domingo, 17 de novembro de 2013

Um gesto de bondade




Costuma-se ouvir pessoas reclamarem da ingratidão com que são recompensados seus gestos de bondade.
É possível até se escutar promessas veementes de que jamais tornarão a ajudar a quem quer que seja, pois não vale a pena.

Para um repórter de um jornal inglês uma ação bondosa lhe valeu a vida.

Enviado para a África do Sul como correspondente, ele chegou até Moçambique, uma terra devastada, por décadas, pela guerra e pela fome.

Ele crescera na África e costumava andar por todos os lugares, junto com sua mãe.

Médica devotada, ela priorizava a questão da vacinação e percorria vales e montanhas, para todos imunizar.

Ele sabia que os rebeldes moçambicanos tinham bases em Malauí, mas também sabia que os jornalistas estrangeiros não eram bem-vindos.

Ávido pelas notícias, contudo, aventurou-se, até ser preso por seis homens com cartucheiras, granadas e lança-bombas.

Resolveram levá-lo como prisioneiro até sua base de operações.

Pelo caminho, passando pelas aldeias, ele era apresentado como um troféu e, embora não entendesse o que falavam, uma mistura de dialetos, podia perceber que a sua captura era dramatizada.

Era um espião. Estava armado. Resistira. Por vezes, davam-lhe chutes e tapas.

Após dois dias de caminhada rude e maus tratos, finalmente o grupo chegou à base e ele foi apresentado ao comandante do campo.

Vestido a caráter, ouvia o relato com atenção, alimentando-se bem, enquanto ao pobre aprisionado não foi permitido nem sentar-se.

Em dado momento, o jornalista pôde ouvir que eles passaram a usar o dialeto Chindau.

Este ele conhecia de seu tempo de criança, quando de suas andanças com sua mãe pelas aldeias.

Prestou atenção e, então, hesitante, saudou o comandante com o que pode se lembrar do dialeto Chindau.

O comandante ficou admirado.
Como ele conhecia aquela língua?

- Cresci aqui - falou o prisioneiro.

Dizendo o nome de sua família, viu repentinamente o semblante duro daquele chefe se transformar.

Sua mãe era médica?

Perguntou ele.
Então foi ela que me vacinou.
E, erguendo a manga da camisa, mostrou a cicatriz da vacina.

E você, continuou, você é o garoto que nos dava um torrão de açúcar, com remédio. Ficava insistindo para que colocássemos a língua para fora e punha açúcar nas nossas bocas.

Graças a isso, eu cresci forte!

Tudo mudou em questão de minutos.

De refém passou a hóspede de honra.
Pôde sentar-se, alimentar-se, refrescar-se com um pano úmido.

No dia seguinte, foi levado de volta com todo cuidado e atenção.

Os raptores dos dias anteriores, transformados em zelosos guarda-costas agora, até tiraram foto com ele.
O jornalista guardou a foto, certo de que uma boa ação permanece sempre viva, apesar das distâncias e do tempo.

***

A bondade é luz que se espalha na noite das desesperanças.

Acendamos as luzes da bondade onde se estenda a escuridão e convertamos os nossos braços em traves de misericórdia, silenciando a eventual ingratidão que venhamos a receber.

Os ingratos necessitam redobrados atos de bondade para serem sensibilizados, pois a ingratidão é enfermidade da alma.




Redação do Momento Espírita, baseado na revista Seleções do Reader’s Digest, jan/99 - A recompensa de uma boa ação)

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