quinta-feira, 8 de março de 2012

PROMOVENDO A SAÚDE




Entrevista feita por Denise Tati para o jornal Arauto da Serra na primavera de 2000

Sonia Hirsch começou a carreira jornalística aos 17 anos, quando ainda – ela não esconde a idade – nem existia uma faculdade especializada.
Trabalhou muitos anos na Editora Abril e depois na Rio Gráfica.
Em 1983, aos 36, iniciou a reportagem mais longa de sua vida.
Assunto: saúde.
Usando uma linguagem coloquial e bem humorada, Sonia já escreveu 14 livros sobre o tema.
Todos eles, baseados em muito trabalho de pesquisa, revelam, além de mil curiosidades, que nós somos os maiores responsáveis pela nossa saúde.

– Sonia, todos que lêem seus livros, eu inclusive, ficam encantados com a sua forma de escrever.
O seu texto flui naturalmente...
É tão fácil para você escrever quanto é para a gente ler?


– Para mim, sempre foi muito fácil escrever.
Desde os 13 anos tive máquina de datilografia mas comecei a escrever profissionalmente por causa do teatro, que era o que eu queria fazer.
Era muito ligada ao pessoal do Teatro de Arena, em São Paulo, e quando eles montaram "Arena conta Zumbi", texto do Guarnieri, música de Edu Lobo, com Dina Sfat, Paulo José, Marília Medalha... fiquei apaixonada, via o espetáculo todas as noites. Nessa época morava em Campinas e resolvi levar a peça para lá.
Fui então agitar a divulgação e acabei escrevendo os releases para os jornais locais.
Um dos jornais gostou do que escrevi e, além de publicar, me convidou para fazer outras matérias.
Então, aos 17 anos eu já ocupava uma página inteira aos domingos no Diário do Povo e descobri que podia viver de escrever.


– E a paixão pelo teatro?

– Cheguei a fazer vestibular para Artes Dramáticas, mas não passei.
Depois quis fazer Sociologia Política, mas era época da ditadura e a faculdade estava sob intervenção.
Quando era adolescente queria fazer coisas porque achava o mundo um lugar muito inóspito, não via muito sentido em estar aqui.
E achava que sentia isso porque ainda não tinha descoberto o que queria fazer, achava que as coisas iriam se revelar para mim através do fazer.
Só muito recentemente descobri o sentido do ser.
Então, antes de você descobrir o "ser", você tratou de fazer.
Isso. E as coisas foram acontecendo e dando certo.
Um dia, ainda em São Paulo, o Ignácio de Loyola Brandão me perguntou se eu queria um emprego "mole".
Lá fui eu editar um jornal anti-salazarista, um jornal de resistência além-mar.
Não entendia muito daquele negócio mas o cavalheiro português que patrocinava o jornal me explicava e eu escrevia.
A redação era uma escrivaninha dentro de um armazém de secos e molhados, do próprio cavalheiro, e o jornal ainda era composto em linotipo...
Recebi, então, um convite para trabalhar na Intervalo, da Editora Abril.
Só que vim ao Rio passar um final de semana e nunca mais voltei para São Paulo.
Por sorte consegui que o convite fosse transferido para a sucursal carioca, que produzia para todas as revistas da casa, e aos 19 anos estava empregada, assinando matérias até na revista Realidade.
Fui criando fama de "bom texto".
Escrevia também para outras revistas, como Cláudia, Quatro Rodas, Capricho.
Essa foi uma escola maravilhosa porque tinha que escrever para públicos diversos, o que foi me dando agilidade em vários estilos.
Mas sempre procurei manter a linguagem coloquial, de escrever como se fala.




E o tema saúde?
Como foi que você pegou esse caminho?


Eu trabalhava na Rio Gráfica, que foi outra ótima escola e uma época muito boa.
Lá trabalhei na divisão de quadrinhos e editava Fantasma, Riquinho, Cavaleiro Negro, Recruta Zero, reeditei o Gibi Semanal, uma coletânea das melhores histórias de todos os tempos e que faz parte da coleção de todo quadrinhófilo brasileiro...
Enfim, eram quase 30 revistas mensais, uma delícia.
Nessa época, por causa de um projeto, conheci Luli e Lucina, que faziam alimentação natural.
Fui passar um fim-de-semana com elas e aprendi a fazer arroz integral e a comer bem sem ter carne no meio do prato.
Nessa época conheci também o Pai José, que era o que se chama de "preto velho".



Você começou a freqüentar um terreiro de umbanda.


É uma coisa muito engraçada porque sou uma pessoa não crente, não tenho ligação com nada que possa dizer: "Ah, eu acredito."
Não, não acredito.
Mas percebo os fenômenos, e aquilo, sem dúvida alguma, era um fenômeno muito interessante.
Muita gente freqüentava esse terreiro.
Tinha uma turma de gente conhecida, como o Ney Matogrosso, Luli, Lucina... e uma turma de gente não tão conhecida mas com a cabeça aberta.
Quando acabava a gira ainda ficávamos conversando com o Pai José até 3, 4 horas da manhã.
Logo virei a "escrevente" dele.
Ele dava as receitas para as pessoas, eu anotava e depois lia e explicava para elas. Foi exatamente a maneira que ele tinha de passar o conhecimento que me prendeu nessa história.
Ele trazia muito da filosofia oriental e falava sobre alimentação, chás de ervas...
Era paciente, bem humorado, muito acolhedor...



A sua posição de não crente mudou depois dessa experiência?

Não, mas freqüentei esse terreiro 7 anos e aprendi demais.
Foi lá que pela primeira vez entrei em contato com alguma coisa parecida com compaixão.
Não compaixão no sentido da pena, mas no sentido de amor ao próximo.
Um lugar onde você era aceito sem restrições, sem censuras, onde as pessoas escutavam e entendiam que você tinha uma fraqueza, ou duas, ou dez, e que você sofria por conta disso.
E elas procuravam amenizar o seu sofrimento receitando um banho de ervas, dando um conselho, uma dieta, um abraço.




Os seus livros têm uma característica de manual, de guia.
São livros agradáveis de se ler e que acabam ficando ali por perto, para uma consulta aqui, outra ali.
Eles são livros de auto-ajuda?

Acho que sim.
São livros que promovem a saúde mas que dizem assim: ninguém vai fazer por você o bem que você mesmo pode fazer.
São livros que alertam as pessoas para as alternativas que podem ser encontradas no campo da saúde e dão a possibilidade delas escolherem melhor o médico.
Porque antigamente, você tinha o médico da família que via você como uma pessoa inteira.
Atualmente, um médico olha para você e vê o seu fígado, outro vê seu cérebro, outro vê seu sangue, como se as coisas não estivessem interligadas num sistema interdependente.
A especialização médica produziu deformações e é a gente quem paga a conta.
Não é à toa que todos temos que ter seguro saúde.
Vivemos em pânico com os altos preços das consultas e dos diagnósticos e também com o fato de que, se temos alguma coisa um pouco misteriosa, somos obrigados a ir a 4 ou 5 especialistas, muitas vezes sem que nenhum descubra o que é.




No seu livro "Almanaque de Bichos que dão em Gente" você dá um alerta para o fato de que grande parte das doenças é causada por vermes, fungos, enfim, bichos que dão na gente.
Você fala também sobre a confusão de sintomas que as parasitoses podem causar e que acabam te levando a um roteiro infinito entre neurologistas, alergologistas, psiquiatras...


Pois é, sinto que com o "Almanaque" consegui, realmente, concretizar uma contribuição muito importante nessa questão - no avanço que cada um de nós tem que fazer quanto à consciência do que acontece com o próprio corpo e também no que nós temos que pedir ao médico para descobrir.
E a verdade é que os médicos não conseguem descobrir as parasitoses, eles não estudam mais as parasitoses e os exames dos laboratórios não acusam.
Então, o que eles fazem?
Dão algum remédio genérico sem nem saber o que estão combatendo.
Aí acontecem coisas terríveis.
Por exemplo: você tem uma lombriga e a dose do remédio que te foi dada é insuficiente.
Aquilo não vai eliminá-la, só vai fazer com que ela perceba o ataque e fuja por canais indevidos.
Ai entope o fígado, o pâncreas...isso é só a pontinha do iceberg.
A verdade é que todo o lobby científico foi direcionado para uma medicina cara, que está interessadíssima em que você tenha uma doença crônica para ficar indo lá, gastando com médicos, exames caríssimos, remédios que não resolvem.
Se nós não abrirmos o olho vamos virar reféns desse tipo de medicina.



A saúde é subversiva.


Exatamente.
Porque ela não dá lucro a ninguém.
Promover a saúde é muito simples mas ao mesmo tempo dá muito pouco ibope porque você tem que ficar falando das mesmas coisas sempre: comer bem, dormir bem, respirar bem, se movimentar, ter uma boa relação afetiva...
Nada disso é pirotécnico, nada disso provoca escândalo.
O que faz escândalo é um vírus novo que está matando não sei quantas pessoas desnutridas num país paupérrimo, onde qualquer coisa mata, e uma vacina americana que vai salvar todos nós de futuras doenças misteriosas.
Você ter saúde é a melhor forma de contrariar esse capitalismo desumano que está aí.



Você fala muito sobre dietas, alimentação natural... Você não acha que acontecem algumas distorções?

Por exemplo, o porco, tão discriminado, também é natural.
O porco é naturalíssimo, se for criado de forma natural.
Não falo mais em comida natural, alimentação natural.
Falo sobre alimentação saudável.
Mas acho importante você conhecer as dietas, como a macrobiótica, a vegetariana, a higienista, para poder fazer uso delas quando for preciso.
Eu mesma não quero ter uma vida limitada pela dieta, uma vida do tamanho da minha dieta alimentar.
Então, isso inclui comer de tudo.
Mas se eu começar a passar mal de alguma forma, pode ter certeza de que vou tratar de fazer uma dieta.
Assim que me sentir bem, volto a pipocar em outras direções.
Também não existe dieta perfeita.
De repente a pessoa fica ali, naquela mesmice, com a ilusão que está garantida, enquanto pode estar é se privando de alguma coisa que vai fazer falta pra ela mais adiante.
E ninguém fica bom com uma dieta que faz contrariado porque a contrariedade pode ser muito pior do que a comida.



Você falou do porco, pois é, depois que fiz o "Manual do Herói" entendi que a carne de porco também tem o seu lugar na vida da gente.


Quando você está se sentindo medrosa, paranóica, seu rim pode estar precisando de uma tonificada e um poquco de carne de porco pode te fazer bem.
Agora, claro, ela é gordurosa, precisa estar muito bem cozida.
Para mim, hoje, a carne de frango parece a pior de todas.
O que é que é aquilo?!
Os peitos de frango parecem siliconados.
Cada dia fica mais difícil selecionar o que comer, escapulir de tanta comida envenenada com hormônios, agrotóxicos, corantes...
É muito difícil mesmo.
Está se fechando um cerco em torno de nós.
Esses frangos que compramos nos mercados são abatidos com 33 dias quando, você sabe, um frango criado naturalmente só vai ser abatido com cinco, seis meses.
Mas não existe uma regulamentação para esse tipo de coisa.

O Ministério da Saúde investe milhões numa campanha contra o cigarro, que acabou virando boi de piranha, e não adverte ninguém contra os malefícios do uso em excesso de açúcar, do refrigerante, da farinha, sobre os abusos de hormônios, antibióticos, agrotóxicos...Será que o ministro não sabe disso?
Será que seus assessores não sabem disso?
Então são todos uns incompetentes e não poderiam estar ocupando os cargos que ocupam?


E o açúcar?
Você tem até um livro específico sobre esse doce vício.

É o "Sem Açucar, Com Afeto".
O açúcar, comprovadamente, é o pior antinutriente que nós temos.
Primeiro, ele é muito gostoso e é branco.
E tudo que é branco tem cara de inocente.
Só que de inocente ele não tem nada.
Na verdade, o açúcar é o primeiro vício que a gente adquire, ainda na infância, na mamadeira.
E você segue a sua vida consumindo direto porque ele esta embutido em muitas coisas, praticamente tudo tem açúcar.
Ele é muito calórico, circula rapidamente pelo sangue dando uma falsa sensação de que alimentou.
Só que destrói vitaminas e minerais sem dar nada em troca para o organismo, e ainda cria um ambiente propício para bactérias, fungos, protozoários, vermes...
O açúcar é uma droga prazerosa que deveríamos usar com muita cautela, com muita moderação.


Já o inhame...você é fissurada.

Acho que sou a maior propagandista do inhame.
É porque ele é a verdadeira batata brasileira, nativa, e tem mil qualidades.
Além de ser um tubérculo muito valioso como massa calórica, ele purifica o sangue, protege contra as doenças transmitidas por mosquitos, é muito bom para a mulher porque é rico em fitoestrógenos, é importante de se ter em casa porque é ótimo para queimaduras e é o único remédio que cura unha encravada.
Essa, aliás, foi uma descoberta minha.
Você pode procurar na literatura médica mundial; não existe nada que cure unha encravada.
A receita é simples.
Rale o inhame e misture com 10% de gengibre, também ralado.
Coloque um pouco de uma farinhazinha para dar liga e aplique a mistura em cima da unha doente, protegendo com uma gaze.
Quando secar, troque.
O tratamento é rápido, coisa de 24 a 48hs, dependendo da inflamação.


Você acabou de reeditar o livro Só para Mulheres.
É só para mulheres mesmo?


A primeira edição desse livro, que foi independente, vendeu mais de 20 mil cópias. Essa nova, revista e atualizada, já saiu pela minha editora, a CorreCotia.
O projeto gráfico é outro, com fotos de grandes profissionais como Nair Benedicto, Zé Roberto Ripper, Ricardo Funari, Patt Neves e outros.
Foram incluídos também novos capítulos - entre eles sobre sexo e gravidez na adolescência, que é uma coisa muito preocupante atualmente, e sobre as partes mimosas dos homens, que eu achava que fazia falta.
E, respondendo à sua pergunta, o "Só para Mulheres" é um livro também para os homens, homens que gostam das mulheres, não de mulheres.
Porque tem homem que gosta de mulher para cuidar das coisas dele, para ter ao lado, formar um casal, como o presidente dos Estados Unidos que precisa ser casado.
Um tipo de homem que gosta da mulher para fazer sexo, mas gosta muito mais de ir para o bar conversar com os amigos, de ir ao futebol com eles.
Agora, há outro tipo de homem que gosta das mulheres, que se interessa pelo universo feminino.
Para esse, "Só para Mulheres" vai proporcionar um bocado de prazer.



Para terminar esse papo maravilhoso, como não poderia deixar de ser, vamos falar da Serra. O que é que a Serra te proporciona de bom?


Primeiro, a altitude que me proporciona um bem estar muito grande.
Respiro melhor, durmo melhor, me alimento melhor.
Já freqüento a Serra há 12 anos.
Quando vim para cá, aluguei uma casa.
Subia todos os finais de semana e achava maravilhoso.
Acabei comprando um terreno e construindo uma casa.
E sou muito ligada as coisas daqui, curto muito o Hortomercado e essas pessoas que trabalham com produção rural, com agricultura orgânica, que, inclusive, recebem merecidamente muito apoio do Arauto.
Me agrada muito ver o que essas pessoas realizam.
Afinal, historicamente a humanidade sempre se distribuiu em proporções maiores no campo do que na cidade.
Isso hoje está invertido, causando muita infelicidade, porque é muito maior o número de pessoas aptas para uma vida em harmonia com a natureza, plantando, criando, do que para viver enfiada em apartamento, fazendo trabalho de escritório, no ar condicionado, no trânsito.
Aqui gosto de caminhar, visitar pessoas, observar a natureza...
Gosto tanto que estou criando condições de me mudar para cá, com gatos ,Correcotia e tudo mais...


http://www.soniahirsch.com/

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