quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os nós e nós



Quando queremos
que alguma coisa fique
ancorada à nossa vida,
fazemos de tudo para
mantê-la presa à nós.

Criamos laços e os apertamos
com todo nosso coração.

Os nós fazem parte de nós.

Infelizmente,
nem tudo o que se apega
a nós é bom e útil.

Se prezamos ter laços
afetivos e pedaços de memórias
agarradas definitivamente
à nossa pele,
há aqueles nós que se
apegam sem que nossa
permissão seja pedida
e sem que tenhamos
forças para desatá-los.

Esses nos acompanham
e nos adoecem.

Viver com nós na garganta,
que não descem e nem saem,
nos deixa deficientes.
Avançamos em algumas
outras coisas,
mas o não resolvido fica,
como um espinho na carne.

Aquilo que não conseguimos
engolir é o perdão que não
conseguimos oferecer,
é o esclarecimento que
nunca nos foi dado,
são os porquês nunca
respondidos.

A gente caminha,
mas sente que algo ficou
pra trás e muitas das dores
de garganta que não conseguimos
curar são emoções presas
das quais não soubemos
nos livrar.

O que fica atravessado
diante de nós é o peso que
carregamos por vezes
por anos e anos.

O dia bendito em que
conseguimos colocar em
palavras e lágrimas aquilo
que nos ofendeu,
entrou em nós e ficou,
o sol desponta no horizonte
como se fosse seu
primeiro dia.

Ah, Deus,
se tivéssemos sempre
a coragem de abrir nosso
coração e gritar nossa mágoa,
quão mais leves e sãos
poderíamos viver!

Por que esse medo de expôr
o que nos desagrada?

Por que temer ferir o outro
quando estamos,
nós mesmos e inteiramente,
sangrando?

Por que a felicidade alheia,
se felicidade alheia há,
é mais importante que a nossa?

Grande parte dos nossos problemas,
das nossas doenças até físicas,
são falta de comunicação.
Por que não dizemos,
não passamos ao outro
o que sentimos,
não falamos do sentimento
de injustiça que sentimos e do
quanto isso nos abala.

Falar é importante.
No bom momento,
claro,
que com sabedoria
deve ser escolhido,
mas é muito importante.

O que não dizemos,
o outro não é obrigado
a adivinhar e isso nunca
podemos cobrar.

Os nós não resolvidos
atam nossa vida a um
certo momento.

Não crescemos como
convém e mesmo nosso
riso é sempre manchado por
uma pinta de tristeza que
traduz nosso olhar.

Quando sentiu que tinha
que se revoltar no Templo,
Jesus se revoltou,
nenhuma palavra poupou;
quando a dor e tristeza foram
grandes demais no seu seio,
Ele chorou;
quando o cálice tornou-se
por demais amargo,
falou com o Pai...

A liberdade só nos chega
quando liberamos nosso ser,
quando oferecemos ao
outro o direito de ouvir,
perdoamos o que deve ser
perdoado e aceitamos o que
deve ser aceitado.

Se criamos a coragem de desatar,
devagar, certo, mas desatar,
um a um os laços que
nos incomodam,
liberamos uma a uma
as ansiedades,
os males que nos doem
física e psicologicamente.

Nessas horas nosso coração
bate de maneira diferente,
respiramos mais ar puro
e nossos olhos se abrem para
novos horizontes.

Só um pequeno passo,
um muito de coragem e uma
nova vida pode começar.

Letícia Thompson

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