Comumente as pessoas me perguntam qual é a finalidade da meditação.
Elas ficam intrigadas a respeito daqueles que sentam para meditar.
Querem saber se a prática meditativa lhes traz algum benefício.
“Você se sente melhor?”
“Fica mais calmo?”
“Levita?”, perguntam elas.
Certamente serenidade e bem-estar estão ligados à meditação.
Algumas criticam, dizem que é tedioso ou ilógico.
No entanto, a maioria delas está apenas exteriorizando uma sadia e natural curiosidade.
Elas desejam saber se a meditação traz algum auxílio para a vida cotidiana.
O que acho muito bom.
No entanto, tomam o cotidiano como base.
A meditação faz muito mais do que apenas equilibrar os aspectos físico e emocional dos praticantes.
É perfeitamente compreensível entender porque algumas pessoas criticam; afinal, o mundo está tão acelerado que quando alguém pára por um momento a multidão o aponta como sendo extravagante e diferente.
“O sujeito se senta no chão, não fala, não vê, não ouve, não usa o olfato, não sente, não pensa.
Está fora de si”, dizem.
Mas é o mundo que está fora de si.
As pessoas não querem desacelerar o relógio do progresso desvairado da mente humana. Vão em sua onda, sendo carregados, arrastados, seguindo suas estranhas e ilusórias regras.
Como perceber um erro se todos estão de acordo com o erro?
O erro se torna lei.
Como se pode ver uma mancha negra em um fundo negro?
Os que preferem ser levados pela correnteza mental certamente não irão procurar a margem do rio para a ela se dirigirem.
Mas quem percebeu ou vislumbrou que a correnteza segue infinitamente carregando seus inconscientes – dia após dia, ano após ano, encarnação após encarnação – suplica aos céus para que obtenha forças para nadar até a margem da Consciência.
É a Voz do Deus interno chamando a essa margem.
É a intuição que todo ser humano possui em seu âmago, velada pelo redemoinho descontrolado da mente e de seu rebento, o ego, juntamente com seus desejos, suas emoções, sua intelectualidade.
A correnteza mental nunca pára.
Jamais.
Essa é a função dela: descer as águas da inconsciência eternamente rio abaixo.
Meditar é nadar para a margem.
Quando você intuitivamente percebe que o mundo não faz sentido, inevitavelmente será levado a meditar.
Você verá que não é possível obter respostas naquilo que seus sentidos lhe dizem, naquilo que suas emoções lhe sugerem, ou mesmo no que seu intelecto analisa e deduz.
O que você busca está além desse trio de ilusões: os sentidos, as emoções e os pensamentos.
Então compreenderá que não está buscando meios de decifrar enigmas, mas que não há enigmas a se decifrarem.
Sentará, meditará e terá todas as respostas.
Sentirá a Verdade, mas perceberá que as palavras não a alcançam, nem os pensamentos.
Apenas um verter de lágrimas devocionais comunicará o que você vislumbrou.
Tal Verdade esteve sempre presente, mas a velocidade do mundo, da mente, não permitiria que fosse percebida.
Não há ato mais nobre do que levar seu corpo, seu coração e sua mente para sentar e meditar sobre o límpido chão de um templo que se ergueu ao redor de um Mestre espiritual, o qual se conscientizou da Verdade e agora se predispõe como farol aos que ainda engatinham na margem da Consciência.
Quando meditar, não tenha pressa.
É necessário parar e sentar.
Quando meditar, não tenha impaciências.
A árvore não vem pronta.
Na espiritualidade, nada vem pronto.
Pingando gotas de água em um balde de lama, inevitavelmente obteremos um balde cheio de água límpida.
Quando meditar, não carregue seus fardos nos ombros.
Deixe-os no portão do templo, do lado de fora e, na saída, recolha-os.
Como poderá meditar se estiver em desequilíbrio físico, emocional ou mental?
Alivie-se disso tudo, pois são todos coisas ilusórias.
Um dia você sairá do templo e perceberá que não há mais fardos na saída, pois nunca houve.
O benefício que a meditação traz para a vida cotidiana é exatamente fazer perceber que essa mesma vida cotidiana é uma ilusão.
Quem se inicia a meditar, buscando a cura para os seus males diários, surpreende-se ao ver que na verdade eles nunca existiram, senão dentro da ilusória mente.
Os problemas se apresentam gigantescos para aqueles que estão sendo levados pela correnteza.
A meditação simplesmente mostra a irrealidade de tais questões.
O grande monstro nada mais era do que uma sombra.
O que pode a escuridão sobre a Luz da meditação, da espiritualidade?
O personagem do drama se torna expectador, observador.
Que desequilíbrio pode causar uma representação em uma branca tela?
Mas posso lhe dizer: tudo se unifica para aquele que medita.
Desaparece o “eu” e o “você” e o "ele".
Você passa a olhar para seu semelhante como se estivesse olhando para o seu filho mais amado, como se estivesse olhando para si mesmo.
O Amor revelado pela prática meditativa, pela prática espiritual, tudo unifica.
Apresenta-se a leveza de quem começa a perceber que toda separação é ilusória e que somente Deus persiste.
Meditar é afastar a mente ilusória, que nos esconde a Verdade da eterna presença do Supremo Ser, que está e sempre esteve em todos os lugares, em todos os dias, em todas as encarnações, em todos os planos.
Quando meditamos, gradativamente diluímos e sutilizamos o peso, a densidade do mundo mental.
A meditação contínua e persistente nos coloca de frente para a Consciência.
Crescemos, quando meditamos.
A espiritualidade nunca pára de crescer, mesmo quando não percebemos seu avanço. Também não vemos a relva crescer, mas ela cresce.
Meditar é estar com o Pai.
É a oração do meditador, sem palavras, pensamentos, ou emocionalidades.
Deus está e sempre esteve presente, por detrás da ilusória cortina que a mente levanta.
Meditar é realmente um supremo privilégio.
Sadhaka Natha
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