Levar os bichos de estimação para o trabalho é uma prática comum em países como os Estados Unidos e o Canadá.
Para algumas empresas, como o Google, a presença de pets é um modo de descontrair o escritório e gerar resultados positivos.
Uma campanha norte-americana intitulada “Take Your Dog to Work Day” incentiva empregadores a permitir o acesso de animais ao ambiente de trabalho.
A novidade chegou aqui.
Os gatos da raça persa Mutante e Yoda batem ponto de segunda a sexta-feira no estúdio do publicitário Julian Martin, 30, e da empresária Lívia Pretti, 26.
Estão tão integrados que parecem fazer parte da decoração da empresa de comunicação e eventos.
Enquanto os oito funcionários trabalham, os gatinhos têm liberdade para circular por todo o escritório, em Pinheiros, e gostam de se acomodar entre computadores e papéis.
A ideia de ter um animal “trabalhando” no local foi de um cliente.
A aprovação foi unânime.
“Quando os vejo na mesa, não sinto que estou em um ambiente corporativo, mas em casa”, afirma o publicitário.
“O lugar ganhou leveza.
O estresse e a ansiedade foram reduzidos.”
Para passar o dia todo no batente, os animais ganharam um espaço destinado só para eles.
“Quando algum cliente chega, nós prendemos os gatos”, explica Lívia, que garante que os animais não dão trabalho.
Imprevistos ocorreram, como a escapada de Mutante durante uma reunião com uma pessoa muito formal.
“Ele pulou na mesa e bebeu água no copo do cliente.
Foi muito chato”, recorda a empresária.
No escritório das arquitetas Bia Hajnal, 29, e Karen Pisacane, 29, quem dá charme ao ambiente é Fusca, um cão da raça boston terrier, além das aves agapornes Bolacha e Amendoim.
A decisão de transformar o local de trabalho em um minizoo foi motivada pelo desejo de estar em contato com a natureza.
“Mesmo não havendo um ambiente projetado para os pets, adaptamos o que temos para estar com eles”, explica Bia.
O gato persa da empresária Livia Pretti no seu escritório, em Pinheiros (Foto: Reprodução/Primeira Edição)
As arquitetas fazem uma espécie de revezamento, afinal, trabalhar com três animais como “assistentes” não é fácil.
O cão exige supervisão constante.
“O escritório é pequeno e temos carpete.
Quando o Fusca está aqui, preciso descer toda hora com ele e isso dá trabalho”, diz Bia.
Outra preocupação é não deixar a bicharada tumultuar o local.
Como Amendoim é uma ave muito calma, acaba frequentando mais o escritório.
“Bolacha é mais brava, por isso, ela vem bem menos do que seu companheiro.”
Além disso, quando Fusca está por ali, a atenção precisa ser redobrada.
“Não dá para ele brincar com as aves, né?”, diz Karen.
Instaladas em um prédio comercial, as arquitetas evitam expor os animais nas áreas sociais.
Bia passou por uma situação constrangedora.
“Entrei no elevador com o Fusca e uma pessoa saiu por causa do cão.
”Quando chegou ao escritório, recebeu uma ligação da portaria.
“A mulher fez um escândalo e ficou inconformada pelo fato de ter um animal ali.”
Desde então, as arquitetas tomam cuidados para não provocar desavenças no edifício.
Fora esse incidente, elas garantem que o saldo é positivo: os pets só trazem alegria à rotina de trabalho.
Menos estresse
Os benefícios não são apenas teoria dos apaixonados por animais.
Segundo a psicanalista Silvana Prado, membro do Inata (Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais), 15 a 20 minutos de interação com um cão são suficientes para potencializar o elo entre o funcionário e a empresa.
“O animal é um facilitador.
Sua presença no ambiente de trabalho eleva a autoestima, diminui o estresse, a solidão e a ansiedade.”
O contato entre o animal e o homem também tende a favorecer o rendimento.
“Pode ser o caminho para um problema cuja solução o funcionário não consegue encontrar.”
De acordo com a psicanalista, estudos comprovam que a presença de animais reduz a pressão arterial e a frequência cardíaca.
“O contato ativa um neurotransmissor que libera a serotonina, substância sedativa e calmante, além de hormônios como a oxitocina -responsável pela confiança- e a prostatina, o hormônio do vínculo social”, explica.
Desde que levou os gatos para o escritório, Lívia diz que a equipe está mais unida.
“Além disso, se o funcionário for comprometido, ele também vai se responsabilizar pelo bem-estar do animal naquele ambiente.”
Pitbull versus motoboy
Antes de pegar seu pet, colocá-lo no carro e levá-lo ao trabalho, é fundamental cautela.
“É preciso avaliar primeiro se todas as pessoas envolvidas vão se sentir confortáveis em conviver, por exemplo, com um cão”, explica o analista de comportamento de cães Dennis Martin, 57.
“Ter um bicho no trabalho exige responsabilidade e atenção.
Não pode causar problema para nenhuma das partes.”
Dennis relata casos positivos, como em um escritório em que a presença do animal fez um rapaz diminuir o cigarro.
“O tempo que ele perdia para fumar passou a ser usado para brincar com o cachorro.
Como o animal sempre correspondia, era uma troca de energia.”
O especialista ressalta, no entanto, que as coisas podem se complicar.
Foi o que ocorreu em um escritório que mantém um pitbull no local.
Apesar de o animal ser manso com todos ali, sempre que um motoboy chega, os cuidados precisam ser redobrados para que o animal não ataque ninguém.
Já no pequeno escritório da consultora e fisioterapeuta Lorice Issa Miguel, 42, localizado em um prédio comercial na movimentada avenida Faria Lima, é tranquila a rotina do pet.
Brinquedos e potinhos com frutas e água estão espalhados pela recepção.
Trabalhar com o maltês ao pé da mesa foi a alternativa que a tutora encontrou para diminuir a própria carência e, de quebra, não deixar o animal sozinho.
“Em casa, ele não parava de latir.
O vizinho até chamou a polícia”, explica Lorice.
“Pensei na responsabilidade que tinha com aquele animal.
Deixá-lo sozinho seria injusto.
Quando está comigo, ele não traz problemas e é um ótimo parceiro.”
Tom visita a tutora três vezes por semana e a consultora diz nunca ter recebido reclamações.
Assim como existem animais indicados para crianças, para apartamentos e para a prática de atividades físicas, existem raças mais indicadas para se levar ao escritório.
Um golden bem-comportado pode ser uma ótima opção. Raças mais vocais, como schnauzer, ou que necessitam de espaço, como um border collie, podem apresentar dificuldades no ambiente de trabalho.
“Mas se o animal foi criado com limites, é possível levá-lo a qualquer lugar, não importa a raça nem a espécie”, ressalta Dennis.
Uma coisa é certa: ter como colegas de trabalho Tons, Fuscas, Amendoins ou Bolachas deixam qualquer lugar mais divertido.
Fonte: ANDA
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