Segundo
o professor de filosofia da Universidade de Oxford, Nick Bostrom, não são
desastres naturais que vão acabar com a espécie
por Redação Galileu
O
professor Nick Bostrom acredita que, ainda neste século, precisamos encontrar
‘equilíbrio tecnológico’ // Crédito: Divulgação
A
causa da extinção da humanidade?
Os próprios humanos.
Pelo menos é nisso que
acredita o filósofo Nick Bostrom, professor em Oxford e diretor do Instituto do
Futuro da Humanidade.
Ele argumenta que, por termos um longo histórico de
sobrevivência em relação a desastres naturais, o perigo no momento (e no futuro)
para a nossa espécie é apenas antropogênico, ou seja, é gerado por nós mesmos –
para Bostron, na forma de nossas novas tecnologias.
Agora, em um momento de
mudanças climáticas, essa ideia faz muito sentido.
Galileu
conversou com Bostrom para entender de que forma estamos nos colocando em perigo
com o desenvolvimento da humanidade que é, ao mesmo tempo, necessário para a
continuidade da espécie. Confira:
Galileu:
Em seus estudos você fala sobre o risco antropogênico de extinção da humanidade.
Como isso poderia acontecer?
Bostrom: Acredito
que os maiores riscos estão ligados aos avanços tecnológicos, principalmente os
que dão aos humanos maiores poderes na hora de alterar o funcionamento natural
do mundo, a biologia, por exemplo.
Quanto mais poderes temos, maiores as
conseqüências.
Em
relação às tecnologias atuais, quais poderiam causar essas graves
conseqüências?
As
mudanças climáticas são o exemplo mais atual.
Mas também acredito que há grande
risco nas formas mais avançadas de biologia sintética, em armas que usam
nanotecnologia e, sim, na superinteligência de máquinas que ainda serão
desenvolvidas neste século.
Modificar o nosso próprio corpo, nossa capacidade,
também é perigoso.
E, claro, também existe a categoria de perigos que ainda não
foram descobertos, tecnologias e mudanças que nem sonhamos, por enquanto, que
possam existir.
Então,
com as mudanças climáticas, já estamos correndo um grande risco de
extinção?
Não
acredito que no momento o perigo seja tão grande.
Penso que as maiores ameaças
virão no fim do século.
Mas é de extrema importância que comecemos a pensar em
medidas preventivas ou, então, em como contornar os possíveis desastres depois
que eles aconteçam desde já. Para isso, o momento é agora.
E
o que nós podemos fazer para impedir essa progressão de eventos que pode levar a
riscos que nós podemos nem conhecer? Como fazer essa prevenção?
Podemos
fazer muito, tanto como indivíduos ou como sociedade.
Mas, como esses riscos são
subestimados, ainda há poucos estudos que nos apontem um caminho certo. Uma
coisa que já poderia estar sendo feita é a construção de um grande bunker, para
que um contingente de humanos pudesse sobreviver a catástrofes nucleares,
colapsos de nossa produção alimentar ou de riscos desconhecidos, com suprimentos
para agüentar uma década.
Mesmo assim, acho que a maneira mais efetiva de
reduzir esses riscos é pesquisá-los mais.
Por
que subestimamos o risco de extinção antropogênica? Por que quando falamos em
extinção sempre pensamos em um asteróide colidindo com a Terra, por
exemplo?
Não
sei, na verdade.
A história é cheia de prognósticos falsos de um apocalipse
iminente.
E até hoje esses profetas nunca apontaram a humanidade como a causa
direta do fim do mundo.
Ok, estamos falando de superstição e ciência, coisas
distintas.
Mas essas profecias fazem com que os riscos de extinção de agora
acabem parecendo bobos e distantes, deixando as pessoas indiferentes a eles.
A
solução é separar a ciência da superstição, mas isso não é tão simples.
Nem a
ciência consegue dizer ao certo o que pode acontecer com a gente, entende?
A
ciência não pode fazer previsões mas, ao mesmo tempo, seria errado ignorar o que
pode, ou não, acontecer conosco.
Mas
enquanto as novas tecnologias podem ser a causa da nossa extinção elas são, ao
mesmo tempo, a esperança da nossa sociedade para um modo de vida mais
sustentável.
Como encontrar o equilíbrio entre o que é perigoso e o que é
necessário?
Muitos
dos riscos existentes para os humanos estão ligados à tecnologia, mas ao mesmo
tempo não dá para ser contra o desenvolvimento tecnológico, com certeza.
Afinal,
novas tecnologias vão ajudar a reduzir essas ameaças.
E, afinal, se pararmos de
desenvolver a nossa sociedade, isso, por si só, será a causa de nossa extinção.
Não podemos parar “no tempo”. Sim, encontrar esse equilíbrio é complicado.
Mas,
ao mesmo tempo, existem tecnologias que, obviamente, só serão perigosas para
nós, como armas biológicas.
É só usar a razão para ver que esse tipo de pesquisa
deve ser impedido ou, no mínimo, atrasado.
Saiba
mais sobre a pesquisa de Bostrom nos sites
Entrevista
originalmente publicada na Revista
Galileu .
EcoDebate,
18/05/2012
[
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