segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O ZOHAR (VÍDEO)



Neste vídeo, explicamos sobre as origens do Zohar, "O Livro do Esplendor", sua importância para a Cabala e a importância da relação Mestre-Discípulo para que sua interpretação seja correta.

LINK DO YOUTUBE:
http://www.youtube.com/watch?v=1MiVhGXhR7o&feature=g-all

MAIS EM:
http://eternooriente.blogspot.com/2011/12/o-zohar-video.html

O ZOHAR - O Livro do Esplendor


Queria que meus dias de cão subissem e se tornassem constelação.
Digo isso a propósito do surgimento no Brasil de um livro do mais alto grau da sabedoria judaica: O Zohar – o Livro do Esplendor, publicado pela editora Polar, em 2006, com tradução de Rosie Mehoudar.

Antes de tudo, o que me encanta neste livro é seu viés poético.
Assim como a Bíblia e o Corão, o Zohar também é fonte de beleza.
Em uma das passagens, o mestre Shimon ben Yochai, a quem é atribuído o Zohar, diz a seus discípulos, sobre a forma do homem:
“Os dias que hão de constituir a vida do homem estão todos unidos no momento de seu nascimento.
Então eles descem à terra, um depois do outro, e cada um exorta o homem a não pecar em seu dia.
Quando um dia vê que o homem não o escutará, mas está determinado a pecar, ele se enche de vergonha.
Então retorna para as regiões superiores e dá o testemunho dos atos do homem.
Mas é apartado do resto de seus dias para sempre.
Entretanto, se o homem se arrepende, então o dia, que foi banido do céu devido aos pecados do homem, tem permissão para voltar.”

É uma bela passagem, sobretudo quando entendemos o pecado não apenas como ofensa aos princípios de uma moral dada por Deus.
O pecado pode ser também uma violência, física ou psicológica, executada por um ateu – que tenha pelo menos consciência do que faz – contra qualquer um.

Pode ser uma palavra, monossilábica, onomatopaica, um gesto, um grito, uma expressão de alguém a outrem, religioso ou não, que fere o acordo da convivência em sociedade.
Mesmo que se dê a isso outro nome.

O pecado pode ser um pensamento maldoso.
E neste caso, todo mundo peca, ou já pecou um dia, porque talvez não exista na face da terra alguém que já não tenha sentido passar pela cabeça, ainda que seja de raspão, uma vontadezinha de matar o pai, ou a mãe, o irmão, o tio, o cunhado, a sogra, quem sabe até o próprio cônjuge (dormindo com o inimigo).

Nem por isso existe o inferno, mas, ainda assim, e por muito menos, o diabo aparece e faz a captura.
É bom ficar atento.
Um dia inglório pode atormentar demais, daí o alto grau de sabedoria na suspensão dos dias em que se peca.

Com a leitura do
Zohar
, não serei Shimon ben Yochai, nem seus discípulos, mas espero que meu coração, um dia, seja iluminado pela luz esplêndida da sabedoria divina, essa luz trazida pelas fontes do saber, mergulhada no rio do entendimento, quem sabe, ao menos, na hora da morte, amém.
A origem do Zohar


O Zohar é considerado a espinha dorsal da Cabala, que é a parte mais secreta e mística da Torá Oral.
Por meio da Cabala aprendemos as leis que regem o espírito, segundo as quais, tudo que acontece tem alguma causa.
Aprendendo isso, aprendemos a viver melhor, porque procuramos fazer o melhor para nós e para os outros.

Esta publicação não abrange todos os ensinamentos do Zohar.
O livro é a tradução de um texto publicado em espanhol, em 1933, que, por sua vez, trata apenas de trechos traduzidos do original em aramaico pelo rabino Ariel Bension, que traz também o prólogo do consagrado escritor Miguel de Unamuno, uma das principais influências da obra de Jorge Luis Borges.

De acordo com a tradição judaica, os ensinamentos da Torá Oral teriam sido transmitidos diretamente por Deus a Adão e, posteriormente, aos patriarcas e a Moisés.
Teria ficado na oralidade não fosse o receio de que todo esse saber se perdesse por causa das perseguições aos judeus, com a proibição do estudo da Torá.

Em decorrência disso, os sábios do judaísmo resolveram compilar partes desse ensinamento e escreveram o
Talmud (interpretação de nível literal e alegórico dos textos bíblicos) e os Midrashim (conjunto de textos que compõem a interpretação de passagens do Tanak
, a bíblia judaica).

De acordo com uma das versões do surgimento do Zohar, sua compilação, já no século III d.C., coube ao rabino Shimon ben Yochai, considerado um dos “maiores homens santos da tradição judaica.”
Mas esses manuscritos teriam ficado escondidos por mil anos, até o rabino Moisés de Leon começar a editá-los, em 1290.

Há, no entanto, outra versão, segundo a qual, o Zohar não faz parte dos ensinamentos tradicionais da Torá, tendo sido criado (em aramaico, volto a frisar) apenas no século XIII, pelo próprio Moisés de Leon, que, para dar mais crédito ao feito, atribuiu os manuscritos, que nunca foram encontrados, por sinal, ao rabino Shimon ben Yochai, que aparece como o mestre que revela os segredos do Zohar aos seus doze discípulos.
A estrutura do Zohar


Pouco importa.
A grandeza do Zohar – mesmo se tratando apenas de uma pequena parte dele aqui – está em sua capacidade de abrir caminhos de entendimento, baseado numa complexa estrutura simbólica.

O livro em questão se divide em três partes principais: Revelações feitas à Grande Assembléia; revelações feitas à Pequena Assembléia; e Trechos do Zohar sobre Shimon ben Yochai e sobre seus discípulos.

O cerne da simbologia presente no Zohar está nas categorias chamadas
sefirot, plural de sefirá.
Cada sefirá simboliza uma qualidade divina.

Segundo o Zohar, Deus está acima de qualquer atributo, ou imagem ou corpo. Por esta razão, é impossível para o homem alcançar o significado da totalidade divina.
Mas há uma maneira de compreendermos parcialmente a imagem de Deus.
É que Ele se assemelha às águas, sem forma e sem limites.
“Entretanto, quando as águas estão espalhadas na terra, somos capazes de concebê-las e falar delas sob variadas formas: primeiro, há a fonte; daí o rio que brota dela e espalha suas águas sobre a terra.
Depois, a bacia, dentro da qual fluem as águas, e que formam o mar.
Então, o mar, de onde as águas correm em sete canais, fazendo dez formas no total.”

E assim, temos o quadro dentro do qual são formadas as dez
sefirot.
A primeira é a fonte, que é a Coroa (Kéter), “de onde brilha uma luz sem fim, e que chamamos o Infinito ou Ein Sof, já que não temos meios à nossa disposição para compreendê-lo.”
Depois vem o rio (Sabedoria – Chochmá), depois a bacia (Inteligência – Biná), “um vaso tão imenso quanto o mar.” Estas três categorias formam o mundo da emanação.

Em seguida, vêm os sete mares, cada um representando um atributo:

Misericórdia (
Chéssed), Justiça, ou Rigor (Guevurá), Beleza (Tiféret) – formando o mundo da criação –, Triunfo, ou Vitória (Nêtsach), Glória (Hod), Fundação, ou Fundamento (Iessód) – constituindo o mundo da formação – e, finalmente, Realeza, ou Reino (Malchut
) – o mundo da ação.

Embora essas categorias representem a Imagem de Deus, elas refletem também o divino que há no homem, uma vez que a Imagem de Deus “encerra todas as imagens de cada coisa de que estamos conscientes com todos os nossos sentidos e em todas as formas.”
É nesse sentido que o homem se aproxima de Deus, por trazer “a maior semelhança com o original.”

É interessante imaginar que há em nós uma fonte infinita de saberes, um rio de sabedoria, sete mares de atributos divinos.
Poderia dizer, por exemplo, que há em mim um mar de glória, muito embora meu espírito não esteja ao alcance da totalidade dessa imensidão.
O gênio é constituído dessas categorias, segundo a Cabala.

Abro aqui um parêntese para lembrar que foi com base nessas categorias que o crítico Harold Bloom elaborou uma lista de cem gênios da linguagem, colocando William Shakespeare na ponta da Coroa (
Kéter), que inclui mais nove nomes, entre eles Miguel de Cervantes e Michel de Montaigne.
Na categoria Fundamento, o mundo da formação, está Machado de Assis, junto com Jorge Luis Borges, Eça de Queiroz e mais sete.

Voltando ao Zohar, na introdução do livro em português, a tradutora ressalta a importância do acesso a esse saber em nossa língua e conclui dizendo esperar que o contato inicial com o Zohar “abra a porta para que seu trabalho mais complexo e amplo possa ser vertido em breve em nosso país.”

Da mesma forma que não precisamos ser crédulos para ver o lastro de valores imanentes na Bíblia, que ajudaram a fundar a cultura ocidental, não é necessário acreditar em Deus para perceber o valor do Zohar, cujas palavras, além do significado religioso e do senso moral, denotam traços de rara beleza poética e saber filosófico.


Trechos:
“Por todo o país, em volta do Mar da Galiléia, o mestre, Shimon ben Yochai, passeava com seus alunos.
Algumas vezes eram doze, outras talvez dez, esses fiéis discípulos a quem o mestre ensinava a Torá e explicava a Palavra de Deus como a haviam revelado os profetas e os mestres de Israel: a Lei Escrita conservada para toda a posteridade no livro imperecível, a Bíblia.

Ele disse a seus discípulos: ‘Infeliz é o homem que vê na interpretação da Lei a recitação de uma simples narrativa, contada em palavras de uso comum.
Se fosse só isso, não teríamos dificuldade alguma em compor hoje uma Torá melhor e mais atraente.
Mas as palavras que lemos são apenas a túnica exterior.
Cada uma delas contém um significado mais alto do que o que nos é aparente.
Cada uma contém um mistério sublime que devemos tentar penetrar com persistência.
Os que tomam o traje exterior pela coisa que ele cobre, não encontrarão muita felicidade nele – exatamente como os que julgam o homem apenas por sua vestimenta exterior estão fadados à desilusão, pois são o corpo e o espírito que fazem o homem.
Sob a vestimenta da Torá, que são as palavras, e sob o corpo da Torá, que são os Mandamentos, encontra-se a alma, que é o mistério oculto.’”

...

“O arco celeste acima deles parecia ter absorvido em si mesmo o azul profundo das águas, enquanto o mar estendia-se calmo e pacífico qual lago de prata salpicado de estrelas cintilantes.”


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