sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ave César


Júlio César, um dos mais célebres líderes militares da história, era extremamente parcimonioso com a bebida, mas o vinho esteve por trás de sua política expansionista

divulgação
Nas histórias em quadrinhos de Asterix e Obelix, os gauleses nunca perdem uma batalha e nunca são dominados pelas legiões romanas, lideradas pelo general Júlio César.
Mas, apesar da notória resistência gaulesa, os livros de história contam um desfecho diferente para as investidas dos romanos: o domínio final de Roma de todo o território da Gália, que compreendia o noroeste da Itália e o sul da França.
Pintado no desenho animado como um "chato", que não gostava das boas coisas da vida, Júlio César era mesmo bastante comedido, especialmente com a bebida.
Aliás, naquela época em que poucos povos se organizavam em verdadeiras civilizações, não sendo apenas aglomerados de gente que falavam a mesma língua, o estabelecimento de regras rígidas para o exército - o que incluía consumo moderado de vinho - fez a diferença entre os bárbaros e os romanos.
Tanto que, com apenas 25 mil homens (este é o número que os historiadores citam, mas diz-se que depois o grupo contou com cerca de 50 mil homens), César saiu de Roma e conquistou praticamente todo o restante da Europa, chegando até a Grã-Bretanha, em apenas seis anos, logo após subjugar os gauleses comandados por Vercingetórix.
Foi após essa campanha espetacular que o nome de Júlio César ficou gravado como um dos maiores estrategistas militares da história - ele escreveu livros contando suas proezas, que futuramente se tornaram referências e seriam lidos com fervor por líderes como Napoleão, por exemplo.
Foi também depois de colocar a Europa sob domínio romano que o general ousou retornar a Roma com seu exército e se livrar de seus inimigos - fato que daria início à ruína da república, que posteriormente se transformaria num império.
César e os romanées
Mesmo comedido, César sabia apreciar belos vinhos, especialmente os do Egito e os néctares da Etiópia - que dizem ter sido apresentados a ele por Cleópatra.
Mas, o grande general, na verdade gostava era dos vinhos italianos.
Mais do que isso, o que mais lhe interessava era salvaguardar o mercado desses vinhos em todo o império que estava construindo.
Com as rotas de comércio seguras e com milhares de tribos conquistadas e romanizadas, era possível expandir a circulação de vinhos da Itália, garantindo, mais do que poderio militar, o desenvolvimento econômico necessário para manter Roma.
E os gauleses que até então estavam acostumados à cerveja de trigo ou cevada, começaram a apreciar o vinho.
Um historiador grego, Diodoro da Sicília - que viveu neste primeiro século antes de Cristo - , afirma que, contrariamente à tradição grego-latina (que misturava a bebida com água e alguns temperos), os gauleses bebiam o vinho puro - embriagando-se facilmente.
Logo o vinho se tornou uma mercadoria extremamente valorizada e os mercadores italianos chegavam a trocar uma jarra de bebida por um escravo.
Porém, não era permitido aos gauleses, ou qualquer outro povo dominado por Roma - as ditas nações transalpinas -, plantarem vinhedos ou mesmo olivais, para que os vinhos e óleos italianos fossem valorizados.
Em 52 a.C., Júlio César promulga uma lei agrária e acaba por presentear seus legionários veteranos com terras na Gália que deverão se tornar vinhedos.
Daí surgem os "romanées" na Borgonha.
O general foi instituído como o único regente de Roma, por volta de 49 a.C., quando trouxe suas legiões para perto da cidade e iniciou uma guerra civil que culminaria com a morte ou fuga de seus opositores.
César colecionou outras tantas vitórias militares e diz-se que, em comemoração às suas conquistas, em 46 a.C., ele deu banquetes públicos na cidade que reuniram cerca de 200 mil pessoas.
Foi através dos espólios de guerra - principalmente distribuindo vinho e pão ao povo quando necessário - que ele conseguiu manter a ordem em uma república em estado anárquico e, mais do que isso, acabou pavimentando o caminho para a ditadura.
Porém, Júlio César morreria pouco tempo depois, em 44 a.C.
 
 
Por Arnaldo Grizzo

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