quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Carta de uma Desconhecida




Cartaz de Carta de uma Desconhecida.


Viena, início do século XX.

O famoso pianista Stephan Brand (interpretado por Louis Jourdan, galã que fez muito sucesso nos anos 40 e 50) se hospeda num hotel, onde recebe uma carta de uma mulher que lhe é desconhecida, aparentemente.

Ao lê-la, ele então relembra de Lisa, uma mulher com quem viveu, há alguns anos, uma linda e tumultuada história de amor.

Este filme tem considerável fama, de autoria do cultuadíssimo alemão Max Ophüls, durante sua passagem por Hollywood em 1948.

E, de fato, é tremendamente elegante o estilo da câmara de Ophüls.

Reconhecidamente, no entanto, a história é muito boba.

Mesmo assim, é um filme que vale a pena ser assistido para vermos a grande Joan Fontaine e principalmente prestar sempre atenção aos movimentos de câmara de Ophüls, que são fantásticos.


Cena de Joan Fontaine e Louis Jourdan.

Ele usa muito a grua (aquele guindaste que ergue e baixa a câmara) em belos planos gerais e de conjunto.

Neste aspecto, o filme é muito bom, mesmo que a história seja absurdamente tola.

Este filme tem ainda uma grande curiosidade: a história é de Stefan Zweig (1881-1942), escritor respeitadíssimo, quase tão cultuado nas letras quanto Max Ophüls (1902-1857) no cinema.

Zweig, um judeu austríaco de família rica, fugiu de seu país em 1934, logo após a ascensão de Hitler ao poder e morou junto com sua mulher em Petrópolis, na região serrana do Rio, horrorizado com a tragédia que acontecia na Europa.

A novela Carta de uma Desconhecida foi publicada em 1922.

Zweig ficou profundamente deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa e sem esperanças no futuro da humanidade, escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher, Lotte, com uma dose fatal de barbitúricos.






Carta de despedida de Zweig.

"Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação me é imposta: agradecer profundamente a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida.
A cada dia fui aprendendo a amar mais e mais este país, e em nenhum outro lugar eu poderia ter reconstruído por completo a minha vida, justo quando o mundo de minha própria língua acabou-se para mim e meu lar espiritual, a Europa, se auto-aniquila.
Mas depois dos sessenta anos precisa-se de forças descomunais para começar tudo de novo.
E as minhas se exauriram nestes longos anos de errância sem pátria.
Assim, achei melhor encerrar, no devido tempo e de cabeça erguida, uma vida que sempre teve no trabalho intelectual a mais pura alegria, e na liberdade pessoal, o bem mais precioso sobre a terra.

Saúdo a todos os meus amigos!
Que ainda possam ver a aurora após a longa noite!
Eu, demasiado impaciente, vou-me embora antes".

Stefan Zweig
Petrópolis, 22.11.1942


Outra curiosidade é que a expressão de que o Brasil é o país do futuro, é dele.

O seu livro “Brasil, País do Futuro”,de 1941, tornou-o conhecido no país, no qual o livro teve oito edições quase consecutivas.

A alcunha de País do Futuro, criada por Zweig, tornou-se uma marca para vários slogans no Brasil.


Capa do livro de Stefan Zweig.


 Fotografia de Zweig com Getúlio Vargas.



 http://www.paulocannizzaro.com.br/

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