A crescente aparição de animais na mídia pode influenciar no tráfico e outras ameaças à fauna silvestre?
autoridades e Ongs temem que sim.
Em vários canais e horários é comum nos depararmos com programas de auditório e propagandas que se utilizam de animais silvestres para entreter, sensibilizar ou atrair o público consumidor.
Atualmente, em uma campanha publicitária em cadeia nacional e nos principais canais de TV aberta, um bicho-preguiça contracena com uma atriz mirim, numa alusão à velocidade dos serviços de telefonia e Internet.
Cenas como essa, que utilizam espécies extremamente vulneráveis ao comércio ilegal como animais de estimação, podem contribuir para o desaparecimento da fauna silvestre brasileira em seus habitats naturais.
Muitas vezes o público, em especial o infantil, acredita que pode criar um animal “diferente”.
Um claro exemplo disso ocorreu em novembro de 2002, quando o zoológico de São Paulo organizou um leilão com seus animais excedentes, entre eles uma suricata.
Um fazendeiro procurou o zoo com interesse no animal porque sua filha havia se interessado pelo personagem “Timão”, que representa a espécie no desenho animado Rei Leão.
Felizmente, a ARCA Brasil e o Ministério Público intervieram e o leilão não aconteceu.
veja:
http://www.arcabrasil.org.br/animais/entretenimento/zoo2.htm
Na época, o zoológico de São Paulo alegou a superpopulação de animais para promover o leilão.
”Se há animais em excesso no zoológico é porque muitos chegam até lá oriundos do comércio ilegal.
O interesse em adquirir um animal ‘diferente’ estimula o tráfico e dá origem a um caminho, muitas vezes sem volta”, afirma Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil.
Segundo pesquisa encomendada ao IBOPE pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), cerca de 30% das pessoas entrevistadas tem ou já tiveram um animal silvestre em casa.
Isso significa pelo menos 60 milhões de animais provenientes da fauna brasileira fora de seu habitat natural para servir ao comércio.
Para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), a mídia exerce, em determinado nível, um estímulo sobre a aquisição de animais silvestres, embora não haja pesquisas que comprovem. “um programa científico que vai até o cativeiro do animal para retratar a espécie é uma coisa, levar o animal silvestre ao estúdio para entreter o público é outra completamente diferente.
Geralmente o que as pessoas assistem na TV entendem que podem fazer igual”, argumenta o assessor de comunicação do órgão, Airton Miguel de Grande.
“E qual o intuito de um criador que leva seus animais a um programa de televisão sem caráter científico que não seja o comércio?
Esta prática nós repudiamos e desestimulamos”, completa De Grande.
Já o professor da Faculdade Cásper Líbero e estudioso da mídia, José Eugenio Menezes, tem uma visão contrária:
“Observo que os meios de comunicação estimulam o respeito aos animais.
Em geral, não vejo banalização, mas a divulgação da importância da boa relação com os animais.
Inclusive, todo o incentivo a que qualquer aquisição seja legalizada”.
Mas a lógica do mercado aponta para uma realidade bem diferente.
A proibição de comerciais de cigarros nos meios de comunicação, conquista do movimento anti-tabagista, confirma que a mídia é um poderoso agente na vida das pessoas.
Estudos mostram que o animal, em especial o cão, apresenta altos índices de retenção e de aceitação junto ao público.
Na linguagem publicitária, o fenômeno é conhecido como recall (memorização), por isso o interesse dos anunciantes e das empresas de propaganda em utilizar os bichos como personagens nas peças publicitárias
O que os consumidores em geral ignoram é que o animal silvestre dificilmente se adapta às condições de vida na cidade, que sofrem e morrem, muitas vezes contraindo e transmitindo doenças.
De acordo com o médico veterinário especialista em vida selvagem, André Grespan, “a conscientização tem aumentado, mas de maneira ainda muito fraca.
Por isso, a exibição de animais silvestres na mídia deve ser feita sempre de modo exemplar e educativo”.
Na opinião de Grespan, as pessoas devem ser melhor informadas sobre as condições de vida desses animais longe de seu habitat natural.
É notório que os órgãos responsáveis pela fiscalização não possuem estrutura para reprimir os focos do tráfico, seja na origem ou em feiras livres e estradas.
A escassez de recursos, a falta de comprometimento de entidades civis e o descaso do governo contribuem para agravar o problema.
A ARCA Brasil, que atua pela causa animal ao longo de 13 anos, alerta a sociedade para a única postura cabível nesse cenário de “holocausto ecológico”: não adquirir animais silvestres e, no caso do comércio ilegal, denunciar as autoridades (veja abaixo).
Onde reclamar:
Se você presenciou a exposição de qualquer animal pela mídia, sem critério educativo, exposto ao ridículo ou de maneira a ameaçar sua integridade, denuncie:
- TV: nos sites de emissoras e redes de TV você encontra campos onde pode escrever e enviar sua carta ou recado e ainda telefones de contato.
- Publicidade: Conar - Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária.
O site www.conar.org.br possui um link para reclamações.
- IBAMA: acolhe denúncias através do site: www.ibama.gov.br, pela linha verde 0800-618080 ou por intermédio da polícia ambiental e da polícia civil.
Não esqueça de mandar cópia de sua denúncia para: comunicacao@arcabrasil.org.br
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