terça-feira, 13 de julho de 2010

Alerta Especial - Comunicado Especial sobre Onda de Frio e Tempo Severo

A MetSul Meteorologia alerta para uma onda de frio extremo e potencialmente histórica que afetará o Conesul da América do Sul nesta semana, trazendo marcas muito abaixo da média histórica para grande parte do continente.

A erupção de ar polar, que pelas projeções computadorizadas, pode ser uma das mais fortes desde o começo deste século, promete enregelar Argentina, Uruguai, Paraguai, parte do Brasil e da Bolívia durante os próximos dias.

A onda de frio se dará em dois pulsos.
O primeiro, agora entre segunda e a terça-feira, e o seguinte no final da semana, quando se espera um reforço de ar polar com ar ainda mais gelado do que no início da semana.


Veja a projeção de temperatura no nível de 850 hPa (1500 metros) até o sábado (17/7).





Ar extremamente gelado avançará pelo interior da América do Sul associado a um centro de alta pressão de trajetória continental, de mais de 1040 hPa, no Centro da Argentina, e que alguns modelos chegam a sugerir poderia alcançar 1047 hPa na faixa central da América do Sul.
Valores de pressão atmosféricos perto de 1050 hPa são mais comuns no Canadá, Sibéria (Rússia) e Mongólia, sendo incomuns na América do Sul, quanto mais em latitudes médias.






Nenhuma onda de frio é igual à outra.
Nenhum evento de frio é idêntico aos demais.
As conseqüências vão variar de acordo com a situação.
A potência da massa de ar polar e sua enorme continentalidade, com valores de pressão anômalos para o Norte da Argentina e o Paraguai, contudo, remetem a episódios marcantes da climatologia de inverno dos últimos 60 anos como julho e agosto de 1955, agosto de 1965, julho de 1975 e agosto de 1999.
Nesse sentido, a onda de frio que começará no início da semana não é apenas mais uma intensa, mas, potencialmente, uma excepcional e com freqüência rara.
Os modelos estão em razoável acordo em indicar valores de temperatura em 850 hPa (1500 metros de altitude) de -7ºC a -9ºC com espessura da camada de até 5.150 na província de Buenos Aires, algo muito raro mesmo para aquela região.
Chegam a projetar de -6ºC a -8ºC em 850 hPa para o Sudoeste gaúcho, o que é excepcional.
Não há qualquer dúvida quanto à violência desta erupção de ar frio e o seu potencial.
A linha de 0ºC em 850 hPa, segundo algumas simulações, chegaria até o Sul da Amazônia legal e, mais do que isso, assim como ocorreu na onda de frio de 1955 cruzaria a linha do Equador, exatamente, chegaria ao Hemisfério Norte.







Tempo Severo:
O avanço do ar polar será antecedido por uma frente fria de intensa atividade.
Neste domingo já se espera que a atmosfera se instabilize no Rio Grande do Sul com chuva que pode ser localmente forte e acompanhada de raios, mas será durante a segunda-feira que as condições de atmosféricas tendem a se deteriorar significativamente.
Elevados volumes de chuva em curtos períodos podem ser anotados no Rio Grande do Sul, sobretudo do Centro para o Norte do Estado.
As condições serão favoráveis à ocorrência de tempo severo.
Primeiro, o avanço do ar extremamente frio sobre a atmosfera ainda quente no Sul do Brasil será muito rápido.
Segundo, haverá um acentuado gradiente de temperatura.
Terceiro, a analise dos diferentes perfis da atmosfera sinalizam acentuada divergência.
Quarto, haverá uma corrente de jato de baixos níveis entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina (imagem abaixo).





Com base nos dados das simulações computadorizadas e pela experiência de eventos passados não afastamos o risco de eventos severos a muito severos localizados durante a passagem da frente fria pelo Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
Além do risco de chuva forte a torrencial, são esperadas condições favoráveis ao registro de vendavais, granizo e mesmo a possibilidade de tornados não está afastada.
Há inúmeros precedentes de tornados em situações semelhantes a que se espera para o começo desta semana.

Argentina:
A Argentina tem sofrido com sucessivos eventos extremos de frio durante os últimos anos, conseqüência da maior freqüência de episódios de La Niña.
Em 2007, o país vizinho teve o mais rigoroso inverno desde a década de 60.
Foi quando nevou na cidade de Buenos Aires pela primeira vez desde 1918.
No ano passado, na segunda quinzena de julho, poderosa onda de frio trouxe neve para metade da Argentina e frio extremo.
A região de Bahia Blanca teve nevasca com força não vista em décadas na área.
Agora, os argentinos podem ter uma semana ainda mais gelada que no episódio de julho de 2009.
Modelos indicam valores de temperatura em 850 hPa perto de-10ºC para a província de Buenos Aires.





Não estão descartadas mínima de até -5ºC na Grande Buenos Aires e de até -10ºC a -13ºC na província de Buenos Aires.
Espera-se também a ocorrência de neve na região.
Pode nevar principalmente no Sul e nas áreas mais ao Leste da província de Buenos Aires em cidades como Bahia Blanca e Mar Del Plata.
Na capital federal, o fenômeno, apesar de não ser descartado, é menos provável.
Já não se descarta neve com a chegada do ar gelado nesta segunda, mas o fenômeno pode se repetir com a circulação de umidade que vem do mar e a possível passagem de frentes frias secundárias entre quarta e sexta.
Alguns pontos podem registrar acumulação, especialmente na Sierra da La Ventana. Modelos divergem sobre um sistema de baixa no final da semana, o que poderia prorrogar as condições para neve.
Frio extremo deve ser observado em províncias centrais como Córdoba, Santa Fé e Entre Rios assim como do Norte, tal como Corrientes, Misiones e Chaco.
A geada será severa em muitas áreas do Centro e do Norte da Argentina.

Uruguai:
Multidão é esperada na chegada da seleção uruguaia em Montevidéu nesta segunda-feira, público que deve enfrentar condições inóspitas de frio por conta do ar polar que estará ingressando com muita força e vento forte no território uruguaio.
Com a temperatura já muito baixa em altitude e ainda instabilidade, não se pode afastar que haja queda de "água nieve" já nesta segunda-feira.
No decorrer da semana, com a massa de ar gelado instalado, o avanço de um segundo pulso de ar polar e ainda fluxo de umidade com nuvens de desenvolvimento vertical se deslocando para o continente, é provável que haja queda de "água nieve" em Montevidéu e no interior, não se afastando a possibilidade de nevar em flocos em parte do território uruguaio, sobretudo no Centro, Sul e Leste do país.
As mínimas podem atingir de -4ºC a -6ºC no Uruguai, não se descartando marcas inferiores. Em 9 de agosto de 1993, Mercedes registrou -8ºC.
A geada deve ser forte a severa no Uruguai e será observada até na área de Montevidéu.
A posição geográfica do Uruguai faz com que a região seja ventosa e os dias, além de gélidos, devem ser muito ventosos com baixíssimos valores de sensação térmicas, negativos quase o tempo todo.

Rio Grande do Sul:
O Rio Grande do Sul tem tudo para experimentar uma das semanas mais frias no Estado das últimas décadas.
A saída do modelo americano, se já não bastasse o rigor da rodada da tarde, aumentou ainda mais o frio para o final da semana que vem no território gaúcho com marcas de até -8,5ºC em 850 hPa na fronteira e de até 7ºC negativos em 850 hPa na área de Porto Alegre, valores raríssimos e muito extremos, mais baixo que em qualquer simulação que vimos até hoje para o Estado desde que passamos a acompanhar modelos numéricos.




Todas as regiões geográficas do Rio Grande do Sul devem ter ao longo da semana marcas próximas ou abaixo de zero.
A Campanha e a fronteira com o Uruguai podem ter marcas de -3ºC a -5ºC, ocasionalmente menores.
Nos Aparados, a expectativa é de marcas entre -4ºC e -6ºC, mas se as últimas projeções computadorizadas estiverem corretas não se pode afastar o registro de mínimas de -6ºC a -8ºC.
Há possibilidade de temperatura negativa na Grande Porto Alegre e mesmo na Capital, mais provável em estações do Sistema Metroclima do que na sede do Instituto Nacional de Meteorologia, onde nos últimos 40 anos só há anotações de mínimas negativas em 1993.


Alerta-se para geada generalizada no Rio Grande do Sul, até em parte do Litoral.
A geada deve ser forte a severa em algumas áreas, podendo haver geada negra no ingresso do ar frio entre segunda e terça.
Deve gear mesmo em bairros centrais de Porto Alegre e pontos dos extremos da cidade e da área metropolitana podem ter geada forte e congelamento.
A temperatura despenca até o fim da segunda-feira em quase todo o Estado e deve se manter baixa por, pelo menos, uma semana.
Mesmo as tardes devem ser muito frias com máximas ao redor de 10ºC em Porto Alegre em alguns dias e abaixo dos 5ºC na Serra.
Devido ao posicionamento da alta, o Oeste o Noroeste do Rio Grande do Sul podem experimentar frio extremo, havendo a possibilidade de mínima de -5ºC a -7ºC em baixadas do Noroeste gaúcho.

Santa Catarina e Paraná:
Chuva, possivelmente em volumes elevados e com risco de tempestades – até severas – no começo da semana antecederá um declínio enorme da temperatura nos dois estados.
Fará muito frio com marcas negativas em Santa Catarina e no Paraná ao longo da semana.
No estado vizinho, o Oeste/Meio-Oeste e o Planalto Sul, devem ter as marcas mais expressivas, abaixo de zero.
No Paraná, sobretudo o Planalto de Palmas e o Oeste devem sofrer com frio muito extremo.
Alerta-se para o risco de geada forte a severa nas áreas agrícolas de ambos os estados, sobretudo no Oeste.
Alguns pontos do Planalto Sul Catarinense podem ficar mais de 72 horas consecutivas com marcas abaixo de zero.
Não se afasta a possibilidade de recordes históricos de mínimas no Oeste catarinense e paranaense.

Sudeste e Centro-Oeste:
A continentalidade desta massa de ar frio fará com que os seus efeitos sejam muito mais sentidos no Mato Grosso do Sul do que em São Paulo, mas ambos estados devem ter forte resfriamento.
O frio promete ser extremo em áreas do Centro-Oeste, com mínimas baixas e máximas muito baixas, sobretudo em áreas próximas da Bolívia e do Paraguai.
Quinta, sexta e sábado, em especial, devem ser mais gélidos no Centro-Oeste.
Na capital paulista, o cenário que se desenha é de frio úmido com máximas baixas, especialmente na segunda metade da semana.
A chuva, que pode ser forte em alguns momentos, deve cessar com os problemas atuais de queimadas e má qualidade do ar.
Há risco de tempo severo na chegada da frente fria.
No Rio de Janeiro, os dias de praia devem dar lugar à chuva na segunda metade da semana, devendo esfriar muito entre sexta e sábado.
O frio, assim como na capital paulista, deve ser úmido com marcas baixas o dia todo na região serrana.

Vento e sensação térmica:
Fortes rajadas de vento de Oeste a Sul devem ser observadas no ingresso do ar polar no Rio Grande do Sul e no Sul do Brasil entre segunda e terça com velocidade entre 70 e 90 km/h em muitos locais, e que podem atingir até 100 km/h em áreas descampadas e de maior altitude, podendo afetar a rede elétrica e provocar queda de árvores e postes.
A sensação térmica deve ser bastante baixa na noite desta segunda e na primeira metade da terça com marcas negativas em Porto Alegre e de até -10ºC na Campanha.
Alerta-se que nos Aparados e Planalto Sul Catarinense são esperados valores de sensação térmica de -20ºC a -30ºC durante os períodos ventosos da semana, no primeiro e no segundo pulso de ar gelado, valores perigosos à vida humana em caso de exposição prolongada.

Neve:
Muito dificilmente uma massa de ar frio tão poderosa quanto a que se avizinha passa sem o registro de neve no Sul do Brasil, apesar da ausência de um ciclone intenso no Atlântico, fenômeno que contribui para a grande maioria das grandes nevadas.
As projeções de neve de diferentes modelos analisadas pela MetSul para esta semana chegam a apresentar resultados bizarros diante da climatologia normal como neve no Centro-Oeste do Brasil e grande parte do território do Paraguai.
A saída do começo da noite deste sábado do modelo GFS chegou a sugerir neve para a área de Curitiba entre sexta e sábado.
Veja, na seqüencia, as projeções de neve dos modelos ETA da Argentina e GFS dos Estados Unidos.








As projeções de neve, em nosso entendimento, somente terão confiabilidade em análises de curto prazo, mas é possível antecipar alguns pontos.
Primeiro, existirão duas janelas para o registro de neve no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo (1) no final da segunda e principalmente na terça e (2) a outra no final da semana, sobretudo entre sexta e sábado, com o reforço de ar polar.
Segundo, dada a potência da massa de ar, não se pode descartar neve em locais menos habituados ao fenômeno como de menores altitudes.
Alguns dados sugerem chance de neve no Sul gaúcho na segunda metade da semana.
Terceiro, não se afasta a possibilidade de nevar, além das áreas tradicionais da Serra Gaúcha e Planalto Sul Catarinense, também no Oeste de Santa Catarina e nas partes mais altas do Paraná e do Oeste deste Estado, mas tal possibilidade terá que ser melhor avaliada durante a semana.
A chance de neve no Centro-Oeste é remota, apesar de não desprezível, algo que jamais pensamos em escrever.
Dependendo de como se comportar a instabilidade (posição do bloqueio, formação de ondas curtas ou cavado, e mesmo a característica das nuvens) não se pode descartar a possibilidade de eventos com acumulação.
De acordo com dados dos modelos, haveria frio suficiente para neve na área de Porto Alegre, mas não se vislumbra instabilidade até o momento que pudesse provocar o fenômeno, o que pode mudar em caso de um sistema de onda curta ou mesmo um cavado (área de menor pressão atmosférica) na sexta ou no sábado.

Agricultura e Economia:
Esta onda de frio pode ter um elevado custo econômico por geada forte que afetará as culturas de inverno.
Haverá perdas significativas para a produção de hortifrutigranjeiros e preocupa a fruticultura pelo episódios de ar gelado sobrevir um período muito quente com brotação antecipada.
Em países vizinhos, como na Argentina, não se descarta um colapso no abastecimento de gás para grandes clientes como o setor industrial e problemas no sistema de energia.
O Uruguai também pode ter um período de estresse energético com a onda de frio.

Autoridades e Recomendações:
Esta é uma onda de frio que trará marcas suficientemente baixas para provocar a morte por hipotermia de moradores de rua.
Todos os planos de contingência de assistência social para o período de inverno devem ser imediatamente acionados.
Lamentavelmente é provável que o saldo de perdas humanas no Conesul, considerando a magnitude e extensão da erupção polar, não seja pequeno.
A população deve seguir atentamente às orientações do Corpo de Bombeiros e fabricantes quanto ao uso de aquecedores, uma vez que são freqüentes os acidentes em episódios de frio extremo.
Polícias rodoviárias e concesssionárias devem preparar sal ante a possível necessidade de espalhamento em rodovias das serras no Sul do Brasil em face de gelo no asfalto. Motoristas que trafegarem por rodovias de regiões serranas devem ter máxima atenção quanto ao risco de gelo na pista.

O cenário apresentado acima é nossa melhor estimativa do que pode ocorrer com base na análise de pelo menos dez modelos numéricos nacionais e internacionais, os mais avançados existentes no mercado, contudo o quadro para a semana não é definitivo.
O prognóstico sofrerá ajustes ao longo dos próximos dias e a MetSul dedicará especial atenção às condições meteorológicas para alertar seus clientes e o público em geral quantos aos riscos deste evento extremo de frio.

Autor: Eugenio Hackbart
Publicado em 10/07/2010 22:06

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