sábado, 18 de janeiro de 2014

AUTOLIBERTAÇÃO


art by Bruce Gueswel

Se você sofre é porque está dormindo.
Por certo a dor existe, mas não o sofrimento.
O sofrimento não é real, mas uma obra da sua mente.
Se você tem problemas é porque está adormecido.
A vida não é problemática. 
 
Você deve entender que o sofrimento não está na realidade, mas em você mesmo.
 
Por isso, em todas as religiões prega-se que é preciso morrer para o “eu”, morrer para si mesmo, para voltar a nascer.
 
Este é o verdadeiro batismo, que faz surgir o homem novo.
 
A realidade não causa problemas, mas os problemas nascem da mente, quando estamos dormindo.
 
Você mesmo é quem cria os problemas.
 
A dor existe, e o sofrimento só aparece quando resistimos à dor.
 
Insuportável é querermos distorcer a realidade. 
 
Não se deve procurar pela felicidade onde ela não está nem tomar a vida pelo que não é vida, porque assim estamos criando um sofrimento, que é apenas o resultado de nossa cegueira, e com ele a angústia, o medo, a insegurança.
 
Nada disso existe, a não ser em nossa mente adormecida.
 
Quando despertamos, tudo acaba.
 
Se você é capaz de reconhecer que está adormecido, se tem consciência de que não está acordado, já deu pelo menos um passo.
 
Pois a pior e mais perigosa manifestação  daquele que dorme é achar que está acordado e confundir seus sonhos com a realidade.
 
A primeira coisa de que alguém necessita para despertar é saber que está dormindo, que está sonhando.
 
A base do sofrimento é o desejo, o apego.
 
Quando sentimos um desejo compulsivo por alguma coisa, colocando nisso todas as nossas ânsias de felicidade, estamos nos expondo à desilusão, caso não alcancemos o que pretendemos.
 
Onde não existe esse tipo de apego, não existe medo, porque o medo é a face oposta do desejo, sendo ambos inseparáveis. 
 
Sem esse tipo de desejo, ninguém jamais poderá nos intimidar nem controlar ou roubar porque, se não temos desejos, não vamos temer que nos roubem qualquer coisa.
 
Despertar é a única experiência que vale a pena.
 
Abrir bem os olhos para ver que a infelicidade não vem da realidade, mas dos desejos e das idéias equivocadas.
 
Para ser feliz não é preciso fazer coisa alguma além de desfazer-se de falsas idéias, das ilusões e fantasias que não nos permitem ver a realidade.
 
A pessoa deve estar disponível para aceitar o que é novo a cada momento, sempre limpa de lembranças e emoções.
 
Quando nos encontramos com alguém, temos de deixar para trás todo o passado – tanto as boas como as más lembranças - para poder perceber o outro com clareza, para nos manter abertos ao seu presente, sem o relacionar com qualquer imagem, a não ser com a realidade do momento presente.
 
Vamos olhar tudo que esteja ao alcance de nossa vista, sem dar nome a coisa alguma.
Procuremos ir além do conceito e ver a realidade que existe em cada coisa.
 
Não poderemos explicar por palavras, porque não existem rótulos para a realidade.
Por isso, o místico não tem vontade de falar.
 
Como explicaria o mundo que ele descobre, vivendo na realidade que sua sabedoria desvenda?
 
Ele só nos conta parábolas, para ver se conseguimos captar sua essência.
 
A mesma coisa fazem  os poetas. Léon Felipe disse: “A distância entre um homem e a realidade é um conto”.
 
Por meio de um conto, o poeta nos faz captar a realidade, sem rótulos.
 
Não se pode narrar o que é inefável, que vai além dos conceitos, como acontece nos Evangelhos.  

Anthony de Melo 
Fonte: http://textosvaliosos.blogspot.com.br/

*Anthony de Melo foi um  padre jesuíta, nascido na Índia em 1937 e falecido nos Estados Unidos em 1987.
Ele é internacionalmente conhecido por suas obras de espiritualidade, voltadas principalmente para o despertar do ser humano.
Como padre, seu interesse maior não era a teologia,  mas ajudar as pessoas a se conhecerem e a  realizar o potencial de grandeza existente em cada um de nós.
Seguidor dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, ele também incorporou aos seus ensinamentos as técnicas de meditação hindu e budista.
Dois nomes se destacam no caminho seguido por Anthony de Melo: Krishnamurti e Carl Rogers. 
Anthony de Melo deixou sua mensagem através de uma extensa bibliografia, da qual faço referência especial ao livro "AutoLibertação."

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