quinta-feira, 14 de setembro de 2017

“Não Devemos Sofrer Por Antecipação” – Augusto Cury


Augusto Cury estuda o cérebro humano há mais de 30 anos. 
Desde o final dos anos 1990, escreve livros relacionados a seus conhecimentos sobre memória e construção do pensamento – misturados com uma boa dose de análise de comportamento. 
Em entrevista a ÉPOCA, Cury dá dicas de como lidar com as ansiedades do ano novo. 
Confira aqui um trecho da entrevista:

Palavras de Augusto Cury:

“As pessoas estão sempre sofrendo por antecipação. 
O pensamento rápido demais e sem gerenciamento é responsável por esse tipo de sofrimento, que atinge qualquer um, de crianças a idosos, alunos e professores, profissionais liberais e empresários. 
Os melhores profissionais de uma empresa fazem velório antes do tempo. 
Esse tipo de profissional é ótimo para suas empresas, mas carrasco de si mesmo. Sofrem pelo futuro de maneira dramática”.

Treinar seu eu a dar um choque de lucidez em cada pensamento perturbador. Isso é um treino diário. 
Como já disse para magistrados, inclusive numa palestra no STF (Supremo Tribunal Federal): temos de impugnar cada ideia, cada sofrimento por antecipação, para não registrar a experiência ruim e não empulhar nossa memória com dados inúteis. 
Devemos pensar no futuro apenas para traçar metas. 
Não devemos sofrer por antecipação. 
Não podemos dispensar o presente, único momento que temos para ser estáveis e felizes”.

Síndrome do pensamento acelerado

“Essa síndrome diz respeito à construção do pensamento. 
Quando pensamos rápido demais ou em excesso, violamos o que deveria ser inviolável: o ritmo da formação de pensamentos. 
Isso gera consequências seriíssimas para a saúde emocional, como a ansiedade. 
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 20% sofrem com a depressão. 
A ansiedade provavelmente é sentida por 80%, de crianças a idosos. 
Pensar é bom, pensar com consciência crítica é ótimo, mas pensar excessivamente e sem gerenciamento é uma bomba para a saúde psíquica, para o desenvolvimento de uma mente livre e criativa. 
Toda vez que hiper aceleramos os pensamentos, a emoção perde em qualidade, estabilidade e profundidade. 
São necessários cada vez mais estímulos, aplausos, reconhecimento para sentirmos migalhas de prazer”.

Quais são os sintomas dessa doença?

“Os clássicos são acordar cansado, ter dores de cabeça e musculares, transtornos do sono e deficit de memória. 
Em casos mais agudos, as pessoas se aborrecem com a lentidão alheia. 
Ficam irritadas quando o computador demora a ligar. 
Ou não conseguem lidar com pessoas mais lentas do que elas. 
Não são capazes de parar e contemplar a paisagem, a natureza, uma flor. 
Não param, na varanda, para jogar conversa fora”.

Crianças também têm pensamento acelerado?

“Nós as submetemos a um trabalho intelectual escravo cada vez mais cedo. Estamos cometendo o assassinato coletivo da infância. 
Isso acontece em todas as sociedades modernas. 
Ficamos estarrecidos com armas químicas, destruição em massa, mas não nos chocamos com o assassinato da infância. 
Os ministérios da educação de todo o mundo estão errados ao avaliar os alunos pela assertividade de dados na prova. 
Se quisermos formar pensadores, devemos avaliar também a capacidade de cooperação, de debater ideias, o altruísmo, a capacidade de pensar antes de reagir, de se colocar no lugar dos outros. 
São esses elementos que determinarão a qualificação desses alunos e futuros profissionais. 
Mas a educação está pautada por bombardear a memória dos alunos com excesso de informações, em detrimento do pensamento crítico, de aprender a ser autor de sua própria história.
Os executivos do mundo inteiro são contratados por suas competências técnicas, mas 80% deles são demitidos por falta de habilidades comportamentais”.

Pensar rápido tem alguma vantagem?

“Não tem como não ser hiper pensante do jeito como vivemos hoje. 
Somos bombardeados com informações, e o registro na memória é involuntário. Nos computadores somos deuses, arquivamos o que queremos, quando queremos. 
Em nosso córtex cerebral não tem jeito, os registros acontecem sem nossa vontade. 
Uma criança de 7 anos hoje provavelmente tem mais informações que o imperador de Roma, no auge de Roma. 
O problema são os dados empulhados, que não são usados como conhecimento, o conhecimento que não é usado como experiência, e a experiência que não é usada como as funções complexas da inteligência: pensar antes de reagir, colocar-se no lugar do outro, ser resiliente, saber gerenciar o pensamento”.


Autor
Augusto Cury 

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