terça-feira, 18 de dezembro de 2012

AS JANELAS DOURADAS

 
 


O menino trabalhava duro o dia todo, no campo, no estábulo e no galpão, pois seus pais eram fazendeiros pobres e não podiam pagar um ajudante.
Mas quando o sol se punha, seu pai deixava aquela hora só pra ele.
O menino subia para o alto de um morro e ficava olhando para o outro morro, alguns quilômetros ao longe.
 
Nesse morro distante, via uma casa com janelas de ouro brilhante e diamantes.
As janelas brilhavam e reluziam tanto que ele piscava.
 
Mas, pouco depois, as pessoas da casa fechavam as janelas por fora, ao que parecia, e então a casa ficava igual a qualquer casa comum de fazenda.
O menino achava que faziam isso por ser hora do jantar; então voltava para casa, jantava seu pão com leite e ia se deitar.

Um dia, o pai do menino chamou-o e disse:

- Você tem sido um bom menino e ganhou um feriado.
 
Tire esse dia para você, mas lembre-se de que Deus o deu, e tente usar para aprender alguma coisa boa.

O menino agradeceu ao pai e beijou a mãe.
Guardou um pedaço de pão no bolso e partiu para encontrar a casa de janelas douradas.

Foi uma caminhada agradável.
 
Os pés descalços deixavam marcas na poeira branca e, quando olhava para trás, parecia que as pegadas o estavam seguindo e fazendo companhia.
 
A sombra também seguia ao seu lado, dançando e correndo
como ele desejasse: estava muito divertido.

O tempo foi passando e ele ficou com fome.
 
Sentou-se à beira de um riacho que corria atrás da cerca de amoeiro e comeu seu almoço, bebendo a água clara.
 
Depois jogou os farelos para os passarinhos, como sua mãe ensinara, seguindo em frente.

Passando um longo tempo, chegou ao morro verde e alto.
 
Quando subiu ao topo, lá estava a casa.
 
Mas parecia que haviam fechado as janelas, pois ele não viu nada dourado.
 
Chegou mais perto e aí quase chorou, porque as janelas eram de vidro comum, iguais a qualquer outra, sem nada de ouro nelas.

Uma mulher chegou à porta e olhou carinhosamente para o menino, perguntando
o que ele queria.

- Eu vi as janelas de ouro lá do nosso morro - disse ele - e vim para vê-las, mas agora elas são só de vidro!

A mulher balançou a cabeça e riu.
- Nós somos pobres fazendeiros - disse -, e não iríamos ter janelas de ouro.
 
E o vidro é muito melhor para se ver através!

Fez o menino sentar-se no largo degrau de pedra e lhe trouxe um copo de leite e um pedaço de bolo, dizendo que descansasse.
 
Então chamou a filha, da idade do menino; acenou carinhosamente com a cabeça, para os dois e voltou aos seus afazeres.

A menininha estava descalça como ele e usava um vestido de algodão marrom, mas os cabelos eram dourados como as janelas que ele tinha visto e os olhos eram azuis como o céu ao meio-dia.
 
Ela passeou com o menino pela fazenda e mostrou a ele seu bezerro preto com uma estrela branca na testa; ele contou do seu próprio bezerro em casa, que era castanho-avermelhado com as quatro patas brancas.
 
Depois, quando já haviam comido uma maçã juntos, e assim se tornado amigos, ele perguntou a ela sobre as janelas douradas.
 
A menina confirmou, dizendo que sabia tudo sobre elas, mas que ele havia errado de casa.

- Você veio na direção completamente errada! - disse ela.
- Venha comigo, vou mostrar a casa de janelas douradas e você vai conferir onde fica.

Foram para um outeiro que se erguia atrás da casa, e, no caminho, a menina contou que as janelas de ouro só podiam ser vistas a uma certa hora, perto do pôr-do-sol.
- É isso mesmo, eu sei! - disse o menino.

No cimo do outeiro, a menina virou-se e apontou: lá longe, num morro distante, havia uma casa com janelas de ouro brilhante e diamantes, exatamente como ele havia visto.
 
E quando olhou bem, o menino viu que era sua própria casa!

Logo, disse à menina que precisava ir.
 
Deu a ela sua melhor pedrinha, a branca com listra vermelha, que levava há um ano no bolso.
 
Ela lhe deu três castanhas-da-índia: uma vermelha acetinada, outra pintada e outra branca como leite.
 
Ele deu-lhe um beijo e prometeu voltar, mas não contou o que descobrira.
 
Desceu o morro, enquanto a menina o olhava na luz do poente.

O caminho de volta era longo e já estava escuro quando chegou à casa dos pais.
 
Mas o lampião e a lareira luziam através das janelas, tornando-as quase tão brilhantes como as vira do outeiro.
Quando abriu a porta, sua mãe veio beijá-lo, e a irmãzinha correu para abraçá-lo pelo pescoço, sentado perto da lareira, seu pai levantou os olhos e sorriu.

- Teve um bom dia? - perguntou a mãe.

- Sim! - o menino havia passado um dia ótimo.

- E aprendeu alguma coisa? - perguntou o pai.

- Sim! - disse o menino. - Aprendi que nossa casa tem janelas de ouro e diamantes...

Tradução de Sergio Barros

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