Psiquiatria e Psicologia
O presente artigo traz em linguagem
acessível explicações sobre o grande número de neurônios que são encontrados na
parede do intestino, sua importância para o controle das atividades do aparelho
digestório e as conseqüências de algumas doenças que podem afetar tais
neurônios.
O grupo de pesquisa em neurônios
entéricos do Departamento de Ciências Morfofisiológicas da UEM explica que na
parede do intestino existem milhões de neurônios, muito semelhantes aos
existentes no cérebro e outras partes do sistema nervoso central.
Os neurônios do intestino ou neurônios
entéricos são os principais responsáveis pela manutenção e coordenação das
funções digestivas, esclareça-se que funcionam em integração e de maneira
harmoniosa com os comandos recebidos do sistema nervoso central.
Para dar idéia da complexidade e do
nível de desenvolvimento dos neurônios que constituem o sistema nervoso
entérico, os pesquisadores exemplificam da seguinte maneira: à medida que o
sistema nervoso foi se desenvolvendo surgiram três tipos básicos de neurônios,
os sensitivos que captam os estímulos do meio e os conduzem em direção a
centros nervosos onde as informações serão processadas, os associativos que
conduzem estas informações para que sejam processadas em diferentes níveis, e
os motores que respondem à estimulação.
Pois bem, no intestino à semelhança do
que acontece no cérebro são encontrados os 3 tipos básicos de neurônios, o que
permite a realização de arcos reflexos (passagem de estímulos pelos neurônios
sensitivos, associativos e motores) evidenciando uma certa independência de
funcionamento.
Em termos práticos poderíamos dizer que
os neurônios do intestino são até certo ponto capazes de captar informações,
processá-las e responder adequadamente conforme a necessidade do momento, é
como se "pensassem e tomassem decisões sobre
o que fazer" para garantir o bom
desempenho das funções de digestão e eliminação das fezes.
Mas por que o intestino precisa de um
sistema neuronal tão complexo? Esta é uma pergunta que freqüentemente é feita para
os pesquisadores em neurônios entéricos.
A resposta é simples: basta atentarmos
para o fato de que para nos mantermos vivos consumimos energia o tempo todo e
que esta energia vem dos alimentos. Ora se o intestino não tiver uma boa
coordenação de suas funções e deixar de absorver os alimentos, faltará energia
para todo o corpo comprometendo a capacidade de realizar atividades físicas e
mentais.
Se o alimento percorre o tubo digestivo
muito lentamente, pode fermentar e surgir quadros como azia, má digestão e
ressecamento das fezes; se percorre muito rapidamente vem a diarréia que tem
como principais conseqüências a desidratação e má absorção dos nutrientes dos
alimentos. Logo o alimento deve percorrer o tubo digestivo dentro de uma
velocidade ideal, para isto conta com a ação dos neurônios entéricos que atuam
em conjunto com hormônios controladores do mecanismo da digestão e com
informações do sistema nervoso central.
Dada a importância dos neurônios
entéricos um grupo de professores da UEM vem realizando pesquisas sobre estes
neurônios desde 1990, que já resultaram em 8 dissertações de mestrado
orientadas pelo Prof. Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto, junto ao mestrado em
Biologia Celular da UEM, 6 projetos de iniciação científica orientados pelos
professores Marcílio Hubner de Miranda Neto, Sonia Lucy Molinari, Sandra Regina
Stabille, Maria Raquel Marçal Natali, Eneri Vieira de Souza Leite Melo e Débora
de Mello Gonçales Sant’Ana. Foram também publicados diversos trabalhos em
periódicos nacionais e internacionais.
Os principais enfoques dos estudos têm
sido o envelhecimento, o diabetes, a desnutrição e alguns estudos de
filogênese.
Desnutrição e neurônios entéricos
São realizados estudos dos efeitos da
desnutrição no período de gestação e lactação em ratos, para tanto desnutre-se
as mães e estuda-se os efeitos sobre os filhotes.
Surpreendentemente nas pesquisas
realizadas pelas Profas. Maria Raquel Marçal Natali e Eneri V.S.L. Melo sob
orientação do Prof.Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto (UEM) e Prof. Dr. Romeu
Rodrigues de Souza (USP), verificou-se que os animais cujas mães são
desnutridas na gestação e lactação crescem menos e ganham menos peso,
entretanto quando voltam a receber dieta com teor protéico normal os filhotes
recuperam-se, e o mais interessante as análises microscópicas demonstram que o
animal acumula proteínas dentro dos neurônios entéricos como se fizesse uma
reserva para uma possível repetição da desnutrição protéica.
Já nos estudos realizados pela Profª.
Débora de Mello Gonçales Sant’Ana, onde o rato adulto envelheceu submetido a
desnutrição protéica, verificou-se que estes animais perdem mais neurônios que
os animais que envelheceram em condições normais de nutrição.
O envelhecimento conforme demonstrado
pelo Prof. Dr. Romeu Rodrigues de Souza (USP), provoca em humanos redução de 30
a 40 % do número de neurônios, o que pode ser uma das causas de os idosos terem
com certa freqüência complicações digestivas.
Os resultados obtidos usando ratos como
modelo experimental na UEM, se extrapolado para humanos, sugerem que uma
alimentação pobre em proteínas no decorrer da vida pode resultar em acentuação
das complicações digestivas relacionadas ao envelhecimento. Portanto o ideal é
uma dieta equilibrada, porém uma dieta equilibrada depende de fatores culturais
e sociais.
Diabetes e neurônios entéricos
O grupo vem desenvolvendo várias
pesquisas em colaboração com o Prof. Dr. Roberto Barbosa Bazotte do
Departamento de Farmácia e Farmacologia, utilizando como modelo ratos com
diabetes induzido por estreptozotocina.
Tais pesquisas são motivadas pelo fato
do diabetes ser uma doença degenerativa que pode afetar os neurônios entéricos
diretamente devido a sua fisiopatologia ou indiretamente devido a aceleração do
processo de envelhecimento.
Dados da literatura demonstram que as
complicações intestinais são comuns em humanos diabéticos justificando-se o
estudo dos neurônios entéricos em modelos experimentais que possam contribuir
para compreensão de tais complicações.
Pesquisas realizadas pelas Profas.
Luzmarina Hernandes, Jaqueline Nelises Zanoni, Evanilde Buzo Romano, Nilza
Cristina Buttow e Cristina Teles Fregonesi, demonstram que o diabetes afeta de
maneira diferenciada os intestinos delgado e grosso, sendo inicialmente o
intestino delgado o que mais sofre, entretanto com o envelhecimento em
condições de diabetes torna-se marcante em ambos uma grande perda neuronal.
Aspectos filogenéticos dos neurônios
entéricos
As Profas. Sonia Lucy Molinari, Sandra
Regina Stabille e Marli dos Santos Pereira, vem estudando os neurônios
entéricos do pato e de peixes. O objetivo é conhecer os padrões normais para
que posteriormente possam ser estudados os efeitos de condições adversas sobre
os neurônios entéricos desses animais, principalmente os de agrotóxicos que comumente
contaminam a água.
Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto
Coordenador do Laboratório de Pesquisas
em Neurônios Entéricos do DCM - UEM
IMPORTANTE
- Procure o seu médico para diagnosticar doenças, indicar
tratamentos e receitar remédios.
- As informações disponíveis no site da Dra. Shirley de Campos
possuem apenas caráter educativo.
Publicado por: Dra. Shirley de Campos
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