A descoberta do bóson de Higgs e o fato de conhecermos sua massa tem implicações enormes para a física.
O bóson de Higgs é tido como a chave para resolver o mistério da origem da matéria.
Ele é associado com um campo, que, adivinhe, tem o nome de campo de Higgs, permeando o universo.
Conforme as partículas viajam através dele, elas adquirem massa, assim como nadadores atravessando uma piscina ficam molhados.
“O mecanismo de Higgs é o que nos permite entender como as partículas ganham massa”, afirma João Guimarães da Costa, físico de Harvard e especialista no Modelo Padrão da física no LHC.
“Se não houvesse tal mecanismo, tudo seria sem massa”.
Se os físicos confirmarem a existência do bóson, a descoberta também confirmaria esse mecanismo.
E talvez ofereça pistas para o próximo mistério, que é por que cada partícula tem uma massa específica.
“Isso pode ser parte de uma teoria enorme”, afirma outra física de Harvard, Lisa Randall.
O Modelo Padrão da Física é a teoria reinante das partículas físicas, tratando dos menores constituintes do universo.
Toda partícula prevista nesse modelo já foi descoberta, com exceção de uma: o bóson de Higgs.
“É a parte que falta no Modelo Padrão”, comenta Jonas Strandberg, um pesquisador do LHC. “Então, seria uma confirmação de que as teorias que temos estão corretas.
Se não acharmos o Higgs, significa que fizemos algumas acepções erradas, e vamos ter que começar de novo”.
Mas o Modelo Padrão não é completo.
Ele não abrange a gravidade, por exemplo, e também deixa de fora a matéria escura – que se imagina cobrir 98% do universo.
“O Modelo Padrão descreve o que já mensuramos, mas sabemos que não há a gravidade ali, nem a matéria escura”, afirma outro físico do colisor, Willian Murray.
“Estão estamos ansiosos para expandir isso e incluir mais coisas”.
A descoberta do bóson de Higgs também ajudaria a explicar como duas forças fundamentais do universo – a eletromagnética, que governa as interações entre partículas carregadas, e a fraca, responsável pela queda radioativa – poderiam ser unidas.
Toda força na natureza está associada com uma partícula.
A associada com o eletromagnetismo é o fóton.
A força fraca está associada com os bósons W e Z, que têm muita massa, ao contrário do fóton.
O mecanismo de Higgs é tido como o responsável por isso.
“Se você introduzir o campo de Higgs, os bósons W e Z se misturam nele, e através disso ganham massa”, comenta Strandberg.
“Isso explica porque os bósons W e Z têm massa, e também unifica a força eletromagnética e a fraca na força eletrofraca”.
Apesar de outras evidências terem ajudado na união das duas, a descoberta de Higgs fecharia o acordo.
“Isso já é bem sólido”, afirma Murray.
“O que queremos é encontrar a prova maior”.
Outra teoria que será afetada com a descoberta do Higgs é a da supersimetria.
A ideia é que toda partícula conhecida tem uma “superparceira”, com leves diferenças.
Essa teoria é interessante pois pode ajudar a unificar algumas das forças da natureza, e até eleger um candidato a partícula que forma a matéria escura.
Dependendo da massa do bóson de Higgs, pode dar crédito à supersimetria ou dúvida a ela.
“Se o bóson de Higgs tiver pouca massa, que por enquanto é única janela aberta, isso tornaria a supersimetria uma teoria viável”, comenta Strandberg.
“Mas ainda teríamos que provar sua existência”.
O Grande Colisor de Hádrons é o maior acelerador de partículas do mundo.
Ele foi construído com cerca de 18 bilhões de reais da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN).
Encontrar o bóson de Higgs é um dos objetos maiores da empreitada.
A descoberta do Higgs daria validação ao LHC e aos cientistas que vêm trabalhando na pesquisa por muitos anos.
“Se o Higgs eventualmente for descoberto, será um grande passo”, afirma Guimarães da Costa.
“É importante para o campo, porque construir essas máquinas custa muito dinheiro, e você precisa justificar isso.
Se conseguirmos essa importante descoberta sobre o universo, é uma justificativa do porquê do investimento”.
A descoberta também teria implicações para o cientista Peter Higgs e seus colegas, que propuseram o mecanismo Higgs em 1964.
“É certo que várias pessoas vão ganhar o prêmio Nobel”, comenta Vivek Sharma, físico da Universidade da Califórnia, e líder da busca pelo Higgs no LHC.
[LiveScience]
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