segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

NÓS CONHECEMOS E REVERENCIAMOS O SILÊNCIO


Nós, os índios, conhecemos o silêncio. 
Não temos medo dele. 
Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras.
Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento.
"Observa, escuta, e logo atua", nos diziam.
Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes.
Observa os anciões para ver como se comportam.
Observa o homem branco para ver o que querem.
Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás. 
Quando tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos, é o contrário. 
Vocês aprendem falando.
Dão prêmios às crianças que falam mais na escola.
Em suas festas, todos tratam de falar.
No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes. 
E chamam isso de "resolver um problema".
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. 
Precisam preencher o espaço com sons. 
Então, falam compulsivamente mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir. 
Nem sequer permitem que o outro termine uma frase. 
Sempre interrompem.
Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive. 
Se começas a falar, eu não vou te interromper. 
Te escutarei.
Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo. 
Mas não vou interromper-te.
Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que 
seja importante.
Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. 
Terás dito o que preciso saber. 
Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês. 
Deveriam pensar nas suas palavras como se fossem sementes. 
Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio.
Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.
Existem muitas vozes além das nossas. 
Muitas vozes.
Só vamos escutá-las em silêncio.

do livro "Neither Wolf nor Dog. On Forgotten Roads with an Indian Elder" - Kent Nerburn

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