domingo, 21 de novembro de 2010

E tem gente que se acha...



Texto de Mario Sergio Cortella
Qual é tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética - Pág. 23 – Editora Vozes – 10ª edição – 2010


Física Quântica: indicada para casos crônicos de falta de humildade.

Quando se pensa e se faz o trabalho como obra poética em vez de sofrimento contumaz, sempre vem à mente a questão do “trabalho digno”, isto é, aqueles ou aquelas que se consideram superiores como seres humanos apenas porque têm um emprego socialmente mais valorizado.

Aliás, é sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe com quem você está falando?”

Um dia procurei representar uma possível resposta científica a essa arrogante pergunta, e, de forma sintética, registrei essa representação em um livro meu chamado A escola e o conhecimento (Cortez); agora, de forma mais extensa e coloquial, aqui vai este relato, partindo do nosso lugar maior, o universo, até chegar a nós.

Hoje, em física quântica, não se fala mais um universo, mas em multiverso.

A suposição de que exista um único universo não tem mais lugar na Física.

A ciência fala em multiverso e que estamos em um dos universos possíveis.

Este tem provavelmente o formato cilíndrico, em função da curvatura do espaço, portanto, ele é finito e tem porta de saída, que são os buracos negros, por onde ele vai minando e se esvaziando.

Até 2002, era quase certo que o nosso universo fosse cilíndrico, hoje já há alguma suspeita de que talvez não.

Mas a teoria ainda não foi derrubada em sua totalidade.

Supõe-se que este universo possível em que estamos apareceu há 15 bilhões de anos.

Alguns falam em 13 bilhões, outros em 18, mas a hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que apareceu há 15 bilhões de anos, resultante de uma grande explosão, que o cientista inglês Fred Hoyle apelidou de gozação de big-bang, e esse nome pegou.

Qual é a lógica? Há 15 bilhões de anos, é como se se pegasse uma mola e fosse apertando, apertando, apertando até o limite, e se amarrasse com uma cordinha. Imagine o que tem ali de matéria concentrada e energia retida!

Supostamente, nesse período, todo o universo estava num único ponto adensado, como uma mola apertada e, então, alguém, alguma força – Deus, não sei, aqui a discussão é de outra natureza – cortou a cordinha.

E aí, essa mola, o nosso universo está em expansão até hoje.

E haverá um momento em que ele chegará ao máximo de elasticidade e irá encolher outra vez.

A ciência já calculou que o encolhimento acontecerá em 12 bilhões de anos.

Fique tranquilo, até lá você já estará aposentado pelas novas regras.

Você pode cogitar algo que a Física tem como teoria: ele vai encolher e se expandir outra vez.

Talvez haja uma lei do universo em que o movimento da vida é expansão e encolhimento.

Como é o nosso pulmão, como bate o nosso coração, com sístole e diástole.

Como é o movimento do nosso sexo, que expande e encolhe, seja o masculino, seja o feminino.

Parece que existe uma lógica nisso, que os orientais, especialmente os chineses e indianos, capturaram em suas religiões, aquela coisa do inspirar e expirar.

Parece haver uma lógica nisso, a ciência tem isso como hipótese.
Assim, há 15 bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma aceleração inacreditável de matéria e liberação de energia.

Essa matéria se agregou formando o que nós, humanos, chamamos de estrelas e elas se juntaram, formando o que chamamos de galáxias (do grego galaktos, leite).

A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de galáxias.

Uma delas é a nossa, a Via Láctea, que é “leite”, em latim.

Aliás, nem é uma galáxia tão grande; calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas.

Portanto, estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desaparecer.

Nessa nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela-anã, o Sol.

Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica classificação em debate).

A terceira delas, a partir do Sol, é a Terra.

O que é a Terra?
A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.

Veja como nós somos importantes….
Aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do universo.

Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para nós existirmos aqui.

Isso é que é um Deus que entende da relação custo-benefício.

Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só para esta pessoa existir.

Com o dinheiro que carrega, com a cor da pele que tem, com a escola que frequentou, com o sotaque que usa, com a religião que pratica.

Nesse lugarzinho tem uma coisa chamada vida.

A ciência calcula que em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora só classificou por volta de três milhões de espécies.
Uma delas é a nossa: homo sapiens.

Que é uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.

Essa espécie tem, em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos.
Um deles é você.

Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.

É por isso que todas as vezes na vida que alguém me pergunta:
“Você sabe com quem está falando?”, eu respondo: “Você tem tempo?”

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