sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Sonhe menos em 2014
Por Fernanda Pompeu
Sonho não concretizado é leite que azeda, manteiga que rança, avião que cai.
É plantio de expectativas e colheita de frustrações.
Seu maior defeito é não abrir espaço para o fracasso.
Ignorar que em dez tentativas podemos não acertar nenhuma.
É claro que não estou me referindo a todos os sonhos.
Falo daqueles pré-fabricados, pré-moldados.
Sonhos sonhados pela mídia.
Aqueles que se confundem com idealizações, que já nascem para dar errado.
Pior, fazem o sonhador - depois de horas de bravias braçadas - morrer na praia.
Idealizar chama o desastre.
Esperar pela companheira ou companheiro perfeitos.
Vestir uma camisa que se colará à pele.
Confundir ponto de vista com o ápice da verdade.
Acreditar-se seguro num planeta que gira.
Escrever sem saber a gramática.
Fantasiar é carro sem estrada.
Panela sem comida.
Roupa sem corpo.
Saudade sem passado.
Sábado sem domingo. Idealização e fantasia brecam nosso crescimento pessoal.
Em doses altas, fazem com que a gente enxergue a versão, mas não o fato.
Antes que fundamentalistas idílicos me apedrejem pelo crime de pessimismo, deixa eu me defender.
Deixa eu dizer que existe sonho bom sim.
Aquele que é transformador, que torna cada um de nós um visionário.
Sonho sonhado com olhos fechados, mas realizado com olhos arregalados.
Não importa o tamanho.
Ser um segundo Steve Jobs é fantasia.
Ser um profissional nota 10, ou uma empreendedora competente é real.
Sonho bom não tem a ver com fama, nem com muito dinheiro.
Tem a ver com a capacidade de realizar uma ideia, um projeto, um produto, um gesto.
Retirá-los da bruma da idealização para o sol das calçadas.
Sonho bom é fazeção.
Também é aquele que a gente compartilha, potencializando sentidos para além do original.
Sai da nossa cabeça para ser recriado e aperfeiçoado em outras.
Ele é resultado de estudos, ensaios, mangas arregaçadas, pestanas queimadas, frases escritas.
Que em 2014, a gente sonhe menos e faça mais.
Não é ruim viver sem ilusões.
O sentimento da falta, da imperfeição, do não acabado é empurrão forte para nossas conquistas.
O mundo é pão-pão, queijo-queijo.
E poesia, quando a fazemos.
Feliz Ano Novo de 2014!
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