terça-feira, 27 de agosto de 2013

ÁRVORES


Para mim, as árvores sempre foram os pregadores mais penetrantes.

Eu as reverencio quando elas vivem em tribos e famílias, nas florestas e bosques.

E eu as reverencio ainda mais quando elas estão sozinhas.

Elas são como pessoas solitárias.

Não como eremitas, que se perderam por alguma fraqueza, mas como grandes homens solitários, como Beethoven e Nietzsche.

Em seus galhos mais altos o mundo sussurra.

Suas raízes descansam no infinito.

Mas elas não se perdem lá; elas lutam com toda a força de suas vidas para uma única coisa: a realizar-se de acordo com suas próprias leis, para construir a sua própria forma, para representar a si mesmo.

Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar do que uma árvore, bela e forte.

Quando uma árvore é cortada e revela a sua morte ferida nua para o Sol, pode-se ler a sua história inteira no disco luminoso, inscrito em seu tronco: nos anéis dos seus anos, suas cicatrizes, toda a sua luta, todo o seu sofrimento, todas as suas doenças, toda a sua felicidade e prosperidade estão realmente escritas, os anos difíceis e os anos de luxo, os ataques resistidos, as tempestades vencidas.

E cada jovem das roças sabe que a madeira mais nobre e mais sólida tem os menores anéis, que no alto das montanhas e em perigo permanente são as árvores mais indestrutíveis, mais fortes, mais ideais, que crescem.
As árvores são santuários.

Quem sabe como falar com elas, e quem saber ouvi-las, pode aprender a verdade.

Elas não pregam a aprendizagem ou preceitos.

Elas pregam, sem se abalar, a antiga lei da vida.

Uma árvore diz: um núcleo está escondido em mim, uma faísca, um pensamento, eu sou a vida da vida eterna.


A tentativa e o risco que a mãe eterna tomou comigo é único, exclusivas as formas e as veias da minha pele, único também a menor das folhas em meus galhos e a menor cicatriz da minha casca.

Eu fui criada para formar e revelar o eterno em cada um dos meus pequenos detalhes.
Uma árvore diz: minha força é a confiança.


Não sei nada sobre meus pais, eu não sei nada sobre os milhares de crianças que a cada primavera nascem de mim.

Eu vivo o segredo da minha semente até o fim, e eu não me importo com nada além disso.

Eu confio que Deus está em mim.

Eu confio que o meu trabalho é sagrado.

É dessa confiança que eu vivo.

Quando somos feridos e não podemos mais suportar nossas vidas, então a árvore tem algo a nos dizer: atenção!

Atenção! Olhe para mim!

A vida não é fácil, a vida não é difícil.

Esses são pensamentos infantis.

Deixe Deus falar dentro de você e seus pensamentos irão crescer em silêncio.

Você está ansioso porque o seu caminho conduz para longe da mãe e do lar.

Mas cada passo e cada dia o levam de volta para a mãe.

O lar não está aqui nem lá.

Ou o lar está dentro de você, ou o lar não está em lugar algum.

Uma ânsia para vagar arranca lágrimas do meu coração quando ouço as árvores farfalhando ao vento durante a noite.

Se alguém ouve em silêncio por um longo tempo, esse desejo revela o seu núcleo, o seu significado.

Não é tanto uma questão de escapar de um sofrimento, embora possa parecer assim.

É uma saudade de casa, de uma memória da mãe, de novas metáforas para a vida.

Isso o leva para casa.

Cada caminho leva em direção a casa, cada passo é o nascimento, cada passo é a morte, cada túmulo é a mãe.

Assim, a árvore sussurra à noite, quando estamos inquietos diante dos nossos próprios pensamentos infantis: árvores têm pensamentos longos, uma respiração longa e tranqüila, assim como elas têm uma vida mais longa que a nossa.

Elas são mais sábias do que nós, enquanto nós não as ouvirmos.

Mas quando aprendemos a ouvir as árvores, a brevidade e a rapidez e a pressa infantil de nossos pensamentos alcançam uma alegria incomparável.

Quem aprendeu a escutar as árvores já não quer ser uma árvore.

Ele não quer ser nada, exceto o que ele é.

Isso é estar em casa.

Isso é a felicidade.



Hermann Hesse


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