quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O SILÊNCIO DA ALMA

 
 


Um motivo pelo qual o silêncio nos é tão perturbador é este:
 Assim que começamos a nos tornar silentes, experimentamos a relatividade de nossa mente comum cotidiana.
Com essa mente medimos nossas coordenadas de espaço e de tempo, calculamos as probabilidades e contabilizamos nossos erros e acertos.
Trata-se de um nível de consciência muito útil e importante.
 
É um estado mental tão útil e familiar que, facilmente, acreditamos seja tudo o que somos: a totalidade de nossa mente, nosso verdadeiro eu, nossa inteira significação.
 
A vida, o amor e a morte, frequentemente nos ensinam o contrário.
 
Encontramos-nos inesperadamente com o silêncio, em muitas reviravoltas inesperadas da estrada da vida, de maneiras imprevisíveis, em pessoas improváveis.
 
Sua saudação possui um efeito que é, ao mesmo tempo, emocionante, pleno de maravilhamento, ainda que, frequentemente apavorante.
 
A cada momento, nossos pensamentos, medos, fantasias, esperanças, raivas e atrações, estão todos surgindo e desaparecendo.
 
Identificamos-nos, automaticamente, com esses estados, sejam eles passageiros ou, compulsivamente recorrentes, sem pensar o que pensamos.
 
Quando o silêncio nos ensina o quão transitórios e, portanto pouco confiáveis, na verdade, são esses estados, confrontamo-nos com o terrível questionamento de quem somos nós.
 
No silêncio precisamos lutar com a terrível possibilidade de nossa própria irrealidade.
 
O pensamento budista faz dessa experiência, denominada anatman ou, o "não eu", um dos principais pilares de sabedoria em seu caminho de libertação do sofrimento e, um de seus meios de iluminação essenciais.
 
Incentiva-se o praticante budista a buscar essa experiência da transitoriedade interior e, em vez de fugir dela, mergulhar nela de cabeça, assim como fizeram, Meister Eckhart e os grandes místicos cristãos.
 
É compreensível que anatman seja a idéia budista que representa o maior problema para as outras pessoas.
 
 Tão absurdo, tão terrível, tão sacrílego dizer que eu não existo.
 
De fato, muito do antagonismo cristão ao anatman é infundado ou, fundamentado em interpretação errônea.
 
Não quer dizer que não existimos, mas, que não existimos em autônoma independência, que é o tipo de existência que o ego gosta de imaginar que tem; o tipo de fantasia de ser Deus, com que a serpente tentou Eva.
 
Trata-se da arrogância que, frequentemente, acomete as pessoas religiosas.
 
Não existo independentemente, pois Deus é o fundamento de meu ser.
 
À luz desse entendimento, lemos as palavras de Jesus no Novo Testamento, com percepção aprofundada:
"Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me..., mas, o que perder a sua vida por causa de mim, a salvará" (Lc 9, 23-24).
 
Caso, através do silêncio, possamos abraçar esta verdade do anatman, faremos importantes descobertas acerca da natureza da consciência.
 
Descobriremos que a consciência, a alma, é mais do que o fantástico sistema cerebral que computa, calcula e, julga.
 
Somos mais do que aquilo que pensamos.
A meditação não é o que pensamos.
Medite por Trinta Minutos...
Lembre-se: Sente-se.
Sente-se imóvel e, com a coluna ereta.
Feche levemente os olhos.
Sente-se relaxado, mas, atento.
 
Em silêncio, interiormente, comece a repetir uma única palavra.
Recomendamos a palavra-oração "Maranatha".
Recite-a em quatro silabas de igual duração.
 
Ouça-a à medida que a pronuncia, suavemente mas continuamente.
 
Não pense nem imagine nada, nem de ordem espiritual, nem de qualquer outra ordem.
Pensamentos e imagens provavelmente afluirão, mas, deixe-os passar.
 
Simplesmente, continue a voltar sua atenção, com humildade e simplicidade, à fiel repetição de sua palavra, do início ao fim de sua meditação.
 
Laurence Freeman
Fonte: http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textos-diversos/688-o-silencio-da-alma

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