segunda-feira, 5 de novembro de 2012

As Testemunhas de Jeová – 3ª parte

 

A nova fase e a profecia de 1975
 
Após a morte de Rutherford, a presidência ficou a cargo de Nathan Homer Knorr e os assuntos doutrinais ficaram com Frederick W. Franz, membro da Watch Tower desde 1920, e que havia trabalhado com Russell.
Nathan Knorr procurou desviar o foco da devoção das Testemunhas de Jeová da presidência da sede para a Organização em si, construindo em torno desta a figura da “Mãe”, simbólica mulher de Jeová.
As publicações da Watch Tower deixaram de ser assinadas pelo presidente, permanecendo apenas com o emblema da empresa, a organização venerável para a qual se exigia profundo respeito.
A “A Sentinela” de 1º de Maio de 1957 disse:

Devemos mostrar o nosso respeito pela organização de Jeová, pois ela é a nossa mãe e a amada esposa do nosso Pai celestial, Jeová Deus.”




Knorr abrandou a participação da presidência ao mesmo tempo em que dinamizou a participação dos membros.
Deu início a programas de treinamento que objetivavam converter as Testemunhas de Jeová em ajuntadores de adeptos, ensinando-lhes a falar persuasivemnte de suas crenças e convicções, além de usar a Bíblia em diálogos envolvendo diversos assuntos.
Assim os fonógrafos deram lugar aos sermões proferidos pelas próprias Testemunhas.

Na época da presidência de Knorr foi fundada a Escola Missionária de Gileade, espalhada pelo mundo e destinada a dirigir estudos bíblicos profundos, analisando a Bíblia de capa-a-capa, e para cujas filiais Knorr distribuía bilhetes só de ida.
Também foi constantemente mudada a doutrina sobre a ressurreição dos homossexuais, além de ter sido instituída a proibição de transplantes de órgãos e de divórcios nos casos em que o marido fosse gay.

Enquanto Knorr se ocupava do treinamento das Testemunhas e da administração geral da Watch Tower, Franz tentava abrandar as críticas às profecias falhas da Sociedade, e fez isso modificando algumas conclusões dos cálculos cronológicos de Russell e criando uma nova profecia.
O ano da volta invisível de Jesus Cristo passou a ser 1914 (baseando-se na queda de Jerusalém como tendo ocorrido em 607 a.C.), ao invés de 1974, e na década de 1960 passou-se a divulgar que o ano do Armagedom seria 1975.
Na “A Sentinela” de 15 de Fevereiro de 1969, o artigo “Por Que Está Aguardando 1975?” afirmava:

Devemos presumir, à base deste estudo, que a batalha do Armagedom já terá acabado até o outono de 1975 e que o reinado milenar de Cristo, há muito aguardado, começará então?
Possivelmente, mas, nós esperamos para ver quão de perto o sétimo período de mil anos da existência do homem coincide com o reinado milenar de Cristo [...] A diferença talvez envolva apenas semanas, ou meses, não anos.”

Assim a Watch Tower divulgava que, embora a previsão do Armagedom para 1975 não pudesse ser específica em determinar o dia e mês do acontecimento, o ano estava absolutamente correto.
A união da campanha de pregação de Knorr com a profecia de Franz, elevou os níveis de crescimento das Testemunhas de Jeová, chegando a 13,5% ao ano em 1974.

Na entrada da década de 1970 iniciaram-se mudanças no controle da Watch Tower. Lançou-se a tese de que a Organização deveria ser liderada por um grupo similar ao apostolado de Cristo, e não por uma único homem.
Esse papel foi inicialmente desempenhado pelo 7 diretores da Watch Tower, depois tendo-se elevado esse número para 11 em 1971, quando foi criado o “Corpo Governante”.
Assim as Testemunhas de Jeová deveriam convencer-se de que o poder emanado pela Sociedade vinha de um grupo de servos apostólicos de Jeová Deus, inspirados pelo Espírito Santo.

Embora esse Corpo Governante tenha sido propagandeado como uma evidência de que as Testemunhas de Jeová constituíam o verdadeiro povo de deus, o poder de Nathan Knorr como presidente permaneceu o mesmo.
Em 1975, contudo, o corpo de diretores passou a exigir que se fizesse conferir a eles o poder que antes era apenas de faixada. Knorr faleceu em 1977 e o poder ficou praticamente nas mãos dos 11 diretores.

O falhaço da profecia e as desassociações

Com a morte de Nathan Knorr, a presidência ficou a cargo de Frederick Franz, mas os poderes anteriormente cedidos aos ocupantes desse cargo já estavam quase completamente depositados nas mãos do Corpo Governante.
Franz teve que enfrentar os problemas causados pelo descontentamento dos membros com a decepção de 1975.
Dentro da própria sede da Sociedade, grupos de estudantes da Bíblia começaram a questionar os cálculos cronológicos sobre 1874 e 1975, assim como a doutrina que pregava que todos que se tivessem ajuntado às Testemunhas de Jeová depois de 1935 não teriam esperança celestial, mas ganhariam vida eterna num paraíso terrestre.
Sobre a decepção com a profecia, uma ex-Testemunha declarou 11 anos mais tarde:

Nós pensamos que o Armagedom viria em 1975.
Então, eu não tive um carreira, não fui para a faculdade, pois o fim estava próximo.
Não havia necessidade; o novo mundo estaria aqui. [...]
Eu queria casar, eu queria ter filhos, mas por causa do fim estar tão próximo, quando Fred e eu nos casamos nós decidimos que iríamos adiar ter filhos. [...]
Quando o fim do mundo não veio em 1975 e a profecia da Watch Tower falhou, comecei a me perguntar: ‘Se eles estavam errados sobre isso, em quantas outras coisas também estavam errados?’”

A dúvida era considerada um meio diabólico que conduziria à apostasia, e a Sociedade começou a declarar que, na verdade, jamais havia afirmado que o Armagedom ocorreria em 1975, mas que essa convicção nasceu da má interpretação de algumas Testemunhas.
Por receio de ter que pagar impostos sobre a venda da literatura da Watch Tower, o corpo de diretores decidiu distribuir suas publicações de forma gratuita em alguns países, mantendo, contudo, contribuições que cobriam os custos e faziam os lucros persistirem.

Após o fracasso da profecia sobre 1975, o crescimento do número de membros das Testemunhas de Jeová deu lugar a uma saída em massa.
Quando a saída dos membros chegou a contar centenas de pessoas, Franz e o Corpo Governante tomaram uma enérgica atitude.
Na primavera de 1980 tomaram ação contra os dissidentes, dissolvendo os grupos de estudo da Bíblia na sede da Watch Tower e formando as chamadas “comissões judiciativas” para julgar os que eram acusados de liderar atos de deslealdade e apostasia.
A caça aos apóstatas na Sociedade acabou causando a desassociação de Raymond V. Franz, sobrinho de Frederick Franz e membro do Corpo Governante, em razão dele ter declarado como falsa a suposta infalibilidade dos diretores, e por ter tomado uma refeição com um desassociado.

E então a paranóia tomou conta da Sociedade em todo o mundo, causando desassociações por causas irrelevantes a até mesmo pela saída espontânea dos membros.
A Organização passou a recomendar as Testemunhas que não mantivessem qualquer afetividade ou contato de qualquer tipo com os desassociados, inclusive devendo evitar cumprimentos para com tais apóstatas, e que denunciassem atos de apostasia e deslealdade umas das outras.
Quando Franz morreu, em 1992, a Sociedade havia ficado sob o alarde de uma inquisição que intimidava qualquer um que intencionasse afastar-se da Organização.

O 5º presidente e o Corpo Governante

Eleito em 30 de Dezembro de 1992 para o cargo de presidente da Watch Tower, Milton G. Henschel, na época com 72 anos, passou a ser o membro mais novo do Corpo Governante.
A inserção deste conservador pelos membros mais velhos previu mudanças na doutrina e na liderança da Sociedade.
Duvidar da Sociedade continuava sendo erro e apostasia, mas muitas coisas foram abrandadas na doutrina.
Esportes escolares e educação de nível superior foram permitidos, assim como consultas psiquiátricas.

A condenação aos feriados também passou a níveis menos exacerbados.
Durante a presidência de Henschel a Sociedade chegou ao seu auge histórico de posses e número de membros.
Contudo, a taxa de crescimento das Testemunhas diminuiu, e a disseminação de sua história nos tempos modernos tem feito com que haja forte resistência intelectual aos seus ensinos na Europa e na Ásia.

Após a morte de Henschel em 2003, com a tomada do poder de uma vez por todas pelo Corpo Governante (John Barr, Carey Barber, Samuel Herd, Theodore Jaracz, Steven Lett, Gerrit Lösch, Guy Pierce, Albert Schroeder, David Splane, Daniel Sydlik), a situação da Organização tornou-se ainda mais decadente.
Com líderes bastante idosos que dormem nas reuniões e nas votações da Watch Tower, a Organização declina aos poucos.

A condenação das transfusões sanguíneas e sua profecia sobre a passagem dos ungidos pelo Armagedom tem aumento o metafórico buraco que as Testemunhas de Jeová tem cavado e no qual tem soterrado sua credibilidade, confiabilidade e, acima de tudo, respeitabilidade enquanto expressivo grupo religioso cristão.

The Finished Mistery

De todas as polêmicas que já envolveram e envolvem a Watch Tower, uma das maiores foi o livro The Finished Mistery.
Isso se deu não só pela cisma na Sociedade após o lançamento do livro, mas pelo que ele afirmava.
Lançado como o sétimo volume de “Estudos das Escrituras”, que Russell não pôde completar, tal livro buscava inspiração bíblica para disparar tolices de proporções assombrosas.
Em meio às muitas especulações e profecias absurdas desse livro, havia a previsão de que o Armagedom teria início em 1914 e findaria na primavera de 1918, com pessoas morrendo ao redor do mundo.

Esse livro ainda alegava que Miguel e seus anjos, citados no capítulo 12 de Apocalipse, seriam o papa de Roma e os bispos do clero católico, e que a distância de 1600 estádios, da qual fala o capítulo 14, seria a distância entre Scranton, na Pennsylvania, e a sede mundial da Watch Tower em Brooklyn.
Além disso, propunha que o monstro bíblico Leviatã seria uma locomotiva, e continha inúmeros ataques ao militarismo, ao clero e a cristandade no geral, chegando a denominar os demais cristãos de “a classe dos porcos”.

O tom desrespeitoso do The Finished Mistery e suas especulações patéticas aliadas ao irritante barulho que faziam nas portas das residências e das igrejas fizeram com que a perseguição contra as Testemunhas de Jeová passasse das mãos populares ao controle dos governos de diversos países, e o livro foi proibido em vários lugares.


A Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas

Em Outubro de 1946, Nathan Knorr propôs que a Watch Tower produzisse sua própria tradução das Escrituras Gregas Cristãs (Novo Testamento).
A tradução começou em 2 de Dezembro de 1947 e foi concluída em 3 de Setembro de 1949, passando a ser editada pela Gráfica de Brooklyn a partir de 29 de Setembro.
Em 2 de Agosto de 1950 foi lançada a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs, vindo a ser traduzida para o português em 1963.
As Escrituras Hebraicas (Velho Testamento) foram traduzidas posteriormente em uma série de 5 volumes da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Hebraicas, publicados de 1953 a 1960.

Em 1961 foi publicado o volume único da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, e em 1969 foi publicada a Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas, que trazia a tradução dos escritos gregos com atenção a cada um dos verbetes.
A TNMES sofreu revisões em 1970 e 1971, e a TIREG passou por uma revisão em 1985.

Em 1984 foi lançada a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas Ed. Referências (atual), ao mesmo tempo em que foi lançada a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas Ed. Normal (atual).
Projetada para o estudo bíblico, a edição mais recente contém mais de 125 mil referências marginais, mais de 11.400 notas, mapas bíblicos – incluindo uma lista de verbetes e os textos nos quais estes são citados – e 43 artigos no Apêndice. Mateus 18:11; 23:14; Marcos 7:16; 9:44, 46; 11:26; Lucas 17:36; João 5:4; Atos 8:37; 15:34; 24:7 e Romanos 16:24 não se encontram na tradução da Watch Tower por não fazerem parte dos manuscritos antigos.

Tal tradução bíblica aparenta ser uma das mais completas que existem, mas não é bem assim.
Quando a Watch Tower publicou sua tradução pela primeira vez, valeu-se dos créditos de uma série de estudiosos da língua grega, que foram citados como partícipes da tradução.
Um deles foi o Dr. J. R. Mantey.
Sobre a tradução, Dr. Mantey afirmou:

Eu nunca encontrei nada auto-intitulado de ‘tradução’ que vá tão longe do que as Escrituras realmente ensinam como esses livros publicados pelas Testemunhas de Jeová.
Eles estão tão longe, que não existe uma equivalente no original hebraico e no original grego.[...] Você não pode acompanhá-la, porque ela é tendenciosa e enganosa.
Porque eles deliberadamente alteram palavras na passagem das Escrituras para fazê-las caber em suas doutrinas.
Eles distorcem as Escrituras em muitas facetas.
Dezenas e dezenas de passagens no Novo Testamento, especialmente as que tratam da divindade de Cristo.”

Dr. Mantey também atribui vários adjetivos nada auspiciosos à tradução da Watch Tower, tais como “obsoleta”, “incorreta” e “erro de tradução chocante”.
Mas a Watch Tower não passou a valer-se apenas de sua própria tradução para basear suas publicações.
Ela também adicionou a este suporte bíblico o “The New Testment”, de Johannes Greber, um espiritualista que afirmava receber mensagens dos espíritos a partir das quais ele afirmava ter realizado sua tradução.
 Embora condenasse o ocultismo e o espiritismo, após receber cópias de livros da Johannes Greber Memorial Foundation a Watch Tower solicitou mais cópias em uma carta-resposta enviada à fundação.

Assim, a tradução bíblica das Testemunhas de Jeová não só vale-se das convicções espirituais de Johannes Greber, nas quais a Watch Tower baseou-se por 20 anos, como também efetua alterações diversas em prol da sustentação de sua doutrina – a exemplo da substituição da palavra “cruz” por “estaca”, que vinha para firmar a condenação de Rutherford à símbolos pagãos.

Vacinas, transplantes de órgãos e transfusões sanguíneas

A partir de 1921, a injeção de vacinas e soros imunológicos passou a ser proibida pela Watch Tower. A proibição vinha de Clayton Woodworth, que, através da revista The Golden Age, expôs todo o seu ódio à Associação Médica Americana.
Além de negar o fato de que há doenças que são causadas por micróbios, Woodworth ainda incitava repulsa contra as vacinas, afirmando que estas consistiam em injetar pus animal nas veias humanas. Como editor da The Golden Age, ele publicou diversos artigos firmando suas convicções absurdas.
The Golden Age de 12 de Outubro de 1921:
 “A vacina nunca evitou coisa alguma e nunca o fará, é a prática mais bárbara …
Estamos nos Últimos Dias [ com enormes expectativas para 1925 ] e o Diabo está fazendo, no ínterim, um esforço extenuo para causar todo o dano que puder e é a ele que devemos atribuir tais males …
Usem seus direitos como cidadãos americanos para abolir para sempre a prática demoníaca das vacinas.”
The Golden Age de 25 de Agosto de 1926: “As doenças são causadas por fermentação e calor … não por germes.

The Golden Age de 13 de Novembro de 1929: “Evite inoculações de soro e vacinas, pois elas poluem a corrente sanguínea com seu pus nojento.”

Assim a edição da revista fixava nas mentes das Testemunhas de Jeová que hábitos higiênicos indispensáveis eram, na verdade, inúteis; e que vacinas e soros não eram mais do que injeções virulentas de pus animal, chegando ao cúmulo de afirmar, em 1931, que aceitar tomá-las era violar o pacto de Jeová com Noé em Gênesis 9:4.

As vacinas foram liberadas em 1952; as vacinas toxicóides em 1958; e os soros em 1974, sendo que seu uso só deixou de ser desencorajado em 1978.
A susseção de proibições sem nexo, supostamente basedas em ordens bíblicas, foi adicionada de uma nova: a proibição dos transplantes de órgãos, em 1968.
A “A Sentinela” de 1º de Junho de 1968 afirmou:

Deus permitiu que os humanos comessem carne animal e sustentassem suas vidas humanas por tirarem a vida dos animais, embora não lhes permitisse comer sangue.
Será que isto incluía comer carne humana, sustentar a vida duma pessoa por meio do corpo ou de parte do corpo de outro humano, vivo ou morto?
Não!
Isso seria canibalismo, costume repugnante a todas as pessoas civilizadas. [...]
Quando há um órgão doente ou defeituoso, o modo usual de a saúde ser restaurada é por receber substâncias nutritivas.
O corpo utiliza o alimento ingerido para consertar ou curar o órgão, substituindo gradualmente as células.
Quando os homens da ciência concluem que este processo normal não mais dará certo e sugerem a remoção do órgão e a substituição do mesmo de forma direta por um órgão de outro humano, isto é simplesmente um atalho. Aqueles que se submetem a tais operações vivem às custas de carne de outro humano.
Isso é canibalesco.
Não obstante, ao permitir que o homem comesse carne animal, Jeová Deus não deu permissão para os humanos tentarem perpetuar suas vidas por receberem canibalescamente em seus corpos a carne humana, quer mastigada, quer na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo, retirados dos outros.”

A Despertai! de 8 de Dezembro de 1968 ainda frisou que “todos” os transplantes de órgãos humanos seriam canibalismo, e a partir dessa convicção muitas Testemunhas de Jeová negligenciaram as suas vidas e as de seus filhos, recusando-se a receber qualquer parte dos tecidos humanos em procedimentos médicos.

Em 1980, na “A Sentinela” de 1º de Setembro, a Watch Tower voltou atrás na questão dos transplantes de órgãos, afirmando que não havia nenhuma ordem bíblica na qual se baseasse qualquer proibição a isto, ficando a decisão a cargo da consciência de cada um, segundo Gálatas 6:5.
Embora tais proibições hajam sido findadas, ainda persiste a proibição às transfusões de sangue. Embora as doações de sangue fossem elogiadas – como na The Golden Age de 29 de Setembro de 1929 – e questões envolvendo sangue não tenham feito parte dos ensinos de Russell, a Watch Tower passou a condenar transfusões em 1943, com a “A Sentinela” de 22 de Dezembro.

Na “A Sentinela” de 1ª de Setembro de 1945, por sua vez, as transfusões foram consideradas igualadas ao consumo de sangue animal, condenado pela Lei Mosaica.
Desde 1961 as transfusões sanguíneas são consideradas transgressões passíveis de dasassociação, e em 1966 chegaram a ser consideradas canibalismo, partindo da premissa de que o sangue fosse não mais que um tecido líquido, e aplicando-se ao seu uso as mesmas ordens que na época se aplicavam aos transplantes de órgãos.
Em 1980 os transplantes de medula óssea foram permitidos, mas a proibição quanto ao uso do sangue persiste até hoje.
Em razão das muitas mortes ocorridas em razão do seguimento desse tipo de ensinamento, somos levados a nos perguntar até quando essa proibição pode durar, e quantas vidas mais serão ceifadas por uma convicção religiosa tão ingênua.

A doutrina atual

As Testemunhas de Jeová acreditam na existência do deus cristão, ao qual denominam de Jeová, seguindo uma leitura própria do tetragrama YHWH.
A Bíblia traduz à humanidade a sabedoria, os conhecimentos, os desejos, a personalidade e as promessas deste deus, e é a partir de sua leitura e estudo “profundos” que as Testemunhas de Jeová desenvolvem e sustentam sua doutrina, seus dogmas e crenças em geral.
A interpretação da Bíblia, contudo, não se dá a bel-prazer dos estudantes, mas é transmitida pelo Corpo Governante, que recebe inspiração divina por meio do Espírito Santo, sendo o “escravo fiel e discreto” do todo-poderoso.

O Corpo Governante é inteiramente constituído por Testemunhas da classe dos “ungidos”. Estas, diferentes da maioria, são em número de 144.000 – contados desde o Pentecostes – , e são as únicas que tem esperança de vida no céu, onde reinarão com Cristo.
Esse reinado, por sua vez, dar-se-á em meio ao estabelecimento do Paraíso na Terra.
Esse Paraíso será estabelecido após o Armagedom, ocasião na qual Jeová Deus aprisionará Satanás por mil anos, enquanto Jesus reinará soberano sobre os sobreviventes do Armagedom e os ressuscitados depois dele, que terão ganhado vida eterna sobre a Terra.

Passados os mil anos, Jeová Deus governará este mundo novamente e Satanás será liberto de sua prisão por um tempo para tentar os humanos, que por sua vez estarão sendo levados à perfeição pouco a pouco.
Depois desse período, Jeová destruirá Satanás, e a paz reinará sobre os humanos perfeitos, servos de deus, que terão vida eterna.
Antes da vinda do Armagedom, contudo, haverá a “Grande Tribulação”, período marcado por guerras, terremotos, fome, catástrofes naturais e proscrição da “obra” das Testemunhas.
Esse período aproxima-se bastante já que estamos vivendo a era de domínio da última potência mundial das sete profetizadas por Daniel: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia, Roma e EUA.
Em razão da proximidade do Armagedom, as Testemunhas têm de apressar-se na obra mundial de divulgação da mensagem divina e conseguir o maior número possível de adeptos, já que, como único povo de deus, apenas as Testemunhas de Jeová batizadas passarão com vida pela “destruição dos iníquos”.

Os que houverem falecido sem conhecer a promessa divina tem esperança de ressurreição para o julgamento divino, quando lhes será oferecida a opção de servirem e adorarem a deus em uma vida farta de felicidades no Paraíso.
Todas essas maravilhosas promessas de deus baseiam-se na sua imensa bondade e misericórdia, e essas dádivas são alcançáveis a partir da fé exercida no sacrifício resgatador de Jesus Cristo, que anulou em parte o pecado de Adão e forneceu-nos a oportunidade de perdão através apenas do arrependimento sincero dos pecados e das orações a Jeová pedindo absolvição, o que torna inúteis os antigos sacrifícios.

Jesus, por sua vez, é a primeira criação de Jeová Deus – seu primogênito –, e antes de sua vinda à Terra foi um anjo celestial (Miguel) que auxiliou na criação de tudo que veio a existir depois dele. Após seu nascimento, Jesus viveu na Terra como um homem comum, e após seu batismo iniciou seu ministério e ganhou de seu pai celestial o dom de realizar milagres em favor da atração de novos adoradores do “único deus verdadeiro”.
Denunciado pelos fariseus, Jesus acabou sendo torturado e morto em uma estaca, vindo a ressuscitar três dias depois e passar mais 40 dias na Terra com seus 11 discípulos, subindo aos céus posteriormente, onde passou à direita de Jeová aguardando o início de seu reinado.
Jesus já foi entronizado como rei em 1914, quando ocorreu uma batalha celestial na qual Satanás e seus demônios foram lançados sobre a Terra, e quando a contagem dos 144.000 cessou.
Seu domínio sobre a Terra, após o Armagedom, está em grande proximidade.

Cabe aos servos fiéis de Jeová espalhar a “boa-nova” da salvação por meio da fé em Jesus.
Tais servos de deus devem se destacar dos demais cristãos pela existência de abundante amor entre si e por sua postura absolutamente correta.
Devem ser evitados o uso de imagens, símbolos pagãos e a celebração de feriados em geral, exceto o da morte de Jesus, na época da Páscoa.
Patriotismo e envolvimento com política também são pecados, já que os verdadeiros servos de Jeová não se misturam com o “mundo”.

Após o batismo, a Testemunha de Jeová fiel está vinculada com a Watch Tower e com a Organização, a “mãe” dos cristãos verdadeiros.
Se a Testemunha cometer qualquer pecado grave (homicídio, adultério, fornicação, prática homossexual, pedofilia, apostasia, etc) deve comunicar aos anciãos, e será então desassociada da Organização.
Caso não se confesse, a Testemunha estará sujeita a desaprovação de Jeová, e suas orações não serão ouvidas.
Após a desassociação, como medida disciplinar, a Testemunha fica proibida do contato com as demais, estas sendo desaconselhadas a proferir sequer uma saudação amigável ao desassociado, sob a pena de sofrerem também a desassociação.

Tal desassociação também ocorre com aqueles que pedirem saída da Organização de própria vontade. A readmissão ocorre após a Testemunha desassociada arrepender-se de seu erro e buscar manter-se na Organização por meio da frequência às reuniões.
Nestas ocasiões o desassociado deve manter-se quieto e calado, não falar nem olhar diretamente para ninguém e sair imediatamente após o término da reunião.
Caso seja readmitida, a Testemunha volta as suas atividades normais como membro da Organização.
As Testemunhas de Jeová devem evitar o contato com material de qualquer tipo que critique a Watch Tower e que desacredite sua doutrina, a existência de deus e a veracidade e confiabilidade da Bíblia, assim como com pessoas que o façam.
A apostasia origina-se da genialidade e da capacidade de Satanás de criar mentiras que tem o objetivo de desviar os fiéis servos de Jeová da verdade.
Se forem “fiéis até o fim”, enfrentando qualquer adversidade em prol daquilo em que acreditam, e que se baseia na palavra de deus, as Testemunhas de Jeová serão recompensadas com vida perfeita e eterna no Paraíso.

A última profecia

Embora pareça que as Testemunhas de Jeová pararam de realizar profecias, ainda lhes resta uma que pode causar decepção e embaraço.
Elas pregam que muitos dos da classe dos ungidos, que deixou de ganhar membros desde 1914, passarão com vida pelo Armagedom.
O problema dessa profecia não é só o fato de que estas pessoas são simples seres humanos mortais, mais também o fato de que são apenas alguns milhares, e todos idosos.
Na consciência desse fato, na década de 1960 foi prosposto que se mudasse a data da “chamada celestial” de 1914 para 1957, sob o pretexto de que os “sinais celestiais” dos quais Jesus Cristo falou haviam sido marcados pelo lançamento do Sputnik em 1957, mas esse proposta não foi aceita pelo corpo de diretores.
Os membros do Corpo Governante já estão bastante envelhecidos, e muito próximos da morte, diga-se de passagem.
Assim, caso os “ungidos” venham a falecer em número completo, esta profecia das Testemunhas de Jeová terá falhado crassamente, assim como já se deu com muitas anteriores.
Resta-nos esperar pra ver.

Curiosidades
  • Rutherford era alcoolatra e promovia constantes bebedeiras na sede da Watch Tower em Nova Iorque;
  • Além da aversão às vacinas, Clayton Woodworth também persuadiu muitas Testemunhas de Jeová a crerem que os utensílios de alumínio eram tóxicos;
  • Clayton Woodworth também considerava os calendários em uso corrente como sendo originados no Diabo e, na The Golden Age de 13 de Março de 1935, propôs um calendário com os nomes dos dias e meses do ano modificados, e no qual os anos começavam na primavera. O calendário de Woodworth nunca foi aprovado pela Watch Tower;
  • O cálculo que as que as Testemunhas de Jeová alegam resultar em 1914 (2025 anos após a destruição de Jerusalém), baseia-se na convicção de que Jerusalém foi destruída em 607 a.C. Mas a destruição da cidade data de 587-586 a.C.;
  • Carl Sagan chegou a se pronunciar sobre as profecias das Testemunhas de Jeová em seu livro Broca’s Brain. Veja aqui.
Referências
http://corior.blogspot.com/2006/02/breve-histria-das-testemunhas-de-jeov.html
http://corior.blogspot.com/2006/02/captulo-2-criao-de-uma-teocracia.html
http://testemunhas.wikia.com/wiki/Vacina%C3%A7%C3%A3o_e_Soros
http://testemunhas.wikia.com/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o_do_Novo_Mundo_das_Escrituras_Sagradas
http://www.archive.org/details/TheFinishedMystery
Witnesses of Jehovah. Diretor: Leonard Chretien. EUA: Jeremiah Films, 1986.

http://historiaereligionis.wordpress.com/

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