se flexibiliza e se expande pra absorver a “totalidade”, e descrevendo assim faz parecer que o ego se torna como Deus. Em minha modesta opinião, digo que tal coisa não é assim, não que eu saiba como “é” de fato plenamente, mas digo então por mim, pelas minhas próprias experiências, pelo pouquíssimo que sei, que tal coisa não é assim.
Sabe Sem, e digo por mim também que essa busca que me move e que não é minha, me puxa nessa direção, se concordo em ir ou não, a voz diz: problema seu, porque vai do mesmo jeito; a pergunta é: prefere ir com dor ou sem dor?
Nunca tive controle sobre o fluxo, só aprendi a surfar melhor, e algumas vezes aceitar a vontade maior e fazer dela minha vontade também, então nesses casos foi sem dor, sem sofrimento, só alegria, chamo a esse fluxo ou força de “destino” a ser cumprido ou realizado. Não sou eu a adi quem escolho, mas é um outro querer, uma força muito superior que desenha o destino, e as coisas se cumprem na vida visando o quebrar paradigmas, desfazer conceitos, pra “Ser” mais – e quanto mais a “força” se realiza, mais o eu diminui. Ela a “força” é o motivo e a causa da existência, e é a própria existência, Ela a Força é o antes e o depois e o agora, é tudo que há, e eu a adi, só posso me render e me entregar a isso e dizer: que se cumpra Sua Vontade e não a minha, para que um dia se realize então em mim a mágica da Vida, que eu não sou, mas que Tudo és…
E por eu saber assim, não posso mais dizer ( já disse muito) que “minha” meta é me iluminar ou realizar o espiritual, Quem se realiza aqui é essa Totalidade, sendo Totalidade não há meta a cumprir, é uma ilusão achar que a iluminação é a retirada da vida; a consciência que está naquele “ponto”, sem separação, vive a plenitude sem sofrimento algum porque não tem mais condicionamentos, nem divisão mesmo estando no físico, e então surge o verdadeiro Amor – Ágape/caridade/compaixão,o amar aos outros como a si-mesmo, porque esse ponto é ao mesmo tempo todos os outros, não há mais separação – não é por pena ou por dó, mas porque também é os outros seres em si-mesmo. E como tudo o mais, isto tudo que está escrito, também não é assim… :D
bjs

Sem disse

Oi Adi,
Sossega o teu coração que eu não te acho uma radical do ego, ou melhor, do self… :)
E não creio que ninguém que te leia por aqui, em sã consciência, possa chegar a uma conclusão dessas. Pelo contrário, vc é bastante flexível e pronta a escutar o que todos têm a dizer, seja lá o que for tenham a dizer. Claro que eu percebo que tem algumas questões em torno das quais vc insiste… mas são as suas questões nessa vida, não? e em parte elas nos revelam quem é a Adi lá no fundo… Como é natural que todos tenham no seu âmago as suas questões a resolver e nelas insistam. Depois, todos temos o direito de ser respeitados naquilo que somos e que começa pela manifestação de nossas opiniões… Já pensou que mundo bom e tão melhor seria se todos tivéssemos consciência, motivo na vida e fé em si e no outro? E que bom seria se houvesse respeito recíproco?
Vc tem todo o direito de dizer o que pensa. Só não sei se eu entro no mérito da sua discussão de argumentar profundamente sobre iluminação… pois realmente eu não sei o que deveria ou precisaria ser feito no caso… Posso falar de individuação, pois desse mal acho que venho padecendo, mas, iluminação, não tenho esse tipo de meta, nem esperança. O que eu penso é levar uma vida significativa e ética. Isso eu posso, tenho tamanho pra abraçar nessa vida…
Não discuto os meandros da espiritualidade… mas sei que não é muito legal moralizar o caminho espiritual das pessoas, quer dizer, julgar esse ou aquele caminho melhor…
Desde que a liberdade de um não fira mortalmente com a do outro, deveríamos ser mais tolerantes com o caminho de todos… pois sempre que se julgam caminhos, há uma hierarquia sendo estabelecida e, claro, sempre o “meu” vem na frente do “teu”… interessante que nunca é o contrário – é uma espécie de miopia de quem julga, ver apenas a verdade naquilo que está mais próximo….
Outra coisa que tb não acho legal é moralizar o amadurecimento psicológico das pessoas, como se fosse uma falha de caráter padecer de uma neurose, sofrer de uma inflação, de surtos episódicos… como se os sujeitos tivessem opção em escolher suas “doenças”… como se ter controle sobre o próprio caráter já não indicasse uma big de uma neurose. As pessoas não escolhem ser quem são, não escolhem, essa é que é a primeira verdade do psiquismo… pois o mundo, o tempo, a cultura, a família, muita coisa externa lhe é dado sem escolha, e todos são fatores determinantes na expressão de um sujeito… só a individuação mais tarde é que faz o indivíduo se diferenciar do que lhe foi dado, pelo outro, pela família, pela cultura, seu tempo… Mas, na real, individuação é para todos? Tolerância aqui é mais do que bem-vinda tb, aliás, o direito de viver sem alcunhas deveria ser inalienável aos sujeitos…
Não vou falar de iluminação, mas olha a loucura… uma loucurazinha é sempre boa, faz toda a diferença em dar o ar da graça e da verdade de uma pessoa… Depois, quem muda os destinos da humanidade são os loucos mesmo… os marginais, os radicais, só eles têm coragem pra tanto, ou autenticidade sem medir as consequências… Veja que a humanidade seria terrivelmente mais pobre sem os “Dostoiévskis” dessa vida, sem os “Picassos”, os “Hemingways”, os “Nietzsches”? listas e mais listas de pessoas consideradas loucas, e loucas de fato, atestam que a humanidade é melhor com eles e insuficiente sem eles…
Vamos nos permitir ser um tanto mais dementes e, por que não?, radicais, mas sãos igualmente, ou o suficiente para aceitar que o outro tem todo o direito de ser diferente de mim e por isso não é pior ou melhor que eu. Só é diferente.
Viu, Adi, a alteridade é o meu grande barato. Eu descobri que a alteridade, ao contrário do que pregou o Sartre, é uma fonte de felicidade, pois é povoar o mundo de seres reais e não apenas por espelhos de si mesmo.
Uma prova da grandeza espiritual de uma pessoa pra mim é o quanto ela consegue aceitar e amar os outros independente de quem são… A iluminação parece ser isso mesmo, tudo elevado a enésima potência. Do Amor ao nada.

adi disse

Obrigado Sem, vc sempre compreensiva, sem julgamentos… é verdade, “alteridade” se encaixa perfeitamente em você.
“Vc tem todo o direito de dizer o que pensa. Só não sei se eu entro no mérito da sua discussão de argumentar profundamente sobre iluminação… pois realmente eu não sei o que deveria ou precisaria ser feito no caso… Posso falar de individuação, pois desse mal acho que venho padecendo, mas, iluminação, não tenho esse tipo de meta, nem esperança.”
Ultimamente eu perdi essa ilusão também, verdade. Mas não vou mentir, o quanto não busquei, só deus sabe e o diabo melhor ainda (rsrs), porque negava-o descaradamente :). Mas a vida ensina o tempo todo, e lá um dia temos que nos olhar no espelho de frente e encarar a “medusa”, e encarar nossa própria face sem máscaras. Hoje não tenho essa ilusão porque sei que tudo é o que é, e cedo ou tarde vai acontecer quando tiver que acontecer; estou fazendo o meu melhor, a parte que me cabe.
“Não discuto os meandros da espiritualidade… mas sei que não é muito legal moralizar o caminho espiritual das pessoas, quer dizer, julgar esse ou aquele caminho melhor…”
Você tocou em um ponto importante, no qual procuro respeitar, o caminho de cada um e a religião que cada um queira seguir, definitivamente não é problema meu. Nesse quesito prefiro ter meu próprio mapa,prefiro como o Vivekananda disse, mas não critico ninguém que prefira seguir um mapa fixo deixado por outros. Cada um tem esse direito.
” Outra coisa que tb não acho legal é moralizar o amadurecimento psicológico das pessoas, como se fosse uma falha de caráter padecer de uma neurose, sofrer de uma inflação, de surtos episódicos… como se os sujeitos tivessem opção em escolher suas “doenças”… como se ter controle sobre o próprio caráter já não indicasse uma big de uma neurose. As pessoas não escolhem ser quem são, não escolhem, essa é que é a primeira verdade do psiquismo…”
Você hoje está “pegando no ar” :). Pois é, faz parte do processo uma neurose “antecipada” como diz Jung – a inflação vez ou outra, aquela certa loucura. Vim a saber que Jung morria de medo de ficar louco como Nietzsche. Porque esse é um risco que corre ao lado da individuação, você sabe disso, que se a “consciência” não estiver estruturada o suficiente, pode fragmentar-se de novo no inconsciente.
Sem, eu estou meio em crise espiritual, estou bipolar espiritualmente, acho que faz tempo até, você deve ter percebido :), ando intercalando momentos de completa euforia, alegria e êxtase com a vida, com momentos de profunda solidão espiritual, como se ninguém mais pudesse compartilhar isso comigo, como se fosse um eco no escuro. Mas eu sei que isso, claro, tem a ver comigo mesma, é uma “realidade/ilusão” na minha percepção que tenho que enfrentar e resolver. Eu sei que vai brotar alguma coisa bem interessante disso, assim espero!
Olha, ler o livro do Goswani foi tudo de bom nesse aspecto “consciência”. O que mais achei interessante, muito mesmo, foi o fato dele descrever o “inconsciente” como estando na verdade sempre “consciente”, e a consciência tal qual percebemos aqui, como sendo na verdade consciente só algumas partes, ou seja “inconsciente” do Inconsciente. Fez todo o sentido.
E a isso explicaria, por ex. intuições e insights que surgem sem raciocínio; ou no caso dos testes subliminares, também no caso da pessoa cega quando desvia de obstáculos, ela não sabe conscientemente que desviou porque não viu, mas então quem viu e desviou?
Você já leu esse livro “O Universo Autoconsciente” ? vale a pena.

adi disse

Ai, ai,
Sem, eu escrevo uma coisa querendo dizer algo, depois leio e percebo que parece outra coisa.
Sabe lá mais em cima quando escrevi isso : ” um outro querer, uma força muito superior que desenha o destino”, fica parecendo daquela forma dos “altos picos e montanhas”, do Deus no céu, o Si-mesmo inatingível, bem, então como fica a consciência do texto??
Apesar do que escrevi levar a entender dessa forma, talvez seja um vício da fala, mas eu entendo dessa forma como está no texto, e concordo plenamente com vc,sobre o desenvolvimento na horizontal, sem hierarquias, e em rede.
O complicado é que definir o arquétipo acaba levando a vários erros de linguagem, mesmo porque não dá pra definir sem limitar. Além do que, o Arquétipo possui um caráter “atemporal/infinito” em possibilidades, tem aquela característica altamente numinosa, superior em tudo; esse é um fato do qual todos os místicos atestam.
O erro de linguagem se dá, porque nas experiências místicas, relatam que a luz entra pelo alto da cabeça e dali desce para o corpo, além claro do aspecto numinoso.
Então é totalmente condicionamento dizer força superior, vontade maior; muito embora seja uma Força desmedida e uma Vontade de outra natureza que o querer…
Então, como dizer sem parecer que tal coisa se encontra no alto da montanha??
Complicado pra mim!!!
 

 

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