Vaticano divulga original da profecia de Fátima, mantida secreta por meio século
Cristiano DiasAP |
Irmã Lúcia e o papa: convite à oração |
A profecia que a Santa Sé guardou a sete
chaves durante meio século finalmente veio à luz, na íntegra, na semana passada.
O texto original de trinta linhas do terceiro segredo de Fátima foi distribuído
em seis línguas, acompanhado de uma cópia xerox do original escrito pela irmã
carmelita Lúcia dos Santos, em 1944 (veja a íntegra).
"Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o
fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da História deve ficar desiludido",
disse o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé,
que revelou o texto numa transmissão ao vivo pela televisão italiana.
Em maio, o
Vaticano deu a própria interpretação: tratava-se apenas da premonição do
atentado que o papa João Paulo II sofrera dezenove anos atrás.
A explicação,
evidentemente, não satisfez a expectativa que durante décadas cercou o terceiro
segredo, revelado numa aparição da Virgem Maria a três pastores portugueses (a
irmã Lúcia, hoje com 93 anos, é a única sobrevivente), em 1917. Por isso, a
Santa Sé decidiu divulgar o texto completo.
Durante décadas, livros, cultos apocalípticos
e, mais recentemente, sites na internet especularam sobre a profecia. Muitos
temiam que fosse o fim do mundo.
Os dois primeiros segredos, igualmente escritos
em linguagem cifrada e recheados de metáforas, foram revelados nos anos 40.
O
primeiro era uma visão do inferno e da salvação por intermédio da devoção ao
Coração de Maria. O inferno da visão foi associado à II Guerra.
O segundo fazia
referência à conversão da Rússia. Muitos fiéis interpretam o fim da União
Soviética, em 1991, como o cumprimento dessa profecia.
O relato em linguagem
simbólica do terceiro segredo é igualmente de difícil interpretação.
O cardeal
Ratzinger diz que as imagens não devem ser encaradas de forma literal.
"O que
permanece é a exortação à oração como caminho para a salvação das almas",
comenta.
A Santa Sé enquadra os acontecimentos de
Fátima no campo das "revelações privadas", que não se tornam ensinamentos da
Igreja.
"Revelações como as de Fátima nos ajudam a compreender os sinais dos
tempos e a encontrar na fé a resposta a esses conhecimentos", explicou
Ratzinger.
Nesse sentido, as visões dos três pastorezinhos são diferentes da
revelação divina, que se encerrou com o Novo Testamento e implica um ato de fé.
O católico não é obrigado a acreditar na mensagem de Fátima.
"O cardeal não
colocou a revelação como uma questão de fé, que deve ser seguida pelos fiéis, o
que diminui sua importância", interpreta Eulálio Figueira, professor de teologia
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Ele vê os escritos de irmã
Lúcia como uma amostra do tormento vivido pela Europa no início do século XX e
acredita que têm de ser analisados dentro desse contexto.
Essa pode ser uma das
razões que levaram a Igreja a guardar o segredo por tanto tempo, até um momento
historicamente mais propício para ser revelado.
http://veja.abril.com.br/050700/p_064.html
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