Rosana Braga
Esta semana, assisti com a família ao filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”.
Um clássico do cinema que conta a história de um casal que, como todos, vive uma fase difícil de um relacionamento que também já passou pela fase de intensa paixão, sonhos e muita vontade de fazer dar certo.
O sucesso da trama se deve a muitos detalhes de como ela foi criada.
A história é entremeada por uma ficção científica, isto é, a possibilidade de realizar um desejo que, certamente, muitos de nós já tivemos: poder apagar uma lembrança ruim.
Pelo menos ruim num determinado momento.
E quem já não teve de lidar com lembranças difíceis de digerir?
E quem já não teve de lidar com lembranças difíceis de digerir?
Quem já não sofreu e chorou ao reviver internamente um amor que acabou, ou um relacionamento que, como no filme, entrou em crise e a paixão cedeu lugar a impaciência, intolerância, desentendimentos e desencontros?
Sim, em alguns momentos, é mesmo bastante dolorido relembrar.
É muito angustiante não saber como parar de lembrar e lembrar e lembrar... daquela pessoa, daquele beijo, daquele tempo em que tudo era felicidade. Parar de lembrar que agora já não é bem assim.
Que virou tensão, confusão, chatice.
E a polêmica estava armada.
E a polêmica estava armada.
Na sala, ainda com o filme inacabado, cada um dava a sua opinião.
Um dizia que seria ótimo poder apagar algumas lembranças.
O outro dizia que não, que as lembranças são todas importantes e ainda bem que não podem ser apagadas.
E o outro ficou em dúvida.
Será? Será mesmo que até as lembranças ruins têm alguma função?
Eu, particularmente, imediatamente me lembrei (e que bom poder lembrar!) do querido Evandro Mesquita, vocalista da ótima banda de rock Blitz, que fez muito sucesso nos anos 1980, quando cantava a música “O romance da Universitária Otária” e num dos versos, repetia “Todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer”.
É isso que penso.
É isso que penso.
A gente quer só a parte boa da vida.
Só o que nos convém. Só o que não dói.
Só o prazer.
Em princípio, essa ideia pode mesmo parecer bem interessante.
Mas sabemos que não é assim que o ser humano funciona.
Aliás, não é assim que a natureza funciona.
O que é vivo precisa, essencialmente, da adversidade, da superação.
O crescimento é filho da aprendizagem.
E não há lição sem nenhuma dor.
Sim, claro, muito melhor que nossa intenção seja viver com prazer.
Sim, claro, muito melhor que nossa intenção seja viver com prazer.
Mas não pode ser, de modo algum, viver em função de evitar a dor.
Não faz sentido apagar o que, em algum momento, nos parece ruim.
São as percepções de cada instante vivido que nos fazem enxergar a beleza de toda a história.
E isso também me faz lembrar da brilhante sensibilidade do poeta Rainer Maria Rilke ao dizer “Se você leva embora meus demônios, estará levando também meus anjos”.
Pois bem, quem continua desejando eliminar o que lhe parece chato, ruim, dolorido e angustiante neste momento, deve estar preparado para a inevitável perda do que poderia se transformar no maior tesouro de uma vida inteira.
Numa das últimas cenas do filme, as falas dos personagens centrais, vividos por Jim Carrey e Kate Winslet, fica claro que mais do que as lembranças, que podem mesmo por quaisquer razões se esvaírem de nossa memória, o que importa são os sentimentos – inapagáveis, posto que são vivos, mutantes e em constante reciclagem.
Numa das últimas cenas do filme, as falas dos personagens centrais, vividos por Jim Carrey e Kate Winslet, fica claro que mais do que as lembranças, que podem mesmo por quaisquer razões se esvaírem de nossa memória, o que importa são os sentimentos – inapagáveis, posto que são vivos, mutantes e em constante reciclagem.
Hoje amor, amanhã dúvida, depois mágoa, depois saudade.
E num outro dia qualquer, acorda amor, mais uma vez... e mais forte do que nunca!
Amor por si, pelo outro, pelo mesmo, pelo novo.
E se tiver coragem, desejo que você se lembre de tudo o que conseguir!
E que haja lágrimas e sorrisos.
Que haja história pra contar.
Que haja vida pra brotar e amor pra recomeçar!
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