Neste vídeo, explicamos sobre as origens do Zohar, "O Livro do Esplendor", sua importância para a Cabala e a importância da relação Mestre-Discípulo para que sua interpretação seja correta.
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O ZOHAR - O Livro do Esplendor
Antes de tudo, o que me encanta neste livro é seu viés poético.
“Os dias que hão de constituir a vida do homem estão todos unidos no momento de seu nascimento.
É uma bela passagem, sobretudo quando entendemos o pecado não apenas como ofensa aos princípios de uma moral dada por Deus.
Pode ser uma palavra, monossilábica, onomatopaica, um gesto, um grito, uma expressão de alguém a outrem, religioso ou não, que fere o acordo da convivência em sociedade.
O pecado pode ser um pensamento maldoso.
Nem por isso existe o inferno, mas, ainda assim, e por muito menos, o diabo aparece e faz a captura.
Com a leitura do Zohar, não serei Shimon ben Yochai, nem seus discípulos, mas espero que meu coração, um dia, seja iluminado pela luz esplêndida da sabedoria divina, essa luz trazida pelas fontes do saber, mergulhada no rio do entendimento, quem sabe, ao menos, na hora da morte, amém.
A origem do Zohar
O Zohar é considerado a espinha dorsal da Cabala, que é a parte mais secreta e mística da Torá Oral.
Esta publicação não abrange todos os ensinamentos do Zohar.
De acordo com a tradição judaica, os ensinamentos da Torá Oral teriam sido transmitidos diretamente por Deus a Adão e, posteriormente, aos patriarcas e a Moisés.
Em decorrência disso, os sábios do judaísmo resolveram compilar partes desse ensinamento e escreveram o Talmud (interpretação de nível literal e alegórico dos textos bíblicos) e os Midrashim (conjunto de textos que compõem a interpretação de passagens do Tanak, a bíblia judaica).
De acordo com uma das versões do surgimento do Zohar, sua compilação, já no século III d.C., coube ao rabino Shimon ben Yochai, considerado um dos “maiores homens santos da tradição judaica.”
Há, no entanto, outra versão, segundo a qual, o Zohar não faz parte dos ensinamentos tradicionais da Torá, tendo sido criado (em aramaico, volto a frisar) apenas no século XIII, pelo próprio Moisés de Leon, que, para dar mais crédito ao feito, atribuiu os manuscritos, que nunca foram encontrados, por sinal, ao rabino Shimon ben Yochai, que aparece como o mestre que revela os segredos do Zohar aos seus doze discípulos.
A estrutura do Zohar
Pouco importa.
O livro em questão se divide em três partes principais: Revelações feitas à Grande Assembléia; revelações feitas à Pequena Assembléia; e Trechos do Zohar sobre Shimon ben Yochai e sobre seus discípulos.
O cerne da simbologia presente no Zohar está nas categorias chamadas sefirot, plural de sefirá.
Segundo o Zohar, Deus está acima de qualquer atributo, ou imagem ou corpo. Por esta razão, é impossível para o homem alcançar o significado da totalidade divina.
“Entretanto, quando as águas estão espalhadas na terra, somos capazes de concebê-las e falar delas sob variadas formas: primeiro, há a fonte; daí o rio que brota dela e espalha suas águas sobre a terra.
E assim, temos o quadro dentro do qual são formadas as dez sefirot.
Em seguida, vêm os sete mares, cada um representando um atributo:
Misericórdia (Chéssed), Justiça, ou Rigor (Guevurá), Beleza (Tiféret) – formando o mundo da criação –, Triunfo, ou Vitória (Nêtsach), Glória (Hod), Fundação, ou Fundamento (Iessód) – constituindo o mundo da formação – e, finalmente, Realeza, ou Reino (Malchut) – o mundo da ação.
Embora essas categorias representem a Imagem de Deus, elas refletem também o divino que há no homem, uma vez que a Imagem de Deus “encerra todas as imagens de cada coisa de que estamos conscientes com todos os nossos sentidos e em todas as formas.”
É interessante imaginar que há em nós uma fonte infinita de saberes, um rio de sabedoria, sete mares de atributos divinos.
Abro aqui um parêntese para lembrar que foi com base nessas categorias que o crítico Harold Bloom elaborou uma lista de cem gênios da linguagem, colocando William Shakespeare na ponta da Coroa (Kéter), que inclui mais nove nomes, entre eles Miguel de Cervantes e Michel de Montaigne.
Voltando ao Zohar, na introdução do livro em português, a tradutora ressalta a importância do acesso a esse saber em nossa língua e conclui dizendo esperar que o contato inicial com o Zohar “abra a porta para que seu trabalho mais complexo e amplo possa ser vertido em breve em nosso país.”
Da mesma forma que não precisamos ser crédulos para ver o lastro de valores imanentes na Bíblia, que ajudaram a fundar a cultura ocidental, não é necessário acreditar em Deus para perceber o valor do Zohar, cujas palavras, além do significado religioso e do senso moral, denotam traços de rara beleza poética e saber filosófico.
Trechos:
“Por todo o país, em volta do Mar da Galiléia, o mestre, Shimon ben Yochai, passeava com seus alunos.
Ele disse a seus discípulos: ‘Infeliz é o homem que vê na interpretação da Lei a recitação de uma simples narrativa, contada em palavras de uso comum.
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