segunda-feira, 3 de outubro de 2011

CIÊNCIA ESPÍRITA : A VIDA APÓS A MORTE



Quando o coração para, o fluxo sangüíneo e os níveis de oxigênio no cérebro caem para quase zero em instantes.

Nos próximos 10 ou 20 segundos as máquinas de eletroencefalograma não mostram nada além de uma linha reta.

O cérebro não funciona.

Fim.

Mas a morte tem volta.

Graças aos desfibriladores, médicos podem ressuscitar pacientes que tiveram uma parada cardíaca no leito do hospital.

E não falta quem volte desse estado com memórias vividas.

O roteiro é sempre parecido.

E bem conhecido.

Depois de ressuscitado, o paciente diz que observou o próprio corpo do lado de fora.

como se estivesse no teto do quarto do hospital, enquanto os médicos aplicavam as descargas elétricas do desfibrilador. Então eles se sentem "puxados" lá para baixo.

E voltam à vida.

Intrigado com essas histórias, Parnia bolou um projeto para testar a veracidade delas.

Em 1997, conseguiu a autorização do Hospital Geral de Southampton, onde trabalha como cardiologista, para emplacar a pesquisa.

A idéia era conversar com todos os sobreviventes de paradas cardíacas do hospital, durante um ano, para saber se haviam passado por algum momento lúcido durante a morte clínica.

E o principal: o médico instalou 150 placas pelo hospital, com sinais, textos e desenhos virados para cima, posicionadas de tal maneira que apenas alguém localizado no teto poderia ler.

Assim, caso um paciente contasse o que havia na placa, a experiência fora do corpo estaria comprovada.

Parnia contou com a ajuda do mais célebre entre todos os que estudam o além, o neurologista Peter Fenwick.

O inglês é o homem que tornou as EQMs assunto de mesa de almoço de domingo pelo mundo.

Fenwick era cético até 1985, quando, durante seu trabalho no hospital Maudsley, em Londres, teve que atender um paciente que demonstrava ansiedade extrema.

O homem contou que durante uma cirurgia de cateterismo sofreu uma parada cardíaca.

Enquanto os médicos tentavam ressuscitá-lo, sentiu-se puxado para fora do corpo e, do teto do quarto, pôde observar a movimentação.

De repente, percebeu que estava de volta à cama do hospital.

A experiência fora tão marcante que desencadeou a crise de ansiedade.

"Até ter essa conversa, achava que essas coisas só aconteciam na Califórnia", brincou o médico (o estado americano sempre foi a capital mundial do consumo de alucinógenos).


Peter Fenwick, pioneiro nas pesquisas

Mesmo não acreditando em experiências de quase morte, Fenwick começou a buscar mais relatos.

Conseguiu algumas dezenas, como o do inglês Derrick Scull.

Major aposentado do exército, pai de dois filhos e funcionário de uma respeitada empresa de advocacia, tinha todas as credenciais de uma pessoa centrada e nada mística quando passou por uma experiência que mudou suas crenças.

Em 1978 ele sofreu um enfarte e, após ter recebido os primeiros socorros, foi deixado numa cama de UTI.

Durante a parada cardíaca, sentiu-se sair do corpo.

Do canto esquerdo do teto, pôs-se a observar o próprio corpo, e reparou que estava vestido com um robe e uma máscara contra contaminação.

Ao mesmo tempo, foi capaz de enxergar a esposa falando com a enfermeira, e percebeu que ela estava vestida com um tailleur vermelho.

Depois, encontrou-se de novo deitado na cama.

Percebeu que a esposa havia entrado na UTI e que ela estava vestindo a mesma roupa que ele havia visto "de cima".

Fenwick apresentou esses relatos num documentário da BBC em 1988.

E a partir dali os elementos mais comuns das EQMs, como a sensação de sair do corpo, entraram para o folclore moderno.

Parnia também colecionou histórias que pacientes lhe contavam, como a de uma mulher que, enquanto estava na forma de fantasma no teto da sala de cirurgia, viu o médico esbarrar num carrinho com instrumentos cirúrgicos, fazendo-o deslizar pela sala e se chocar contra uma parede.

No dia seguinte, quando contou a ele sobre os incidentes com o carrinho, ele achou que alguma das enfermeiras tinha contado a história à paciente.

Segundo ele, não tinha.

Naquela mesma época, outros médicos tocavam projetos parecidos com os de Parnia.

Na Holanda, o cardiologista Pim van Lommel também estudava histórias assim.

Lommel conheceu a de um homem que, em estado de coma profundo e com uma parada cardíaca no meio do processo, viu de fora do corpo a enfermeira retirar a dentadura dele e colocá-la em um carrinho especial.

Uma semana depois, em fase de recuperação, ele voltou ao hospital e reconheceu uma das enfermeiras.

Lembrou-se de que fora ela quem tinha retirado seus dentes e os colocado em um carrinho, com garrafas em cima e uma gaveta embaixo.

Para a surpresa da enfermeira, apesar do coma, o paciente descreveu com detalhes a sala e as pessoas que participaram da operação.

Seja como for, isso são só relatos.

Acredita quem quer.

Justamente por isso, Parnia e Fenwick resolveram dar um passo adiante da simples coleta de casos e partiram para a experiência com placas.

Mas os resultados não foram animadores.

A dupla registrou 63 ressuscitações, mas nenhum desses pacientes disse ter viajado para fora do corpo.

Então as placas ficaram à toa, sem leitores em potencial.



Revista Superinteressante (n. 296 - out/2011)
Ilustrações: Patrick Melgaço

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