Essa é uma pergunta que
sempre confundiu as pessoas, principalmente aqueles que procuraram, na
compreensão de tal realidade, uma explicação que fosse científica e racional.
Embora a ideia de um mundo espiritual não possa ser reduzida a um pensamento
puramente científico, podemos tentar abordar o tema numa linguagem que, não
sendo, poderá aproximar-se dessa visão científica.
Ao longo dos séculos as
pessoas tentaram conceber a ideia de um lugar puramente espiritual que seria a
morada das almas, ou do espírito, que embora sejam coisas distintas, podemos
tomá-las por iguais para não complicar a presente exposição.
Para muitos esse
lugar era o paraíso, um espaço partilhado por todos aqueles que tinham alcançado
um determinado patamar.
Mas esse era um lugar difícil de posicionar no nosso
universo material, pois onde estaria esse espaço espiritual?
Posicionar o mundo
espiritual num lugar físico, seria destitui-lo de toda a sua natureza, no
entanto, ele teria que estar em algum "lugar".
Conceber esse lugar como uma
realidade concreta, implicaria colocá-lo num "sítio" a-temporal e a-espacial.
Só
assim se poderia justificar a sua natureza onde tudo é uma só coisa.
Mas onde
estaria esse "lugar" a-temporal e a-espacial?
Ao olharmos para a história do
nosso universo seguindo os compêndios deixados pela compreensão que a ciência
fez do mesmo, constatamos que realmente existiu esse lugar.
É aquilo que
chamamos de singularidade, ou seja, o momento anterior ao Big-Bang.
Esse era um
"lugar" a-temporal e a-espacial.
Poderíamos, desse modo, tomá-lo como sendo a
morada das almas: que outro lugar se não esse para justificar aquilo que
contraria todas as leis conhecidas, como a existência de uma alma, que a própria
singularidade onde nenhuma lei do universo físico funciona.
Mas isso
colocar-nos-ia um problema.
É que esse momento deixou de existir após o
Big-Bang, e o mundo espiritual é eterno.
Para resolver este pequeno paradoxo,
teríamos que ver o nosso universo como sendo um lugar quadrimensional.
Não só as
três dimensões do espaço, mas igualmente a dimensão do tempo.
Assim, ao tomarmos
o tempo como uma dimensão, este passaria a ser um todo e não uma parte.
Num
universo tridimensional o tempo apenas existe no momento que dele temos
consciência, sendo o passado algo que deixou de existir e o futuro algo que
ainda está por acontecer.
No entanto, num universo quadrimensional, o tempo é
por si só uma dimensão; passado, presente e futuro são em simultâneo um único
momento.
Ou seja, da mesma forma que quando eu me desloco no espaço o lugar que
ficou para trás não deixa de existir, mesmo que eu já lá não esteja, quando eu
me desloco no tempo num universo quadrimensional esse momento passado também não
deixa de existir, continuando presente.
Para uma melhor compreensão desta ideia,
vou materializa-la num modelo.
Imaginem, então, que o universo é uma esfera onde
o tempo é a latitude e o espaço a longitude.
Assim, o Polo Norte é o momento
anterior ao Big-Bang, esse lugar a-temporal e a-espacial.
Ao avançarmos na
latitude que é o tempo, constatamos que o universo expande-se, atingindo o
momento de expansão máxima no equador, começando depois a convergir sobre si
mesmo até atingir o Polo Sul que é o momento posterior ao Big-Crunch.
Ao
olharmos para a esfera reparamos que esta já existe como um todo, pois trata-se
de um modelo quadrimensional.
Embora apenas estejamos conscientes num
determinado ponto "geográfico" dessa esfera, o Polo Norte que para nós é passado
e o Polo Sul que para nós é futuro, são em simultâneo um único momento dessa
mesma esfera.
Assim, esse momento a-temporal e a-espacial não deixou de existir
com o Big-Bang, já que o tempo passou a ser uma dimensão, e desse modo, todo ele
está presente com o espaço numa só unidade: a esfera.
É claro que ao tomarmos a
esfera como uma unidade espaço-temporal, esta deixa de ter princípio e fim.
O
Polo Norte, por exemplo, é apenas o princípio do universo para aqueles que se
encontram na "superfície" da esfera, já que na realidade esse princípio não
existe.
Se, por exemplo, nos posicionarmos no Polo Norte e deslocarmo-nos até ao
Polo Sul, constataremos que ao chegarmos ao Polo Sul o universo não termina, já
que continuamos a viajem pelo meridiano contrário de volta ao Polo Norte.
Assim,
cada um dos pólos é em simultâneo o princípio e o fim do universo, anulando-se
mutuamente.
Temos, desse modo, um universo que começa e acaba unicamente aos
olhos daqueles que estão na "superfície" da esfera, mas que é eterno aos olhos
daqueles que o observam de fora, ou de dentro, sendo esse "dentro" a própria
singularidade.
Contudo, ao olharmos para a esfera podemo-nos interrogar sobre o
que existe dentro desta.
É que sendo o espaço unicamente a circunferência que
contorna a esfera e não o círculo que iria preenchê-la, resta saber o que existe
no seu interior.
É aqui que entra a teoria dos universos paralelos.
Ou seja,
dentro da esfera, tal como aquelas bonecas Russas que têm dentro de si uma
boneca mais pequena, existem outros universos.
Partindo do princípio, apenas
para simplificar, que o nosso universo encontra-se na crosta da esfera, este
seria um universo de x escolhas, e o universo imediatamente interior seria um
universo de x-1 escolhas.
À medida que nos deslocássemos na direcção do centro
da esfera, constataríamos que os universos tornar-se-iam menos complexos, mais
simples e perfeitos.
Ao chegarmos ao centro da esfera estaríamos num universo de
zero escolhas, ou seja, a própria singularidade.
Esse novo vector, aquele que
vai desde a superfície da esfera até ao centro, seria aquilo que poderíamos
considerar a quinta dimensão e que nos permitiria, tendo como base o próprio
modelo, viajar pelo universo instantaneamente, pois fá-lo-iamos sem recorrer à
longitude e à latitude (espaço-tempo), mas apenas ao novo vector.
E sem o espaço
e o tempo a condicionar os nossos "movimentos", tudo tornar-se-ia um só momento
e um só lugar.
Desse modo, se eu posicionar-me no Polo Norte que é a
singularidade, e deslocar-me até ao centro da esfera passando pelos Pólos Norte
dos outros universos, estaria a fazê-lo sem sair do mesmo lugar, já que
continuaria na singularidade.
Logo, esse momento a-temporal e a-espacial não
existiria apenas no Polo Norte e no Polo Sul do nosso universo, mas em todo o
eixo que iria desde o Polo Norte até ao Polo Sul, passando pelo centro da
esfera.
E seria esse eixo, a-temporal e a-espacial, que existe desde sempre e
que sempre existirá, que serviria de morada às almas.
Assim, respondendo
directamente à pergunta:
"Onde é que se situa o mundo espiritual?", eu diria que
este situa-se no eixo do universo.
Mas como "situar" implica a existência de
espaço e de tempo, eu corrigiria, dizendo:
O mundo espiritual É no eixo do
universo.
Tendo chegado a esta conclusão, no contexto do modelo apresentado, outro tipo de considerações poderiam ser feitas sobre o mesmo.
Se tomarmos o
mundo espiritual como sendo o "lugar" onde reside a consciência de Deus, então
Ser no eixo do universo é Ser em todo o universo, já que não existindo
espaço-tempo a separar o eixo da superfície, mas apenas a quinta dimensão,
residir nesse lugar teria como resultado estar em toda a parte, ou seja, ser
omnipresente em relação à esfera.
Outra consideração que se poderia fazer sobre
o mesmo modelo, seria as dos buracos negros, que são vistos, também eles, como
sendo singularidades, e que neste caso ligariam os universos ao próprio eixo,
funcionando como um portal para o mundo espiritual.
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