segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ego, Self e Meditação



O ego.
É um complexo de elementos numerosos..

No entanto, forma uma unidade bastante coesa para transmitir a impressão de continuidade e de identidade consigo mesma.
Carl Gustav Jung, dada sua composição complexa feita de muitos elementos, frequentemente usava a expressão complexo do ego, em vez de, simplesmente, ego.
O ego é uma coleção de opiniões que temos a respeito de nós mesmos.
O ego é o modo como descreveríamos a nós mesmos.
É uma entidade que criamos e que nos faz sentir certos e seguros.
Como uma máscara que usamos para o mundo, ela nos protégé contra nossos medos condicionados.
Às vezes, no entanto, as paredes do ego mais dor que proteção.
O crescimento pessoal e a evolução espiritual, no caminho da auto-realização, impõe que: primeiro formemos o ego; em seguida o compreendamos; e, finalmente, o transcendamos.

O ego se desenvolve na infância.
No início, a criança pensa que ela sua mãe são a mesma coisa.
Mais tarde ela começa a desenvolver o senso de separação.
Os "nãos" de uma criança de dois anos, que algumas vezes irritam os adultos, são uma mostra de um ego se desenvolvendo.
O papel fundamental do ego é criar a nossa própria singularidade, uma identidade através da qual nos expressemos.
O ego é uma combinação de impressões.
Ele contém comportamentos que levam a intimidade, a produtividade e a criatividade.
Contém outros comportamentos que se constituem em coleção de paredes erigidas para autoproteção, para afastar feridas e manter a segurança.
Às vezes, criam-se paredes inapropriadas que levam ao sofrimento.
Por exemplo, alguém que, temendo o abandono, se fecha para a experiência do amor.

O ego expressas suas inseguranças julgando tudo.


Por esta razão, Joan Borysenko, em seu Cuidando do Corpo, Curando a Mente, chama o ego de "o Juiz".
O ego tenta assegurar a felicidade mantendo tudo fortemente sob controle.
Ele divide o mundo em categorias rígidas: o bem e o mal; o positivo e o negativo; a favor e contra; o claro e o escuro; e outras.
Às vezes cegamente, procura o bem e evita o mal.
É sede frequente de ilusões.
A exacerbação do ego – aquilo que eu chamo de "hipertrofia do ego inchado" – está na base do comportamento egoístico, do egocentrismo e da egolatria.
Psicólogos orientais afirmam que a tarefa do adulto é destruir o ego, quebrando velhas defesas contra o medo e a insegurança.
Estas defesas alimentam várias reações e posturas que adotamos para parecermos pessoas aceitáveis.

O ego é frequentemente comparado a uma máscara que usamos para nos mostrarmos ao mundo.
Na maior parte das vezes, nos tornamos inconscientes deste processo e pensamos que a máscara é o que realmente somos.
É fácil reconhecer a máscara do ego com suas defesas, que mantêm afastada a ilusão da dor.
O ego – o Juiz – tem uma motivação primária: procurar o prazer e evitar a dor.
Para o ego, o bem é a segurança e o prazer e o mal é o medo e o perigo.
Em todas as defesas do ego, está presente a preocupação com a sobrevivência.

No processo de amadurecimento do ser humano, todos os componentes da mente se unem numa síntese para o amadurecimento da personalidade para formar um indivíduo específico e inteiro.
Quase sempre o processo desta síntese não é harmônico, mas conflituoso.
Carl Gustav Jung chama a este processo de amadurecimento de "individuação".
O ser humano é capaz de tomar consciência deste processo de desenvolvimento e de influenciá-lo.
O consciente entra em confronto com o inconsciente.
Esta confrontação, de acordo com Jung, " é o velho jogo do martelo e da bigorna: entre os dois, o homem, como o ferro, é forjado num todo indestrutível, num indivíduo.
Isso, em termos toscos, é o que eu entendo por processo de individuação".

O processo de individuação não é um processo linear, mas uma circunvolução que conduz a um novo centro psíquico.
Este novo centro é o Self (o Si mesmo) sobre o qual tratarei daqui a pouco.
Quando o consciente e o inconsciente vêm ordenar-se em torno do Self , a personalidade se completa.
O Self será o centro da personalidade total, como o ego é centro do campo consciente.
A preliminar da individuação será o desvestimento daquilo que Jung chamou de persona.
Os gregos antigos chamavam de persona a máscara que os atores usavam de acordo com o papel que iriam representar.

Muitas vezes, para estabelecer contatos convenientes com o mundo exterior, o ser humano assume uma aparência que não corresponde a sua essência, o seu modo de ser autêntico.
A pessoa se apresenta mais como gostaria de ser ou como os outros esperam que ele seja, do como ela é realmente.
A esta aparência artificial é que Jung chamou de persona.
O militar, o professor, o médico, o executivo, entre outros profissionais, comumente mantêm uma fachada de acordo com as convenções sociais, na forma de vestir, de falar e até no gestual.
A psique coletiva oferece recortes para a constituição dos moldes da persona.

Machado de Assis, em seu conto O Espelho, ilustra muito bem o que seja persona. Machado narra o caso de um jovem que tendo sido nomeado alferes da guarda nacional, tanto se identificou com a patente que " o alferes eliminou o homem".
Quando, por especiais circunstâncias, ele foi obrigado a ficar sozinho numa casa de campo onde não havia ninguém para prestar as mesuras, louvações e marcas de respeito devido ao alferes, sentiu-se completamente vazio.
Ele via esfumada, sem contorno nítido, até sua imagem no espelho.
Este estranha fenômeno levou-o ao pânico.
Desesperado lembrou-se de vestir a farda de alferes.
Neste conto, Machado apresenta a teoria de que o homem tem duas almas: "uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro".
Vestido diante do espelho, o alferes observou:
"O vidro reproduziu então a figura integral, nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior".

Quantos de nós já se viu em semelhante desespero quando se viu despido das honrarias próprias de seus cargos ou funções?
Quanto mais a persona se colar à pele do ator, mais traumática será a operação psicológica para despí-la.
Quando é retirada a máscara que o ator usa nas suas relações com o mundo, aparece uma face desconhecida.
Olhar-se de frente, despido de toda "maquiagem" de que nos revestimos é um ato de coragem.
Enfrentaremos o nosso lado escuro onde habitam todas as coisas que nos desagradam em nós, ou mesmo que nos assustam.
É aquilo que Jung chamou a nossa sombra.
A sombra faz parte de nossa personalidade total.

O Inconsciente -
Cada uma de nossas experiências, cada uma das vivências ocorridas em nossa vida, é codificada como uma impressão no sistema nervoso.
Graças a isto não precisamos aprender a dirigir o carro a cada vez que sentamos ao volante para dirigir.
A mente inconsciente é um tesouro integrado de aprendizagem, um manancial inesgotável de impressões, que pode ser aberto para trazer sabedoria a qualquer situação.
Por outro lado, é também um depósito de medos, frustrações, desapontamentos e velhas gravações, que, embora não sejam mais relevantes, ainda persistem.
Carl Gustav Jung identificou que o inconsciente compreende dois componentes: o inconsciente pessoal; e o inconsciente coletivo.

O Inconsciente pessoal.
Na psicologia jungueana, esta denominação se refere às camadas mais superficiais do inconsciente, cujas fronteiras com o consciente são bastante imprecisas.
Aí se incluem as percepções e impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente.
Aí se encontram combinações de idéias ainda demasiado fracas e indiferenciadas.
Aí se localizam traços de acontecimentos ocorridos durante o curso da vida e perdidos pela memória consciente.
Aí se encontram, ainda, recordações penosas de serem relembradas, além dos chamados complexos, "grupos de representações carregados de forte potencial afetivo, incompatíveis com a atitude consciente".
Aí se encontra, também, a soma das qualidades que nos desagradam e que ocultamos de nós próprios, nosso lado negativo, escuro, nossa sombra.
Estes diversos elementos, embora não estejam em direta conexão com o ego, têm sua atuação e influência nos processos conscientes.
Eles podem provocar distúrbios, tanto de natureza psíquica, como orgânica. (...)

O Self.
Faz parte da essência da maioria dos sistemas espirituais, o reconhecimento de que há uma semelhança essencial entre cada ser humano.
Muitos reconhecem que o íntimo de cada um de nós consiste na mesma consciência.
As filosofias orientais falam sobre transcender as limitações do ego de tal maneira que o Self possa ser reconhecido como parte da totalidade da consciência divina.
Jesus, o Cristo, também nos ensinou a amar ao próximo como a nós mesmos.
Muitos sistemas psicológicos de crescimento tem objetivos semelhantes.

Toda vez que a mente está totalmente consciente, totalmente absorvida, ela fica tranquila. Neste estado de tranquilidade e paz, você entra em contato com esta consciência superior, esta mente não-condicionada, o Self.
O Self é o observador dos nossos pensamentos.
Joan Borysenko, na obra já citada, o chama de a "Testemunha".
Permanecer na posição da Testemunha é a forma mais rápida de aprender a ser consciente.
O ego é muito ofendível e muito ofensivo, o Self é inofendível e inofensivo.
O mais alto ideal de autoconhecimento e auto-realização é uma aposentadoria do ego e uma afirmação do Self.
Aqueles que atingem este estágio evolutivo tratam igualmente o elogio e a acusação, não se exaltam se as coisas forem bem, nem se chateiam se forem mal.
Não desconheço que este é um objetivo muito elevado, mas não podemos nos esquecer das palavras de Einstein:
"Ninguém é capaz de conseguir isto completamente, mas o esforço para tal conquista é, em si mesmo, parte da libertação e o fundamento da segurança interior". (...)


A MEDITAÇÃO

A meditação é uma ginástica mental para treinar o "músculo da atenção".
A meditação treina a capacidade de prestar atenção.
Em vez de deixar a mente dispersar-se, a pessoa que pratica a meditação desenvolve a capacidade de perceber sutis manifestações no ambiente e de prestar atenção ao que está fazendo.
Esta habilidade possibilita, inclusive, que no relacionamento com outras pessoas, os praticantes de meditação possam estabelecer uma relação de maior empatia, porque consegue captar os sinais sutis emitidos pela outra pessoa em relação aos seus pensamentos, sentimentos e emoções.

Embora a meditação propicie um estado de relaxamento profundo, meditação e relaxamento são coisas distintas.
Como já dissemos, a meditação é o esforço para reexercitar a atenção.
Isto dá à meditação os efeitos notáveis de obtenção do conhecimento, aumento da concentração e capacidade de relacionar-se com empatia.
A meditação pode ser usada como uma técnica rápida e fácil de relaxamento, mas se distingue das outras técnicas de relaxamento em seus componentes reflexivos.

A meditação treina a capacidade de prestar atenção.
Esse efeito de aguçamento da capacidade de atenção perdura para além da sessão de meditação.
No resto do dia do praticante de meditação, este efeito aparece de diferentes maneiras.
A meditação melhora a capacidade de perceber deixas perceptuais sutis no ambiente.
Os praticantes de meditação aumentam a capacidade de prestar atenção ao que está acontecendo em vez de deixar a mente dispersar-se.

Por poder prestar mais atenção ao que a outra pessoa está fazendo ou dizendo, o meditador pode captar maior quantidade de mensagens ocultas que o outro está emitindo.
Isto aumenta a empatia, a capacidade de percepção dos pensamentos, dos sentimentos e das emoções das outras pessoas com que nos relacionamos.
A meditação melhora, portanto, a inteligência emocional, em especial nesta componente que é a inteligência interpessoal.
Obviamente, que pode também melhorar a inteligência intrapessoal, que diz respeito à percepção dos nossos próprios pensamentos, sentimentos e emoções.


PÉROLA DA SABEDORIA UNIVERSAL:
UMA VELHA FÁBULA

Um velho, passeando certo dia pela floresta, encontrou uma velha garrafa azul empoeirada.
Enquanto a limpava, surgiu da garrafa um gênio!
O gênio prometeu satisfazer todos os desejos que o velho pudesse pensar, com uma condição: se ele terminasse todos os desejos, o gênio poderia devorá-lo.
O pobre homem concordou, achando que facilmente manteria o gênio ocupado.
Seu primeiro desejo foi uma refeição.

O gênio a preparou, instantaneamente:
filas e filas de fumegantes iguarias.
Quando o pobre homem viu toda aquela comida, pensou em criados para serví-lo.
Tão logo este pensamento chegou à sua consciência, ele foi satisfeito, e assim por diante, desejo após desejo.
Pouco depois, ele estava numa bela mansão, com uma charmosa esposa e filhos.
Com dificuldade, eles mantinham ocupado.
Logo, o homem e sua esposa começaram a se preocupar, pois logo os desejos se esgotariam.

O homem se lembrou que um sábio morava numa ermida a duas horas de distância.
Ele e a esposa subiram até a ermida na esperança de que o sábio tivesse uma solução para livrá-los do gênio.
E de fato ele tinha.
Disse ao casal para construir um poste alto e dizer ao gênio que se mantivesse ocupado subindo e descendo o poste ininterruptamente.
Se precisassem de alguma coisa, poderiam apenas chamá-lo por um momento.

Comentário:
Fica claro que o gênio é uma metáfora para a nossa própria mente.
Cada minuto que a mente não esteja ativamente engajada, ela ameaça a nos devorar com ansiedades e fantasias negativas.
Subir e descer o poste é uma metáfora para o processo de respiração.
Se a mente for mantida ocupada, observando a inspiração e a expiração, ela não tem chance de nos dominar.
Esta se constitui, inclusive, em uma das técnicas de meditação.
Podemos usar a mente objetiva – o ego – como um criado, em vez de permitir que se transforme em nosso patrão.
Esta é a sabedoria de todas as antigas e modernas psicologias..
Na Baghavad Gita, encontramos a seguinte afirmação:
" O ego é um péssimo senhor, mas, um bom servidor".

Com o avanço da prática da meditação, podemos atingir a um ponto em que a atividade intelectual pode ser opção e não uma obrigatoriedade.
A meditação é o apaziguador dos movimentos da mente.
O ego é um juiz implacável que está sempre a dividir o mundo em bom e mau.
O ego avalia sempre as coisas para ter certeza de obter o que necessitamos e evitar o que não queremos.
A meditação nos coloca em contato com nosso Eu profundo, o Self, o Si Mesmo, o Núcleo Essencial, o Núcleo Interior, o Eu Interior, o Eu Superior.
Esta é uma parte da mente que não julga, mas apenas é uma Testemunha.
A Testemunha está além do ego, ela não fica presa ao julgamento, ela está bem em qualquer situação.
A Testemunha é a mente não-condicionada.
O Self, o Eu Superior, representa nosso potencial totalmente ilimitado..

A auto-realização ou auto-atualização refere-se ao fato de a pessoa se identificar com o Self, a Testemunha, o Eu Superior, em vez de se identificar com o ego.
Quando isto acontece, a pessoa entra em contato com a Grande Fonte interna de segurança, compaixão, paz e alegria, que contribui para a plenitude da vida.
Isto é o que permite a realização ou atualização do potencial interno.
Para utilizar termos da filosofia aristotélica, transformamos potência em ato, ou seja, potencial atualizado.
Isto é auto-realização.

No momento em que os desejos cessarem, a felicidade pode acontecer.
Isto acontece no momento em que a mente fica quieta, sem pensar, sem querer, sem temer.
No momento em que a mente fica totalmente absorvida e atenta.
Toda vez que a mente se encontra neste estado, totalmente absorvida, perfeitamente atenta e consciente, ela fica tranquila.
Nesta condição, você experimenta o contato com a mente não-condicionada, o Self, a Testemunha, o Eu Superior.
O Self está sempre lá, escondido atrás das agitações da mente objetiva.
A gratificação do desejo leva à calma temporária da mente.
Não é de se admirar que fiquemos com a impressão que a felicidade vem da satisfação dos desejos.
No entanto, a verdadeira paz vem do abandono da ilusão de que a satisfação de desejos dá felicidade.
A verdadeira felicidade vem do inteiro contato com o Self, a Testemunha, o Eu Superior, a Grande Fonte de paz e alegria.
Ela é chamada de paz de espírito.
Neste estado, cada momento pode ser visto como uma oportunidade de estar consciente e de viver plenamente.



Fausto Jaime
Trechos do livro 'A Revolução da Aprendizagem'


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